Por Míriam Leitão
Tudo está junto. Pessoas
revoltadas com a conversa entre o presidente Michel Temer e o empresário
Joesley Batista, os que sempre foram contra o governo Temer e os que detestam a
reforma da Previdência. É preciso separar os indignados e entender algumas urgências
do país.
Em nome do ajuste fiscal e da
desejada retomada do crescimento, é possível fingir que o Brasil não ouviu o
que foi conversado no porão do Jaburu? Não. A economia não pode dominar a cena
como uma ditadora diante da qual tudo tem que ser imolado. Principalmente os
princípios.
O que aconteceu naquele porão tem
a ver com as raízes do Brasil. O patrimonialismo é doença antiga. Ele trata
interesses privados como se públicos fossem. Joesley, codinome Rodrigo,
atravessou aquela portaria sem deixar registro e sem mostrar documento. Entrou
com a força do seu dinheiro.
Dinheiro que viveu o milagre da
multiplicação nos governos do PT, quando o empresário foi adulado pelas
operações do BNDES. Elas eram de duas formas: financiamentos e equities. Todas
as compras no exterior foram realizadas com dinheiro do banco público, sobre o
qual não se pagavam juros. Era equity, uma operação em que o braço de
participações societárias do banco investiu recursos em debêntures que depois
viram ações.
A empresa dos Batista não
desembolsou um tostão quando virou dona, por exemplo, da Pilgrim’s Pride
Company, uma processadora gigante de frango nos Estados Unidos. Todo o dinheiro
foi do banco público. Todos os empregos criados foram nos Estados Unidos. E de
onde saem os recursos do BNDES? Do Fundo de Amparo ao Trabalhador ou da dívida
que o Tesouro faz em nosso nome. É nosso, o dinheiro.
Com operações assim, no governo
do PT, Joesley ficou muito mais rico do que era e comprou, entre outras coisas,
o jato de 20 lugares no qual acomodou a família e foi para Nova York depois de
fazer a delação. Por ser o maior doador das campanhas eleitorais, ele entrou
furtivamente no Jaburu. Lá a conversa sussurrada foi desastrosa.
Ontem pessoas saíram às ruas.
Algumas contra a corrupção. Outras porque são contra o governo Temer desde o
início. Ou porque defendem o governo anterior, aquele que enriqueceu ainda mais
Joesley e seus irmãos, ou porque são contra a reforma da Previdência. Sério. A
reforma é necessária. E continuará sendo.
O governo Temer pode acabar por
morte súbita, mas esse encontro com a verdade da arrecadação e da demografia
continua marcado. Esta é a hora de separar os motivos da indignação contra o
momento presente e olhar os objetivos permanentes.
O governo Temer pode acabar, mas
o dilema de ajustar as contas públicas para que as despesas caibam no volume de
impostos que estamos dispostos a pagar continuará conosco. É inevitável.
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