Sici Pirangy e Jorginho Poeta
Fevereiro de 1984. O poeta Jorginho Almeida foi o primeiro sujeito da turma a admitir publicamente que fazia uso recreativo do “cigarro de índio”. Ele comprava seu bagulho na Vila Mamão, na casa de duas índias sateré-mawé, Vilma e Regina, as únicas na cidade que vendiam uma erva autêntica, orgânica, sem mistura, e ainda ostentando o selo de qualidade da região do Rio Marau, em Maués.
Os
biriteiros do Top Bar só se referiam a ele pejorativamente como “Jorginho
Maconheiro” e o preconceito inicial, com o passar dos tempos, se transformou em
estigma. Ninguém queria ser visto na companhia de Jorginho, para também não ser
rotulado de “maconheiro”. O poeta, entretanto, não dava a mínima para os
comentários desairosos a seu respeito. Ele continuava curtindo seu bagulho
sozinho como um autêntico Lone Ranger daqueles tempos fluviais.
Naquele
mês de fevereiro, Jorginho resolveu desfilar em uma das alas do GRES Andanças
de Ciganos. A concentração da escola, como sempre, foi no Boulevard Amazonas,
nas proximidades do cemitério, porque o desfile ainda acontecia na Avenida
Djalma Batista. Vários brincantes se acotovelaram em um barzinho existente
naquela artéria e começaram a encher a cara de birita enquanto aguardavam o
início do desfile. Jorginho sondou o ambiente e percebeu que o banheiro do
boteco era um local estratégico para detonar um beise.
Ele
entrou no banheiro, enrolou um “guantanamera” (o charo do tamanho de um charuto
habana cristal), colocou na boca e quando acendeu o fogaréu, alguém surrupiou,
com violência, o beise de sua boca. Ele tentou reagir, mas foi imobilizado por
um providencial “mata-leão”, enquanto uma alcateia de lobos famintos entrava no
banheiro e detonava sem pena o robusto guantanamera: Afonso Libório, Ricardão,
Luiz Lobão, Sici Pirangy, Antídio Weil, Arlindo Jorge, Lúcio Preto, Ailton
Santa Fé et caterva. Não sobrou nem a cinza.
Injuriado,
Jorginho limitou-se a comentar:
–
Pois é... E ainda dizem que eu sou o único maconheiro da Cachoeirinha...
Teve
“maconheiro” que passou mal de tanto rir.
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