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sexta-feira, dezembro 01, 2017

Manaus: como eu a vi ou sonhei (1)


Por Jefferson Peres

Em meados dos anos 40, do século passado, Manaus era um modesto aglomerado urbano, de pouco mais de 100 mil habitantes, com todas as características de uma típica capital de província. A vida fluía sem pressa e sem sobressaltos, num ritmo ditado pelas condições físicas, econômicas e culturais de uma comunidade pequena, com três décadas de estagnação e obediente a valores tradicionais.

As dimensões da cidade não eram pequenas apenas em termos demográficos, mas também espaciais, alcançando a leste os bairros de Educandos e Cachoeirinha, ao norte a Vila Municipal (hoje Adrianópolis), e ao oeste São Raimundo. Mas esses eram subúrbios relativamente distantes. A rigor, a área urbana compreendia o espaço delimitado por esses bairros, nervo e coração da cidade, onde se concentravam o comércio, as repartições públicas, os centros culturais e mundanos, e onde residia maciçamente a classe média. Quando se fala da classe média, compreendendo todos os seus segmentos, fala-se da classe que, pela sua presença em todos os setores de atividade, imprimia à cidade sua marca característica.

Manaus era uma cidade de pequenos-burgueses. Praticamente inexistia uma alta burguesia dominante, uma vez que ainda não havia surgido um empresariado industrial, e os grandes proprietários rurais, empobrecidos e decadentes, não tinham maior expressão social, apenas exercendo relativa influência política graças ao controle de uns poucos currais eleitorais no interior.

O que se pode poderia chamar de burguesia era constituída por algumas dezenas de comerciantes, agrupados na Associação Comercial, que estavam longe de constituir uma plutocracia opulenta e não se distinguiam da classe média nem sequer pelo estilo de vida que adotavam.

Quanto ao proletariado, era um conjunto amorfo, disperso em pequenas fábricas e oficinas ou subempregados em mil e uma atividades, sem consciência de classe e sem organização sindical, desprovido das mínimas condições para se fazer ouvir como grupo reivindicante.

Toda a vida política, administrativa, mundana, intelectual e boêmia era tocada por integrantes dos vários estratos da classe média, constituída basicamente por funcionários públicos, profissionais liberais e comerciantes. Eles eram governadores, secretários do Estado, senadores e deputados; dirigiam os órgãos de imprensa, as entidades literárias e os clubes importantes; enfim, ocupavam todos os postos de expressão social na comunidade.

Cabe ao lugar-comum de que a comunidade era uma grande família. Todos se conheciam. Mesmo que as pessoas não pertencessem ao mesmo círculo de relações, sabiam quem era fulano ou beltrano. Quando não sabiam, conheciam-se de vista, de tanto de cruzarem nas ruas. Caminhar da porta de casa até o local de destino, por curta que fosse a distância, podia levar um bom par de horas, tantas as paradas que se faziam para os abraços dos amigos, os papos nas rodas que se formavam e os inevitáveis convites para o cafezinho.

As famílias se visitavam frequentemente. As mulheres, à tarde, sozinhas ou em companhia dos filhos, sem prévio aviso, e os casais à noite, as visitas marcadas com antecipação, para dar tempo de preparar os refrescos, licores e doces caseiros com que se obsequiavam os visitantes.

Frequentes também eram os convites para almoçar aos domingos, quando se melhorava o cardápio e servia-se um mini-banquete variado e farto. Se não vinham os pais, vinham os filhos, passar o dia, principalmente em casa de tios e padrinhos.

Entre vizinhos, então, a amizade se tornava íntima, franca, sem cerimônia. Para estes a casa era aberta e podiam entrar sem pedir licença. Não havia nenhuma inibição em mandar buscar, na hora do almoço, café, sal ou açúcar que estivesse faltando.

