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sexta-feira, maio 13, 2011

Aula 92 do Curso Intensivo de Rock: Rage Against The Machine


Bom, mas quanto de indignação pode caber em uma música?

Se você não sabe a resposta, ouça “The Batlle Of Los Angeles” (99), terceira obra-prima do Rage Against The Machine, e você terá uma idéia muito precisa.

A forma como o mexicano-americano Zack de la Rocha berra suas letras-panfletos contra o racismo, a discriminação econômica e social, e as injustiças têm uma vitalidade sem comparação no mundo da música popular de hoje em dia.

Zacarías de la Rocha, filho de Olivia, uma mexicana com Ph.D. em Antropologia, e do ativista político chicano Beto de la Rocha, é de uma incompatibilidade brutal, ao mesmo tempo em que é extremamente engajado.

Chegou a trabalhar com o Exército Zapatista de Libertação Nacional, em Chiapas, no México, como voluntário.

Seus outros companheiros também tinham motivos de sobra pra odiarem a “máquina” do sistema.


O guitarrista Tom Morello é sobrinho do lendário Jomo Kenyatta, o líder guerrilheiro da luta pela independência do Quênia, que se tornou o primeiro presidente do país.

Seu pai lutou na guerrilha ao lado do irmão e vive no país africano.

O baixista Tim Commerford é amigo de infância de Zack e foi criado num ambiente politicamente correto.

Seu pai é um engenheiro aeroespacial e sua mãe uma especialista em Matemática, que morreu de câncer no cérebro quando Tim estava com 20 anos.

O baterista Brad Wilk era parceiro de Eddie Vedder (antes de ele fundar o Pearl Jam) e oriundo de uma família de sindicalistas ligados ao trotskismo.

O aclamado disco “The Battle Of Los Angeles” levou a banda a ser chamada de “a mais poderosa banda no rock” atual pela revista Rolling Stone.

A mistura de hip hop com a formidável máquina de barulho do RATM aponta para o que a esquerda chamava antigamente de “imperialismo ianque”, com a diferença que fazem uma espécie de guerrilha de dentro dos intestinos da indústria musical.


O termo “rage” significa, por definição, “raiva sem controle”, “ódio insano”.

“Machine”, claro, significa “máquina”, ou seja, os políticos, o governo e todos os poderosos que tentam nos controlar.

Essa máquina poderosa, também conhecida por “sistema”, dita todas as formas de limitação e repressão a nós, cidadãos comuns, tanto pelo controle da mídia como pela criação de leis absurdas que não buscam o bem comum.

O combustível dessa máquina é o dinheiro.

A partir dessa atitude inconformista, o Rage Against The Machine tornou-se mais que uma banda de rock, virou um movimento contra tudo e contra todos que agem contra os interesses sociais da população.

A banda tentava nos conscientizar, mudar nossa visão de mundo e a realidade, além de nos unir contra as classes dirigentes que nos dominam e controlam.


O RATM trazia a revolta em suas músicas, compondo as músicas mais incendiárias do planeta.

Era a última banda politizada na arena do rock, o Clash redivivo do Terceiro Milênio.

A banda foi formada em 1991, na cidade de Los Angeles.

A história começou quando Zack De La Rocha e Tim Commerford se encontraram pela primeira vez quando ainda estavam no colégio.

Zack estava na 5ª série e Tim, na 6ª série.

Eles se tornaram amigos depois que Zack ajudou Tim a abrir a embalagem de sua merenda escolar.

Tom Morello conheceu Zack quando os dois estavam em um clube onde rolava uma festa de hip hop.

Os três acalentavam o desejo de montar uma nova banda, mas faltava um baterista.

Tom então colocou um anúncio no mural da escola e Brad Wilk logo procurou o emprego.


A primeira vez que o quarteto tocou pra valer foi num quarto de um amigo de Tim.

A banda tocou “5 ½”, uma das primeiras músicas que haviam composto, e o resultado foi tão bom que se viram obrigado a repetir a mesma música inúmeras vezes.

Em linhas gerais, o RATM emula uma mistura de hardcore melódico com rap, dominado pela violência dos riffs e das batidas pesadas.

O vocalista Zack De La Rocha já tinha fundado uma banda chamada Inside Out e tirou o nome “Rage Against The Machine” do segundo álbum do Inside Out (que não chegou a ser lançado).

A primeira apresentação pública do RATM foi em uma sala em Santa Ana, no Orange County, um dos 58 condados da Califórnia.

Na sequência, a banda gravou uma fita demo de 12 músicas, a qual incluía a música “Bullet In The Head”, depois lançada no primeiro álbum da banda.

As músicas que compunham esta fita demo eram básicamente as mesmas que entraram no álbum de estréia da banda.


Eles conseguiram vender 5 mil cópias da demo para o seu fã clube e em vários shows na região de Los Angeles.

Algum tempo depois, o RATM foi convidado para abrir um show para Porno For Pyros e convidados para tocar em dois shows no segundo palco no Lollapalooza II, em Irvine Meadows, California.

