Por Deonísio
da Silva
Durante
dois milênios não houve Papai Noel, e o Menino Jesus reinou triunfante no
Natal, sem avós, sem tios, sem quaisquer outros parentes, nem amigos, acolhido
e cuidado apenas por sua mãe e seu pai, rodeado de animais num estábulo,
entretanto saudado por anjos e visitado por reis.
Em
presépios medievais, o número de soberanos passou de duzentos, dando a ideia de
que monarcas de todo o mundo foram visitar aquele que seria o rei dos reis.
Mas por
que tudo mudou tanto? Machado de Assis pergunta em célebre soneto: “Mudaria o
Natal ou mudei eu?”. Tudo mudou primeiramente porque os evangelhos, incluindo
os apócrifos, inventaram um outro Jesus.
As
festividades de Natal surgiram apenas no século III. Mandatários cristãos
fizeram coincidir o nascimento de Jesus com uma grande festa pagã, realizada em
dezembro, no solstício de inverno (no hemisfério norte; no hemisfério sul é
solstício de verão), tornada oficial pelo imperador romano Aureliano para
homenagear o deus Solis Invictus, o Sol Invencível.
A Igreja
procurava fazer as pazes com o poderoso Império Romano que tanto a perseguira
no passado, mas do qual tornara-se promissora aliada, como demonstraria no
século seguinte, a partir do reinado de Constantino, o Grande.
Jesus
nascera em Belém porque Maria, já nos últimos dias da gravidez, viajava em
companhia do marido para atender ao recenseamento ordenado pelo imperador César
Otaviano Augusto e dado a cumprir por Quirino, governador da Síria, jurisdição
à qual estava subordinada a Judeia.
As
informações deveriam ser dadas em Belém porque José, o declarante, tinha
nascido lá, a 150 km de Nazaré, onde o casal então vivia. Na época, a distância
era percorrida em quatro ou cinco dias, provavelmente em caravana de camelos.
Dizem os
Evangelhos que a gravidez de Maria foi anunciada pelo anjo Gabriel em meio a
uma luz muito brilhante. No século VII, este dia foi fixado em 25 de março e
tornado festivo para celebrar a Anunciação, com o fim de fazer com o que
nascimento do menino ocorresse exatamente em 25 de dezembro, pois até então o
Natal era celebrado em outras datas.
No século
XIII, São Francisco de Assis, nome religioso de Giovanni di Pietro di
Bernardone, que viveu entre fins do século XII e começo do século XIII, fez
mudança decisiva no Natal, ao instalar o primeiro presépio do mundo.
No início,
em Assis, os personagens eram moradores da própria localidade, mas a partir do
século XV, em Nápoles, foram substituídos por manequins de madeira. E da Itália,
sede da cristandade, este tipo de presépio espalhou-se pelo mundo inteiro.
Já Papai
Noel é personagem lendário, entretanto amparado na existência real de São
Nicolau, um arcebispo irlandês que viveu entre os séculos III e IV e que
ajudava muito os pobres. Certa vez, teria poupado três irmãs da escravidão ou
da prostituição, ao colocar moedas de ouro na chaminé da casa onde moravam e
assim possibilitar-lhes pagar os respectivos dotes.
Todavia o
Papai Noel, tal como o conhecemos hoje, deve muito ao conto Uma visita de São Nicolau, escrito pelo
americano Clement Clark Moore, em 1822.
Foi este
autor quem fixou a residência de Papai Noel na Lapônia, na Finlândia, e é dele
também a invenção de que o bom velhinho viaja numa carruagem puxada por renas.
Reza a
frase famosa que “quando a lenda supera a realidade, publica-se a lenda”. É o
que vem acontecendo com o Natal há milhares de anos!
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