Como é natural, esse convívio se acentuava e se traduzia em forte manifestação de solidariedade nos momentos de festa ou de dor. Em véspera de aniversário ou preparando pratos e ajeitando a noiva. As doenças eram acompanhadas com visitas diárias, e em caso de morte estabelecia-se uma presença constante, através de revezamento, que começava na hora da agonia e terminava na beira da sepultura.

Nas noites mais quentes, à falta de televisão e ar-refrigerado, a confraternização se fazia nas calçadas, onde as cadeiras eram postas em círculos, para um papo animado, que se prolongava até muito tarde. Em torno, as meninas brincavam de roda, e os meninos de manja, em correrias sem risco, nas ruas tão tranquilas que a presença de um carro despertava sempre curiosidade.

Mesmo durante o dia o trânsito era diminuto, pois o automóvel ainda era artigo de luxo, acessível a muito poucos. A frota, que se contava por algumas dezenas, incluindo os chapas brancas e de aluguel, era constituída principalmente de modelos americanos: Fords, Chevrolets, Buicks, Packards, Cadilacs e Studebakers, grandes e caros. Só no final dos anos 40 começaram a ser importados os pequenos Austins e Standards ingleses, ao alcance de parte da classe média.

Os carros de praça ainda não usavam taxímetro; o preço das corridas era acertado previamente. Também não existiam motoristas autônomos. Todos se vinculavam às firmas que exploravam o ramo e eram chamadas de garagens. As duas mais importantes, a Avenida e a Esportiva, ficavam na Eduardo Ribeiro, ao lado da Leitaria Amazonas, hoje desaparecida. Em frente aos escritórios, sentados em cadeiras na calçada, os motoristas aguardavam a clientela.

Os carros estacionavam em diagonal, no meio da pista. Alguns desses motoristas, então, chamados de choferes, eram conhecidos em toda a cidade e tinham a preferência de muitas famílias, às quais se ligavam afetivamente. Meus pais, por exemplo, só contratavam os serviços de João Avelino e do sêo Antonico, homens de meia-idade, sérios, educados, a quem davam um tratamento cordial.

Mas esses profissionais só eram requisitados excepcionalmente, para enterros, batizados, casamentos e piqueniques. No cotidiano andava-se a pé ou de bonde. Este, único coletivo existente, era utilizado por todas as classes sociais e cobria o centro e todos os bairros, à exceção de Educandos e S. Raimundo. Uma das linhas, a de Flores, ultrapassava os limites da cidade. Seu terminal se localizava nas imediações da bifurcação da Recife com a Constantino Nery, à época, muito além do perímetro urbano.


Como já foi lembrado por tantos cronistas, o bonde servia para o trabalho e para o lazer. Nos dias úteis, à noite, e aos domingos, o dia inteiro, as famílias saíam para passear nas linhas preferidas, a Saudade, até a praça do mesmo nome, e a Circular, que obedecia ao percurso: 7 de Setembro, Carvalho Leal, Belém, Boulevard Amazonas, Silva Ramos, Ferreira Pena, 10 de Julho, Eduardo Ribeiro e Praça Oswaldo Cruz, onde ficava a estação central.

Nesta, os passageiros aguardavam os bondes em dois abrigos situados no canteiro em que se erguia um pedestal com o busto de Sant’Anna Nery. Um desses abrigos ficava na calçada fronteira ao edifício da Manaos Tramways, empresa inglesa concessionária de energia elétrica, e o outro, que o povo chamava de Tabuleiro da Baiana, no lado oposto do canteiro. Nesses abrigos funcionavam pequenos bares e cafés.

Na esquina da Rua Tamandaré ficava A Mimosa, um botequim que sucedera a antiga Bolsa Universal. Um pouco adiante, no canteiro em frente ao Banco do Brasil, sombreado por imensas mangueiras, o velho Pavilhão Universal, mais tarde transportado par ao lugar onde se encontra atualmente, na Praça Tenreiro Aranha.

Esse ajustamento de bares e cafés, aliado à condição de terminal do sistema viário, transformou a Praça Oswaldo Cruz num dos principais pontos de encontro da cidade, com movimento que entrava pela madrugada.

