Por Augusto Nunes
A mudança que transferiu Osmar Serraglio para o Ministério
da Transparência e instalou Torquato Jardim no Ministério da Justiça pode
parecer aos desinformados outra troca de seis por meia dúzia. Engano. O que fez
o presidente Michel Temer foi trocar o zero pelo 171. Serraglio, que nunca
existiu como ministro, agora está numa ministério inexistente. Torquato
melhorou de endereço para reforçar a tropa que insiste em deter o avanço da
Operação Lava Jato.
Em maio de 2016, numa entrevista a um jornal do Piauí, o
agora ministro da Justiça formulou quatro perguntas, abaixo reproduzidas, para
provar que a mais bem sucedida ofensiva anticorrupção da história do Brasil não
passa de uma irrelevância inconsequente. Confiram:
1) O que mudou com o impeachment de Fernando Collor?
2) O que mudou depois da CPI do Orçamento, quando os sete
anões foram cassados?
3) O que mudou com o Mensalão?
4) O que vai mudar com a Lava Jato?
Vamos desenhar. Ao livrar-se de Collor, o Brasil substituiu
um caso de polícia por um insuspeito Itamar Franco, cujo governo, com Fernando
Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda, instituiu o Plano Real, domou a
inflação estratosférica, impôs a responsabilidade fiscal e deixou o país pronto
para um sucessor provido de cinco neurônios.
Depois da CPI do Orçamento, o Congresso ficou com sete
delinquentes a menos.
A devassa do Mensalão ensinou que, além de pobres, pretos e
prostitutas, as cadeias têm vagas para meliantes da classe executiva, como José
Dirceu, José Genoíno ou Delúbio Soares.
A quarta pergunta induz à suspeita de que Torquato mora em
outro planeta. A Lava Jato já mudou o Brasil.
O balanço dos três últimos anos informa: já não há
condenados à perpétua impunidade, presídios existem para hospedar também
ex-presidentes, camburões espreitam a turma do foro privilegiado, figurões da
política e do empresariado cabem em celas e beliches. Fora o resto.
Tudo somado, o povo aprendeu que os corruptos e seus
defensores não têm musculatura para deter a devassa das catacumbas. Se tentar
sabotar a Lava Jato, o ministro Torquato será despejado do novo gabinete antes
de decorar o ramal da secretária.
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