Executivos da gravadora Epic que estavam no local gostaram da música dos moleques e lhes ofereceram um contrato.

Em outubro de 92, o RATM fez uma turnê pela Europa abrindo shows para o Suicidal Tendencies.

Logo após a turnê acabar, o primeiro álbum da banda, chamado “Rage Against The Machine”, foi lançado em 10 de novembro de 1992.

O grande carro-chefe do disco foi a música “Killing In The Name”, um protesto contundente contra o militarismo americano.



O álbum vendeu mais de 1 milhão de cópias e esteve no Top 200 da Billboard por 89 semanas, alcançando como melhor posição a de nº 45.

O jornalista Timothy White, editor-chefe da Billboard, não poupou elogios: “Pela dureza desse álbum, eles tem que ser vistos como uma das mais originais e talentosas bandas de rock novas do país”.

Por causa das letras de protesto e de sua atitude de enfrentamento das forças da repressão, a banda foi censurada e ficou proibida de fazer shows em vários estados americanos.

No frigir dos ovos, a estúpida censura ao RATM acabou servindo para divulgar ainda mais o trabalho e a mensagem que eles buscavam passar através de sua música.

Para os moleques raivosos, essa guerra declarada contra todas as formas de opressão não era apenas mais um modismo passageiro. Muito pelo contrário.



Em 93, na turnê americana que fizeram junto com a banda House of Pain, eles tocaram em vários shows beneficentes, como “Headlining Anti-Nazi League Benefit” e o “Rock for Choice Benefit”.

No mesmo ano, o recrudescimento da censura levou o RATM a fazer um protesto bem-humorado no palco principal do Lollapalooza III.

Sem tocar uma única nota, os músicos resolveram dar um chega pra lá na organização conservadora “PMRC (“Parents Music Resource Center”).

Durante 14 minutos, cada membro da banda ficou de pé, nu em pelo, com uma fita crepe tapando a sua boca e as letras “P”, “M”, “R” e “C” escritas com pincel atômico no peito de cada um.

A mensagem era clara: “Se nós ficarmos calados e não nos rebelarmos contra a ação da censura, daqui a pouco não teremos nem o direito de ver outras bandas como o Rage tocando em locais públicos”.

O quarteto foi ovacionado delirantemente pela multidão de jovens presentes no local.



Em dezembro de 93, o clip de “Freedom” foi premiado no programa “120 Minutes” da MTV.

O video, dirigido por Peter Christopherson, contém imagens de shows e cenas do documentário “Incident at Oglala” (1992), além de textos do livro de Peter Matthiesen “In The Spirit of Crazy Horse”, que conta a história do ativista indígena Leonard Peltier.

Em fevereiro de 94, o clipe “Freedom” se tornou o nº1 nos EUA.

No mesmo ano, o RATM participou de dois shows beneficentes pela causa de Leonard Peltier.


Filho da nação Sioux e membro do Movimento Indígena Americano, Peltier é considerado pela Anistia Internacional um prisioneiro político ameríndio, que está preso por causa da sua luta pelo direito dos povos nativos.

Desde 1977, o governo dos EUA mantém o seu encarceramento arbitrário embora o Ministério Público Federal já tenha admitido em várias ocasiões que não sabe quem é o autor dos crimes atribuídos ao líder indígena.

Peltier é acusado de ter matado dois agentes do FBI, na Reserva de Oglala, quando estes procuravam um jovem índio acusado de ter roubado um par de botas de um vaqueiro.

Houve troca de tiros, mas ninguém sabe quem atirou primeiro.

No final do tiroteio, os dois agentes e o jovem índio estavam mortos.


Levado a julgamento, Leonardo Peltier recebeu duas sentenças de prisão perpétua sucessivas em uma penitenciária federal, embora não haja nenhuma evidência de que seja culpado de alguma coisa.

“Sou culpado por ser índio”, declara Peltier.

O primeiro concerto visando levantar fundos para ajudar na defesa do ativista indígena foi organizado pelo próprio RATM, se chamava “For the Freedom of Leonard Peltier” e contou com a participação do Cypress Hill e Beastie Boys.

O segundo, foi organizado pelo “Latinpalooza” e, além de beneficiar Leonard Peltier, também angariou recursos para as ONGs “United Workers” e “Los Ninõs del Futuro”.

Os dois concertos aconteceram na Califórnia.

Envolvidos com essas bandeiras de luta e mantendo um exaustivo calendário de shows, eles ficaram tão ocupados que não tinham mais tempo nem de se falarem fora do palco.


Depois de três anos de turnê, levando sua mensagem ultra-esquerdista, o Rage Against The Machine encheu o saco e tirou férias.

O vocalista e letrista Zack De La Rocha foi visitar os zapatistas, aqueles revolucionários mexicanos de Chiapas e o guitarrista Tom Morello voou para o Quênia, na África, onde mora seu pai, um ex-guerrilheiro.