Dali partiam todos os bondes. Sem portas nem janelas, inteiramente abertos de ambos os lados, com sanefas de lona corrediças, baixadas apenas como proteção contra o sol e a chuva, eram carros ecológicos, claros, ventilados, próprios para o nosso clima, além da vantagem óbvia de não causarem poluição.

Servidos por um motorneiro, um cobrador e um fiscal, devidamente uniformizados, deslocando-se com rapidez num trânsito que não conhecia congestionamento, esses veículos ofereciam desconforto somente quando superlotados, nas horas de rush. Mas quando semivazios, a viagem era realmente um prazer. Eu quase sempre viajava de pé, no estribo, seguro no balaústre lateral, hábito adquirido em criança, que tinha entre suas brincadeiras prediletas a de morcegar, tapeando o cobrador ou fugindo à sua implacável perseguição.

O bonde foi, assim, um veículo que conseguiu obter a adesão unânime da população, sem distinção de classe, sexo ou idade. Pobres, remediados e ricos; homens e mulheres; velhos, adultos, jovens e crianças, todos os utilizavam. E acredito que não apenas por falta de opção, porque mesmo os poucos privilegiados que possuíam carro particular, vez por outra deixavam seus automóveis na garagem para dar uma volta no Circular ou no Saudade.

No final dos 40, os serviços da Manaos Tramways passaram a se deteriorar. Com a encampação da velha concessionária inglesa, essa deterioração se acelerou e os bondes começaram a ser desativados. Foi quando surgiram os primeiros ônibus na cidade. Eram carros improvisados, toscos, com carrocerias de madeira, construídas aqui mesmo, e eram tão raros que chegavam a ser individualizados por nomes próprios, como Pirata da Perna-de-Pau e Periquito da Madame, marchinhas carnavalescas em voga. Depois, surgiu um de melhor acabamento, o Zepelin, em forma de dirigível, que fez enorme sucesso pela sua aparência exótica.


Extinto o serviço de bondes, ainda houve uma tentativa de restauração, no governo Plínio Coelho, em 1955, quando o governador, cumprindo promessa eleitoral, restabeleceu uma linha e guiou ele mesmo o elétrico. Mas foi inútil. Meses depois era retirado de circulação, encerrando definitivamente a era dos bondes em Manaus.

É fácil entender as circunstâncias que levaram a esse desfecho; mas difícil é aceitar que não se tenha feito nenhum esforço para conservar pelo menos uma linha, por curta que fosse (digamos a da Fábrica de Cerveja), a fim de preservar algo inesperável da memória da cidade. Longe disso, os veículos foram sucateados e os trilhos sepultados em camadas de asfalto. As novas gerações, para conhecê-los, terão de se deslocar para o Rio de Janeiro ou São Francisco, na Califórnia. Porque aqui, só em fotografia ou na lembrança dos mais velhos.

Embora a zona urbana chegasse à Vila Municipal e a linha de bonde se estendesse até Flores, a área efetivamente urbanizada, com pavimentação e meio-fio, era diminuta. Apenas as avenidas e ruas principais, como Eduardo Ribeiro, 7 de Setembro, Marechal Deodoro e poucas mais tinham calçamento de paralelepípedos.

A grande maioria era calçada de pedra-jacaré e muitas outras, mesmo no centro, não possuíam calçamento algum. Até uma importante, como a Getúlio Vargas, só era calçada no pequeno trecho entre a 7 de Setembro e a Lauro Cavalcante. Daí para cima era terra batida e matagal, com algumas casas isoladas. Apenas do lado esquerdo, entre a Henrique Martins e Saldanha Marinho, uma fileira de casas, muitas das quais ainda se encontram no local. Do lado direito, estâncias e terrenos baldios. Um pouco adiante, na esquina da atual Huascar de Figueiredo, um enorme covão, também utilizado como depósito de lixo.

