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terça-feira, maio 17, 2011

Aula 74 do Curso Intensivo de Rock: Slayer


Em 1981, em Los Angeles, o guitarrista Kerry King e o baixista chileno Tom Araya, que haviam tocado juntos em algumas bandas de quinta categoria, se juntaram a um outro guitarrista, Jeff Hanneman, e ao baterista cubano Dave Lombardo, para montar uma banda de metal com influência punk.

Em 1982, já batizados de Slayer (“Assassino”), eles começaram a se apresentar no circuito de clubes de Los Angeles tocando covers de bandas como Iron Maiden e Judas Priest.

A maneira de tocar dos caras, entretanto, era muito mais agressiva, rápida e barulhenta.

O Slayer foi uma das bandas responsáveis pela evolução do heavy metal para os estilos thrash e death metal.

Em 1983, a banda foi descoberta por Brian Slagel, presidente da gravadora Metal Blade, quando se apresentava em uma espelunca.

A convite do empresário, o Slayer gravou a música “Aggressive Perfector” para a coletânea “Metal Massacre III”, obtendo um razoável sucesso.

No mesmo ano, o Slayer foi contratado pela Metal Blade e lançou o seu primeiro disco, o cultuado “Show No Mercy”.

Ao lado de “Kill’em All”, do Metallica, lançado praticamente na mesma época, o disco do Slayer marca o nascimento do thrash metal, que vai se transformar na trilha oficial dos adolescentes brancos de classe baixa.

Mas, ao contrário do Metallica, o Slayer sempre adotou abertamente os temas satânicos nas letras e capas dos discos desde o início da carreira.



Em 1985, foi lançado o segundo LP, com o sugestivo nome de “Hell Awaits”.

Uma excelente vendagem de mais de 100 mil cópias despertou a atenção de grandes gravadoras e eles logo seriam contratados pela Def Jam Records, gravadora até então responsável apenas por artistas de rap e hip hop.

A estréia pela nova gravadora se daria com o maior clássico do Slayer, “Reign In Blood”, um dos álbuns mais rápido da história do rock.

Superando todas as expectativas, o álbum chegou a disco de ouro nos Estados Unidos, fato inédito até então para um disco tão pesado e agressivo.

A carreira do Slayer foi meteórica porque o som dos caras, apesar de selvagem, era uma das coisas mais simples da história do rock’n’roll: uma levada de baixo/ bateria ultraveloz e guitarras ensurdecedoras, tudo servindo de moldura para um dos vocais mais cavernosos do thrash.
A aproximação do grupo com Rick Rubin (produtor do Run DMC e do Public Enemy), a partir do disco “Reign In Blood”, transformou-o numa das bandas mais barulhentas do planeta.

Lançado em 86, “Reign In Blood” trazia o Slayer na sua melhor forma, com os diabólicos guitarristas Kerry King e Jeff Hanneman, Tom Araya no baixo e vocal e o tremendo baterista Dave Lombardo (hoje no grupo thrash Grip Inc. e no Fantomas, do ex-cantor do Faith No More Mike Patton), tirando um som impecável na técnica e rapidez.

Dave Lombardo comentou certa vez sobre a predileção de todos eles por hardcore – não o do Green Day ou Rancid, que receberam essa nomenclatura recentemente, mas o punk rock seco e cru dos anos 70 e 80, de gente como o Circle Jerks e o GBH –, o que foi confirmado anos depois com o álbum de covers “Undisputed Attitude”, de 1996, um protesto contra o mau uso do nome.



Em “Reign In Blood” a veia hardcore se misturou ao sangue sujo de speed metal e deu no que deu: um disco de raro impacto nos ouvidos, que fez com que outras bandas à época consideradas ferozes soassem inofensivas como o Abba.

Fora a maldade natural dos integrantes, outro fator que contribuiu para tamanho peso foi a produção do barbudão Rick Rubin.

Ele manteve toda a sujeira e ainda conseguiu dar definição a todos os instrumentos.

As canções “Angel Of Death” (com alusões ao infame carrasco nazista Joseph Mengele) e “Raining Blood” garantem uma fratura exposta na cervical de tanto sacudir a cabeça.

“Necrophobic”, “Jesus Saves” e “Criminally Insane” consagram o estilo slayeriano que causou tanto estrago.

As letras gritadas por Araya são típicas de adolescentes que querem chocar os avós e, ouvidas hoje em dia, podem parecer meio bobas. Mas isso não importa.