Findo o cessar-fogo, ambos, mais o baixista Timmy C. e o baterista Brad Wilk decidiram que a revolução estava acima de tudo e resolveram se aguentar uns aos outros para gravar e lançar “Evil Empire”, que chegou às lojas em abril de 1996 e estacionou direto no 1º lugar da revista Billboard.

O álbum não traz canções brilhantes, mas mantém a pegada pesada e áspera, resultado da mistura de Black Sabbath, Led Zeppelin, intuição funk e vocal rapper e raivoso.

Confira “Down Rodeo”, contra a exploração dos trabalhadores, “Bulls On Parade”, contra o exército, e “People Of The Sun”, homenagem aos zapatistas.



O disco também trazia críticas demolidoras tanto ao governo corrupto de Ronald Reagan quanto à relação incestuosa dos EUA com a ex-URSS.

No ano seguinte, Tom Morello estava no meio das 33 pessoas presas por obstruírem o acesso a um shopping durante um protesto contra a “Guess?”, uma famosa marca de jeans.

O pano de fundo era denunciar o trabalho escravo de trabalhadores de Calcutá, na Índia, onde os caríssimos jeans estavam sendo confeccionados.


Em janeiro de 1999, o RATM organizou um show beneficente para Mumia Abu-Jamal, o ex-líder dos Panteras Negras da Filadélfia que está há vários anos no corredor da morte, acusado falsamente de matar um policial branco na cidade.

Em junho, o RATM participou do “Tibetan Freedom Concert”, para protestar contra a ocupação daquele país pelos chineses.

Na sequência, eles lançam o terceiro álbum, “The Battle Of Los Angeles”, em duas versões, uma australiana (outubro de 1999) e outra mundial (novembro de 1999).

A diferença básica entre as duas versões está na música “No Shelter”, parte da trilha sonora do filme “Godzila”, que é encontrada na versão australiana, mas ficou de fora na versão mundial.

A batalha de Los Angeles é mais que uma aula de sinceridade política. É de uma eficiência brutal.

O guitarrista Tom Morello, graduado em Sociologia em Harvard, faz a guitarra pegar fogo em canções como “Sleep Now In The Fire”, a mais virulenta das canções do disco.

Envolvidos até a medula em causas como a libertação de Abu-Jamal, eles usam a música como instrumento de uma luta particular.



“Born Of A Broken Man” tem o efeito de uma bomba de nêutrons nos ouvidos domesticados por Kid Rocks e outros nerds do hip hop.

“Maria” vem com um zumbido de protesto, como um panelaço acima das palavras cuspidas por Zack em ritmo de metralhadora.

A guerrilha havia chegado à música e o rock agora usava roupas de camuflagem com armamento pesado.

Em 2000, depois de nove anos, três discos e 12 milhões de cópias vendidas, o RATM implodiu.

“Sinto que é necessário abandonar o Rage, pois não estávamos mais conseguindo tomar decisões conjuntas”, disse Zack de la Rocha em um depoimento para a imprensa. “Não estamos mais funcionando juntos como um grupo e eu acredito que a situação está destruindo nossos ideais políticos e artísticos. Estou muito orgulhoso de nosso trabalho, como ativistas e como músicos, assim como estou grato a cada pessoa que expressou solidariedade e dividiu essa incrível experiência conosco”.

O quarto disco da banda, “Renegades”, lançado alguns meses depois, não foi planejado.



A banda havia anunciado um álbum ao vivo, no início de 2000, mas, em seguida, o vocalista Zack de La Rocha caiu fora.

E, de repente, os fãs encontravam nas lojas um novo disco de estúdio deles.

O que virou o quarto CD do RATM surgiu como uma sessão de covers, gravados para completar o número de faixas nos futuros compactos do álbum ao vivo.

Só que, quando o trabalho começou com o produtor Rick Rubin, a oportunidade foi bem aproveitada.

Por meio dessa coleção de faixas engajadas, o vocalista despede-se em alto estilo, gritando e esperneando com clássicos de rock e rap.



A coleção irada inclui hinos dos anos 60, como “Maggie’s Farm” (Bob Dylan), “Street Fighting Man” (Rolling Stones) e “Kick Out The Jams” (MC5), punk autêntico, como “In My Eyes”, do Minor Threat, e hip-hop das antigas, como “Microfone Fiend”, de Eric B e Rakim, e “Renegades of Funk”, de Afrika Bambaataa.

Tem ainda Bruce Springsteen, Devo, Cypress Hill, Volume 10 e Stooges.

Tudo é tocado com raiva e urgência, como se fossem faixas recém-compostas e, algumas vezes, até superando o original.

Há tropeções, claro, mas são conseqüências da ousadia de se gravar material tão diverso.

O impressionante é a unidade de som e espírito que a banda encontra nesse caótico repertório.

O RATM conseguiu inventar seu próprio estilo, copiado à exaustão sem nunca ser captado de verdade pelos aspirantes a limp bizkits.

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