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sexta-feira, outubro 19, 2018

Wilson Fernandes 4Ever


Fevereiro de 1988. A Comissão de Frente do GRES Andanças de Ciganos (Sadok Pirangy, Maurílio, Zé Alfaia, Ivan Chibata, Juarez Tavares, Almeida, Antídio Weil, Petroba, Nelito, Galúcio, Luluca, Ruizinho, etc) está posicionada na área de concentração da Av. Djalma Batista. 

Todos estão elegantemente vestidos de coronéis de barranco: paletó de linho branco, colete de cetim negro e chapéu panamá. O que chama mais atenção é o fato de eles estarem descalços. É que o responsável pelos sapatos da turma, o desencanado Wilson Fernandes, ainda não deu o ar de sua graça.

Na semana anterior, durante uma reunião no Barraka’s Drinks, Wilson Fernandes anotou pacientemente o número do pé de cada um e se prontificou a doar pra escola os sapatos de verniz exigidos pelo carnavalesco para garantir a nota dez pra Comissão de Frente. Sem os sapatos de verniz, explicou o sujeito, o enredo “O Grande Baile” estaria seriamente comprometido. 

Como o Simona não costuma se atrasar e tem como característica principal sempre honrar seus compromissos, a turma está mais apreensiva do que de costume. Alguma coisa de muito grave ter acontecido.

O carro abre-alas começa a ser empurrado para a avenida para dar início ao desfile. A apreensão da Comissão de Frente se transforma em princípio de pânico. Desfilar descalço na passarela do samba não estava no script de “O Grande Baile”, mas parece que vai ser o jeito.

De repente, surge Wilson Fernandes, esbaforido, atravessando as alas já posicionadas para o desfile, trazendo um gigantesco saco pendurado nas costas:

– Porra, meus irmãos, desculpem o atraso, mas é que esse trânsito hoje estava de lascar!

Antes que alguém abrisse a boca, ele abre a boca do saco e descarrega a carga no chão: trinta pares de sapatos de verniz, tal como exigira o carnavalesco.

O problema é que os sapatos estavam soltos e, evidentemente, acabarm se misturando dentro do saco. Foi um salve-se quem puder. Na pressa para calçar o sapato e correr pra começar o desfile, aconteceu de tudo: neguinho com sapato dois números menor do que o pé, neguinho calçando dois pés esquerdos, neguinho com um número maior do que o outro, uma zorra total.

Apesar de a Comissão de Frente ter desfilado como um cortejo de pinguins-imperiais (tinha componente que simplesmente arrastava os pés na avenida, como Antídio Weil, por conta das bolhas de calo surgidas instantaneamente nos pés em virtude dos sapatos de verniz extra-apertados), ela conquistou nota dez.

Naquele ano, o GRES Andanças de Ciganos terminou em quarto lugar. Vítima de complicações decorrentes da diabetes, Wilson Fernandes faleceu em outubro de 2008. Era um guerreiro!

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