O Slayer é um dos poucos que, até hoje, se mantêm irredutíveis na maneira de sonorizar o apocalipse, mandando à merda toda e qualquer concessão musical.

Desde o primeiro álbum “Hell Awaits”, a banda vem recebendo adjetivos que acabam por definir o estágio do metal na ocasião dos lançamentos.

Já foi speed, quando a velocidade era a novidade, thrash, quando o ritmo virou uma pancadaria, death, quando a temática e os urros demoníacos sobrepujaram o restante.

Mas tudo isso já podia ser conferido no disco de 83, veloz, thrash, satânico.

Apesar da excelente vendagem de “Reign In Blood” e dos shows cada vez mais lotados, os desentendimentos entre Dave Lombardo e o resto da banda começaram a aflorar.

Em 1987, Dave abandonou o grupo por um curto período de tempo, sendo substituído por Tony Scaglione (que havia tocado com a banda Whiplash).

Dave voltou poucos dias depois.



O disco “South Of Heaven”, de 1988 foi uma decepção para os fãs que esperavam um novo petardo ao estilo de “Reign In Blood”.

O som estava mais lento, mais pesado e, definitivamente, bem diferente.

As letras começavam a abandonar a temática restrita do satanismo e abordar temas como aborto, guerra, evangelismo e nazismo (motivo de problemas constantes para a banda, constantemente associada a movimentos racistas, inclusive por usar uma águia de ferro como um de seus símbolos).

A agenda mais politizada e atual se confirmaria no próximo lançamento, “Seasons In The Abyss”, de 1990, o primeiro álbum da banda a alcançar um disco de platina.

Após o lançamento do disco, o Slayer embarcou para a clássica turnê Clash Of Titans, juntamente com Megadeth, Anthrax, Testament, Suicidal Tendencies e Alice In Chains.

Nesta turnê surgiram alguns desentendimentos entre Slayer e Megadeth.

Em 1991, Rick Rubin produziu a hecatombe nuclear chamada “Decade Of Agression”, que aportou nas lojas e pirou meio mundo.

Louco de pedra, o produtor mixou as guitarras mais secas do que nunca e totalmente na cara, deixando baixo e bateria funcionarem como um trovão ao fundo.

O repertório tirado de três shows da turnê Clash Of Titans incluía petardos de todos os discos anteriores da banda: “Hallowed Point”, “Born Of Fire”, “Hell Awaits” e “Chemical Warfare”.

Remasterizadas, as músicas se transformaram em uma espiral vertiginosa de poder, peso e velocidade nunca dantes imaginado.



A música “Dead Skin Mask” era uma homenagem a Hannibal Lecter (o canibal de “O Silêncio dos Inocentes”).

O mortífero “Reign In Blood”, continuava sendo uma violência sônica pra acordar as legiões de demônios adormecidos na alma de qualquer um.

O instigante “Season In The Abyss”, uma fantasmagórica interpretação do inferno de Dante Alighieri.

Realmente era impossível não se divertir com as pedradas sonoras desferidas por Tom Araya e sua legião satânica.

Enquanto o Metallica atingiu o sucesso multiplatinado ao abrandar a música, Slayer mantinha-se fiel à fórmula, concentrando-se em tocar cada vez mais rápido e pesado.

Por isso, sobreviveu aos modismos e consagrou-se como a representação física do que é o metal extremo.

No início de 1992, os constantes desentendimentos que vinham se acumulando entre Dave Lombardo e a banda levaram à demissão do baterista (que pouco mais tarde formaria a banda Grip Inc).

Paul Bostaph, da banda Forbidden, foi chamado para o posto.

Com a nova formação, ele se apresentaram no Donnington Monsters Of Rock Festival daquele ano.



Em 1993, após um período de pouca produção (sem gravações de estúdio e sem shows ao vivo) a banda gravou com o rapper Ice T um medley de covers da banda punk Exploited para a trilha sonora do filme “Jugdment Night”.

Em 1994, foi lançado “Divine Intervention”, cuja capa controversa mostrava um fã escrevendo no braço o logotipo do Slayer com uma navalha, prova da devoção cega de alguns fãs à banda.

O álbum “Undisputed Attitude” levou adiante a idéia de gravar tributos às bandas punk que haviam influenciado a carreira do Slayer.

Após as gravações, o baterista Paul Bostaph abandonou a banda por diferenças musicais, sendo substituído por Jon Dette (que havia tocado com o Testament).

Paul retornaria ao grupo em 1997.