Igualmente intransitáveis eram muitas das ruas transversais. A Ramos Ferreira, interrompida logo após a Joaquim Nabuco pelo famoso Buraco do Pinto; a Leonardo Malcher, no cruzamento da Tapajós, por outro imenso buraco, que muitos pedestres não ousavam desafiar; e até mesmo a Floriano Peixoto, que não passava de um vasto campo de pelada.

A maioria das ruas tinha em comum a arborização, constituída de fícus benjamins, oitizeiros e mangueiras, estas últimas, em alguns trechos, formando túneis ensombrados e acolhedores. Assim era na 7 de Setembro, entre Eduardo Ribeiro e Marechal Deodoro, na Saldanha Marinho, entre Eduardo Ribeiro e Getúlio Vargas, e na 10 de Julho, entre Epaminondas e Eduardo Ribeiro, assim como na Constantino Nery em toda sua extensão. Oitis e benjamins havia em quase todas. Instalação, Lobo D’Almada, Joaquim Sarmento, Dr. Moreira, Floriano Peixoto e Joaquim Nabuco eram ruas pontilhadas de benjamins que, na Eduardo Ribeiro, formavam dosséis verdes e davam ao pedestre privilégio de percorrê-la, da 7 de Setembro até a Praça do Congresso, na sombra, mesmo com sol a pino.


As praças eram igualmente arborizadas e dividias em canteiros de grama cuidada, nas quais a prefeitura afixava tabuletas com o apelo ingênuo: Povo: zelai por este jardim, pois é vosso. Menos, talvez, pela eficácia do apelo do que pela presença dos jardineiros e guardas municipais, o certo é que essas praças, impecavelmente limpas e verdes, eram refúgios onde gente de todas as idades espairecia nos mornos e tranquilos fins da tarde.

Mas de todas, nenhuma tinha o charme da minha querida Praça da Saudade, circundada por extensos caramanchões cobertos de buganvílias vermelhas – que o povo chamava de riso do prado – sob os quais se abraçavam casais de namorados em cenas de cartão-postal. A destruição dessas pérgulas foi um dos muitos crimes que se cometeram contra a nossa paisagem urbana.

Além de arborizadas e calmas, as ruas eram, também, seguras, fosse pelo baixo índice de criminalidade, fosse pelo policiamento eficiente. Os chamados crimes contra a propriedade eram praticados geralmente sem violência contra as pessoas. E quando isso acontecia, de tão raro, causava abalo na população e rendia manchetes nos jornais durante semanas. Não é verdade que todos dormissem de janelas abertas, porque sempre havia o risco da ação dos ventanistas, assim chamados os assaltantes oportunistas que rondavam à procura de janelas escancaradas por onde penetrassem nas residências.

Contava Manuel Barbuda, meu professor de Direito Penal e um dos bons criminalistas da cidade, que um dos seus clientes, ladrão incorrigível, conhecido no submundo pelo apelido de Capitão Blood, preparava auxiliares, aos quais ministrava aulas de Ventanismo. Ao fim do treinamento, submetia os pupilos a um teste, que consistia em penetrar numa casa, previamente estudada, para retirar, sem despertar a vitima, a carteira porta-cédulas guardada sob o travesseiro. Cumprida a missão com êxito, o aluno estava aprovado. Caso contrário, se ainda quisesse ter chance com o chefe, teria de empreender a fuga sem praticar violência, porque isto era contra os princípios do Capitão Blood. Claro que nem todos os marginais chegavam a esse requinte, mas é certo que a grande maioria evitava molestar fisicamente as suas vítimas.

Mas a ação dos ladrões era também muito dificultada pela presença da polícia. Durante o dia tínhamos os guardas-civis, fardados de amarelo e armados de cassetetes, espalhados às dúzias pela cidade, que se ocupavam de moleques e desordeiros, porque ladrões mesmo, à luz do sol, nem por exceção. À noite, apareciam os guardas-noturnos, de farda cinza, que circulavam em torno dos quarteirões e se controlavam uns aos outros uns trilando espaçadamente seus apitos. Nessas tarefas eram apoiados pela cavalaria da polícia militar que, em duplas, cobria boa parte da cidade, até determinada hora. Mas os guardas-noturnos permaneciam em seus postos até o amanhecer.

