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sexta-feira, outubro 19, 2018

Nei Parada Dura 4Ever


Outubro de 1988. Eu ainda estava meio de ressaca, numa manhã de sábado, quando recebi um telefonema da minha irmã Simone. Ela queria saber se eu conhecia algum médico ortopedista que pudesse emprestar seus pensos cirúrgicos para uma emergência. Eu sequer sabia que diabo eram “pensos cirúrgicos ortopédicos”.

– São uns equipamentos que servem para tracionar e esticar os ossos de uma perna! – ela tentou explicar.

Continuei boiando.

– É que o irmão de uma amiga minha sofreu um acidente de carro nesta madrugada e precisa ser operado com urgência, mas os pensos cirúrgicos ortopédicos do Hospital Getúlio Vargas estão todos sendo usados – insistiu.

Falei que iria falar com Rogelio Casado, Manuel Galvão e Eugênia Turenko, já que a maioria dos meus amigos médicos eram psiquiatras. Talvez eles pudessem me dar alguma dica, sei lá. Só no começo da tarde, ainda sem localizar os tais pensos cirúrgicos ortopédicos, é que fiquei sabendo que o irmão da amiga da Simone era o Nei Parada Dura. Foi um choque.

Há alguns anos,  o boêmio Nei Parada Dura tinha um novo amigo de gandaia que nunca soube como se chamava. A gente, lá no Bar do Aristides, o chamava de “Cabeludo” (porque ele parecia um hippie tardio com a cabeleira na altura dos ombros) ou de “Maria Bonita” (porque o sacana era bonito como um travesti imitando a Raquel Welch, apesar de ser espada matador registrado em cartório). Era um bom jogador de sinuca e bebia como gente grande.

Numa noite sexta-feira, os dois foram farrear com uma meninas sapecas lá pras bandas do Bar Xorimã. Por volta das 5h de sábado, já com o dia quase amanhecendo, resolveram tomar a saideira em um boteco no início da Avenida Noel Nutels, na Cidade Nova. De repente, as meninas pediram pra ir pra casa. Em vez de chamar um táxi e despachar as garotas, Nei Parada Dura, um eterno cavalheiro de fina estampa, resolveu levá-las em casa, no final da Cidade Nova, no seu próprio carro. Cabeludo ficou esperando pelo parceiro no boteco.

Quando estava voltando pro boteco – provavelmente em alta velocidade, imagino, já que o sacana gostava de correr –, Nei Parada Dura, morto de bêbado, aparentemente dormiu na direção do carro e entrou na traseira de um caminhão da Brahma, que estava parado na frente de um bar, com os operários descarregando os vasilhames de cerveja para um boteco. Com o impacto, os ossos das pernas se quebraram e foram parar em seus quadris, provocando uma hemorragia interna.

Ele foi levado para o Hospital Getúlio Vargas, onde os médicos conseguiram estancar a hemorragia. Mas o hospital não possuía os tais pensos cirúrgicos. Salvo engano, ele foi removido do HGV para um outro hospital, onde também não havia os tais pensos cirúrgicos. Na tarde de domingo, sem ainda ter sido operado, Nei Parada Dura atravessou o espelho. Menos de um ano depois, Cabeludo estava participando de um “racha” na estrada da Ponta Negra, perdeu a direção do carro e se esborrachou num poste. Morte instantânea. 

Os dois devem estar continuando a gandaia no Paraíso, já que nunca foram mesmo de ficar parados. Saudade miserável de vocês, homeboys!

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