Em 1998, o Slayer lançou “Diabolous in Musica”, que chegou cercado por uma inusitada expectativa comercial.



Seria esse o disco capaz de popularizar a paulada da banda?

“Hell, no!”, dizem as faixas.

“Diabolus In Musica” é metal sem desculpas.

Não vem acompanhado de adjetivo capaz de transformá-lo em subgênero.

É metal em forma pura, sem uma balada sequer – ao contrário do que virou norma nos discos do Metallica.

A testosterona e a raiva disparam na primeira batida de pratos de Paul Bostaph e só baixam no último acorde do baixista e vocalista Tom Araya, 40 minutos e 25 segundos depois.

Um segundo a mais seria tortura demais.

Com uma capa inspirada na imagem de Anton La Vey, papa da igreja satânica, e fotos de massacre de filmes de horror no encarte, Slayer continua um clichê de si mesmo.

Há poucos sinais de progressão em “Diabolus In Musica”.

Na verdade, a banda regride em relação a “Divine Intervention”, de 1994, que tentou aliviar a paulada.

Para os fãs conservadores do metal, o que parece aumento de barulho soa como alívio.

O grupo já foi chamado de thrash, death e black metal, mas existe uma palavra que melhor explica seu estilo: “agressivo”, na definição do cantor e baixista Tom Araya.



Já são 20 anos de agressividade.

Desde que o Slayer surgiu, o metal passou por diversas mudanças, boa parte conseqüência de discos do próprio grupo.

“Black, death, thrash, qual é a diferença entre esses rótulos?”, perguntava Araya. “É tudo música intensa, metal extremo”.

O título do disco em latim foi inspirado numa escala musical condenada na Idade Média por despertar emoções malévolas.

“Sem saber, a gente usava essa escala nas nossas músicas”, explicou.

Um dia, um jornalista chamou-lhes a atenção para essa história.

“Quem diria, fazemos mesmo a música do diabo”, ironizou Araya.

As músicas do Slayer têm dois temas básicos: assassinos e o fim do mundo.

Araya compara as letras a romances.

“É como se escrevêssemos nossos contos de mistério em que acontecem assassinatos”, explica. “Não é diferente do que Hollywood faz com filmes sobre serial killers...”



Bem-humorado, Araya diverte-se com quem leva o satanismo do heavy metal a sério.

Ele só não brinca com um tema: o Armageddon.

Às vésperas do novo milênio, ele ajudou a divulgar a tese de que o fim estava próximo, baseado nas profecias de Nostradamus.

“Escrevi duas músicas sobre 1999 no álbum”, adiantou, na época de lançamento do novo disco. “Os eventos que culminam na vinda do anticristo devem iniciar por essa época”.

Essa mensagem ganha acompanhamento bombástico na forma de thrash metal assustador.

Slayer é incapaz de fazer baladas românticas como seus contemporâneos bem-sucedidos do Metallica.

Sua música não acompanha as últimas tendências, voltando-se a um grupo fiel de adolescentes que se recusa a cortar o cabelo e abandonar as camisetas pretas.



Com isso, não vende tantos discos quanto seus desafetos.

“Metallica vende milhões, mas ninguém gosta deles”, exagera Araya. “Se se saem bem assim, mais poder para eles.”

Para o vocalista, o Metallica acabou no álbum “... And Justice for All”.

“Eu nunca gravaria músicas diferentes só para tocar no rádio”, afirma Araya. “Para começar, nunca dependemos das rádios”.

Depois de tanto tempo, seria normal que a banda se cansasse de explorar os temas da guerra, morte, assassinato, hipocrisia religiosa e encarnações demoníacas.

Mas que nada.

Slayer continua a conjurar riffs malévolos e fascinação por temas mórbidos.

Como parâmetro, “Desire”, a faixa mais comedida de “Diabolus In Musica”, traz o ponto de vista de um assassino.

Como novidade, surge um aceno à nova geração, em especial ao Korn, nas faixas “Stain Of Mind” e “Death’s Head”, em que Araya assume empostação de rapper e deixa seu baixo soar acima dos demais instrumentos.

Fora isso, “Diabolus In Musica” é exatamente o que o fã espera de um disco do Slayer: uma recusa poderosa à evolução – o que explica a permanência do produtor Rick Rubin no controle da gravação.

Rubin acompanha a banda desde 1986, quando a contratou para o selo Def Jam.

Para o metal extremo, evolução ainda soa como ameaça de extinção.

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