Antídio Weil fazendo uma visita de cortesia no mocó
Fevereiro de 1973. Em pleno sábado gordo, o comerciário Assis Bulcão resolve fazer uma monumental brincadeira em sua casa, na COHAB-AM da Raiz, e recruta as comerciárias mais bonitas da cidade.
Eram
perto de 15 beldades, que logo despertaram a cobiça dos garanhões do bairro. Só
elas eram tiradas pra dançar.
Irritadas
com a desfeita, as demais meninas da vizinhança começaram a abandonar o covil.
Por
volta das 10h da noite, só havia na brincadeira as belas comerciárias e uns 50
machos, dispostos a matar ou morrer para dançar com uma delas.
De
repente, Antídio Weil para em frente da casa do Assis e estaciona o seu
monumental Opala zero-quilômetro, que ele havia acabado de comprar.
Equipado
com pneus tala larga em aros de magnésio, banco de couro de antílope, descarga
Kadron e toca-fitas Roadstar, o Opala era um objeto de desejo de dez em cada
dez pessoas presentes na brincadeira. Antídio logo virou o quindim das meninas.
Aproveitando
a maré de sorte, ele perguntou se elas não queriam ir com ele para o Baile do
Havaí, que seria realizado naquela mesma noite, no Parque Aquático do Atlético
Rio Negro Clube. As comerciárias, evidentemente, toparam na mesma hora.
Aboletando-se
uma no colo da outra, as 15 beldades entraram no Opala e Antídio se mandou com
seu novo harém particular.
A
monumental brincadeira do Assis Bulcão acabou na mesma hora (antes das 11h da
noite!) por absoluta falta de público feminino. Uma desmoralização completa!
Sem
se importar com o desastre que acabara de provocar, Antídio estacionou o carro
em uma viela, ao lado da sede do Rio Negro, e foi até a bilheteria do clube,
onde adquiriu três mesas e quatro ingressos.
Para
entrar no clima, comprou de um camelô dezenas de colares de flores, bandanas
multicoloridas e vários saquinhos de confete, malocou suas bisnagas de
lança-perfumes na bolsa de uma das meninas e, aos gritos de “aloha! aloha!”,
rebocou seu harém para o parque aquático, onde o baile de carnaval estava
começando a pegar fogo.
Ele
se tornou o cara mais invejado da noite, tanto pela quantidade como pela
qualidade do plantel.
A
pequena trupe deixou a sede do Rio Negro com o dia já amanhecendo. Com vários
colares de flores amarrados na cabeça, Antídio, mais feliz do que pinto em
merda, abraçado com duas garotas, capitaneava o resto do harém e puxava o coro:
“Bandeira branca, amor / Não posso mais / Pela saudade que me invade / Eu peço
paz!”
Ao
chegarem na viela, ao lado da sede do Rio Negro, estava o lugar mais limpo do
mundo. Os amigos do alheio haviam levado o Opala envenenado.
Antídio
ficou transtornado:
–
Puta que pariu, cadê meu carro?... Puta que pariu, cadê meu carro?... Roubaram
o meu carro... Roubaram o meu carro... Estou fodido!... Puta que pariu, estou
fodido!... Roubaram o meu carro...
Aí,
sem mais nem menos, transferiu sua fúria para as meninas:
–
Eu me fodi por causa de vocês, bando de muquiranas! Eu me fodi por causa de
vocês! Se eu não tivesse conhecido vocês na casa do Assis eu não teria vindo
pra essa merda de carnaval e meu carro não teria sido roubado! Vocês são um
bando de filhas das putas, suas piranhas desgraçadas! Saiam da minha frente
senão eu vou começar a dar porrada em cada uma... Suas putas safadas,
muquiranas de merda! Vão embora, vão embora, vão embora, antes que eu perca a
cabeça!
Assustadas,
as garotas foram embora apressadamente em direção ao Terminal da Matriz, pra
tentar descolar um ônibus que as levasse pra casa. Antídio pegou um táxi e foi
pra Cachoeirinha, pedir ajuda dos amigos motorizados para ajudá-lo nas buscas.
O
Opala envenenado foi encontrado por volta das 5h da tarde de domingo, nas
proximidades do igarapé do Japonês, no meio da selva existente na Colônia
Japonesa.
Estava sem os quatro pneus tala larga em aros de magnésio, sem os
bancos de couro de antílope, sem a descarga Kadron e sem o toca-fitas Roadstar.
Não
posso provar, mas desconfio até hoje de que o Assis Bulcão foi o autor intelectual
da presepada.
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