Recordo, ainda hoje, o alívio que sentia quando, no regresso à casa, tarde da noite, sozinho na rua completamente deserta, avistava a figura do guarda plantado na esquina. E creio que todos se recordarão, igualmente, da tranquilidade que sentíamos quando o silêncio da madrugada era quebrado pelo som do apito, seguido de outro mais longe e de um terceiro mais longe ainda. Tinha o efeito de um acalanto.

Nos subúrbios não havia ruas calçadas, mesmo por exceção. Até as principais, como Boulevard Amazonas, Carvalho Leal e Avenida Constantinópolis (hoje Leopoldo Péres), lembravam cidades do interior, com suas pistas esburacadas, margens tomadas pelo capim, ao longo das quais se alinhavam casas de madeira, e umas poucas de alvenaria, cobertas de telha de zinco.

No Centro, com exceção da massa imponente do Teatro Amazonas, nenhum edifício se destacava na paisagem, dominada pelo casario baixo que raramente ultrapassava dois pavimentos. Ainda não tínhamos ingressado na era do apartamento e a classe média habitava as casas de estilo tradicional, erguidas em sua maioria no início do século e das quais ainda restam muitas, embora estejam desaparecendo com grande rapidez.

Quase todas obedeciam basicamente ao mesmo padrão. Erguidas ao alinhamento das calçadas, paredes de meia fachada, com duas janelas e uma porta, dividiam-se internamente em sala de visitas, alcova e sala de jantar, nessa ordem, com um corredor lateral ligando a sala de jantar à porta da rua. Atrás, uma puxada, com extenso corredor enjanelado, ao longo do qual se situavam os quartos, a cozinha, a copa e o banheiro, com uma porta nos fundos que se abria para o quintal.

Nunca entendi por que se colocava o quarto principal, ou seja, a alcova, entre duas salas e muito distante do banheiro, obrigando seus ocupantes, principalmente quando doentes, ao uso anti-higiênico e inestético de urinóis e escarradeiras. Igualmente difícil de entender a localização da cozinha, longe da sala de jantar. É verdade que as refeições diárias se faziam na copa; mas, quando se recebia convidados – o que ocorria com frequência – para almoço e jantar, este era servido na sala, exigindo dos empregados longas caminhado entre os dois cômodos.

Outra característica para a qual também não encontro explicação, é a falta de jardim como traço comum, mesmo naquelas que possuíam amplo terreno de fundo, permitindo um bom recuo na frente, sem prejuízo do quintal. Somente as casas maiores, chamadas palacetes, possuíam jardins e, embora apresentassem a mesma divisão, distinguiam-se, ainda por uma entrada aberta, com escadaria e balaústre, além de porão habitável e sótão, às vezes um cômodo encarapitado sobre a sala de jantar.

Felizmente, a fúria demolitória ainda poupou alguns destes exemplares, como o castelinho art nouveau da Rua São Luiz, em Adrianópolis, construído por Adolfo Lisboa, que bem poderia ser um dos cartões-postais da cidade; ou o sobrado da esquina da 24 de Maio com a Barroso, com seu exótico telhado de ardósia, onde funcionava o consulado português e que hoje abriga uma agência turística; ou, ainda, o esplêndido edifício da extinta firma J.S. Amorim, comercial no térreo e residencial nos altos, hoje agência de banco, em azulejos portugueses cuidadosamente conservados.

Além desses, resta um punhado de outros, ainda não tombados graças à nossa proverbial incúria. E aqui repito o que já disse em outras ocasiões. Parece-me irrelevante discutir se essas construções constituem um subproduto do colonialismo, geradas por uma sociedade economicamente dependente e culturalmente alienada. Importa que têm um valor em si, do ponto de vista estético e como testemunhos de uma época. Como tais, devem ser preservadas.

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