Por Jefferson Peres
No Reino das Náiades não podiam faltar os esportes
aquáticos. O remo era praticado intensamente por três clubes, bem equipados e
que mantinham acirrada rivalidade. O Clube do Remo, antigo Ruder, fundando por
alemães, tinha sua garagem num flutuante no Igarapé de Manaus, ao qual se tinha
acesso através da Passagem Cabral. O Amazonense ficava à margem do rio Negro,
no começo da Joaquim Nabuco. E o Náutico tinha sua sede também na orla do rio
Negro, mas no início da Sete de Setembro.
Praticavam- se várias modalidades, como skiff, canoa e
out-rigger. Na Semana da Pátria realizavam-se as provas do Campeonato Estadual,
que tinham lugar na baía do Rio Negro, tendo como ponto de partida uma bóia em
frente aos coqueiros de São Raimundo, e, como linha de chegada, flutuadores
colocados em frente ao roadway. O cais ficava tomando por um grande público,
que vibrava muito com a disputa.
Entre os praticantes, consigo lembrar de Walmir Robert, mais
tarde Desembargador, e Simão Abnader, que remavam pelo Amazonense, e Francisco
Reis Filho, o Chiquito, depois advogado, que defendia as cores do Náutico.
Havia também equipes femininas, mas não me ocorre o nome de nenhuma das moças
que, surpreendentemente, praticavam esse esporte em época tão distante.
Além do remo, esses clubes cultivavam o Water-Pólo, em raias
armadas ao lado das garagens, e chegaram a formar boas equipes, que disputavam
em pé de igualdade com times de navios-escola como o Almirante Saldanha,
brasileiro, e o Apollo de bandeira inglesa. Lamentavelmente, esses clubes não
sobreviveram. O Amazonense se acabou quando uma ventania derrubou a sua
garagem. Os outros foram derrubados pelo vendaval do tempo.
Naquele tempo existiam apenas duas piscinas de águas
paradas, em Manaus, a do estádio General Osório e a do stand de tiro, ambas do
27° BC e nenhuma olímpica. Isso não prejudicava a natação, que era muito
praticada nos balneários e no rio Negro. Este era utilizado para provas de
resistência por grandes nadadores, como Adalberto, mais conhecido como Morcego,
e Miguel Barrela, mais tarde médico e advogado, que em várias oportunidades fez
a travessia do rio, para espanto de muitos, que jamais poderiam supor se fosse
o Barrela, com o seu físico de triatleta, capaz de semelhante feito.
As provas de velocidade, não muito frequentes, eram
disputadas na piscina do General Osório, inadequada pelas suas dimensões. A
natação era praticada mesmo, em grande escala, como lazer, nos balneários, ou
banhos, dos arredores da cidade, e até nos igarapés do centro, como o da
primeira e segunda ponte, bem como o de São Vicente.
Os balneários eram muitos, como a Pomerânia, a Chapada
Síria, o V-8, o Igarapé do 40, o então distante Tarumã, e principalmente, acima
de todos, o Parque 10 de Novembro, a grande piscina de água corrente,
construída com o represamento do Igarapé do Mindú, que Antônio Maia legou à
cidade quando prefeito.
Era o ponto de encontro da população, nas manhãs de domingo,
quando ficava cheio de casais, mulheres bonitas e crianças num ambiente
puramente familiar. Era também procurado por grandes nadadores, como o Húngaro
– nunca conseguir saber o seu nome – um gringo louro, de peito protuberante,
que ficava a nadar da ponte à represa, e desta até aquela, quase a manhã
inteira, numa incrível demonstração de resistência.
Mas, além da piscina, o Parque 10 oferecia, ainda, como
segunda opção, cerca de duzentos metros da represa, o Sanatório, um recanto em
estado natural, onde as águas se aprofundavam e o sol não penetrava, barrado
pela copa das árvores, que se fechavam no alto e nas quais subíamos para
saltarmos no igarapé.
O Parque 10 era também o local preferido das nossas gazetas.
Inexistindo ônibus e sem dinheiro para o carro, íamos até lá de bonde e a pé,
por duas vias de acesso. Por Adrianópolis, onde saltávamos na praça N. S. de
Nazaré, caminhando cerca de dois quilômetros pela Recife, então estrada de
terra batida. Ou então, pegávamos o bonde das Flores e saltávamos em frente à
Chapada, seguindo pela estrada do Mindu, hoje avenida Darcy Vargas.
A caminhada era longa, se bem que divertida, porque íamos
entrando nos terrenos e colhendo magas, jambos, tamarindos, ingás e, quando não
tinha outra coisa, até tucumã-babão. Mas o bom mesmo era tomar banho no Parque
10, com suas águas cor de chá, transparentes, que deixavam ver a areia do
fundo. E tão ricas de oxigênio que as piabas, ariscas, chegavam até nós, em
cardumes, atraídas pelo miolo do pão que lhe atirávamos.
Hoje, é com prazer que me banho em assépticas piscinas de
cloradas águas azuis. Mas, não posso deixar de sentir saudade dos mergulhos em
águas douradas e correntes, com os peixinhos nadando ao meu lado.
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