Março
de 1998. A diretoria do GRES Andanças de Ciganos está reunida na quadra da
escola para avaliar o desfile. Discussões acirradas, todo mundo colocando a
culpa em todo mundo por conta do desfile sofrível, que redundou em um
desmoralizante 5º lugar. De repente, aparece o eterno beque central do
Murrinhas do Egito, Petrônio Aguiar, fantasiado de oficial da SWAT: bota de cano
alto, calça de camuflagem, colete à prova de bala, japona e capacete com
viseira transparente. Nas mãos, um fuzil de uso exclusivo das Forças Armadas.
Para
quem não sabe, o grupo SWAT (sigla de “Special Weapons and Tactics”, “Armas e
Táticas Especiais”) é uma unidade de elite da força policial usada em situações
excepcionais, que exigem maior poder de fogo ou táticas especializadas. Os
oficiais da SWAT passam por treinamentos especiais e têm acesso a um arsenal de
armamentos, blindagem e aparelhos de vigilância muito mais potentes do que os
equipamentos de policiais comuns. Petrônio Aguiar havia passado seis meses em
Los Angeles (EUA) fazendo o curso de oficial em uma das unidades da cidade.
Petrônio
explica que não quer participar das discussões, mas que vai esperar até o fim
da reunião porque está ali por conta de uma missão específica. Um dos mestres
de bateria, Adalberto (aka “Dadau”), começa a ficar nervoso. Petrônio Aguiar
não tira os olhos dele. As discussões prosseguem, cada vez mais acirradas, com
todo mundo colocando a culpa em todo mundo por conta do desfile sofrível. O
presidente da escola, Vilson Benayon, resolve suspender a reunião para ser
retomada no dia seguinte.
Aqui
cabe mais outra explicação: uma das diferenças entre o grupo da SWAT e o de
oficiais de patrulhas regulares é o uso de equipamentos e armas avançadas. Os
oficiais da SWAT usam coletes à prova de balas com blindagem cerâmica. O tronco
e a cabeça são protegidos por capacetes e painéis balísticos de Kevlar. O
típico arsenal de um oficial da SWAT inclui uma arma de mão confiável e
potente, uma submetralhadora e uma escopeta.
Oficiais
treinados como atiradores de elite – caso do Petrônio Aguiar – possuem um fuzil
com mira telescópica. Além do fuzil, Petrônio estava com algumas armas de mão
(Sig Sauer P220, Glock de 9 mm e um Colt calibre .45). As armas de mão são
colocadas em um coldre na parte de baixo da perna, para uma sacada rápida,
diferentemente dos oficiais de patrulha, que usam o coldre na cintura.
Assim
que a reunião terminou, Petrônio tirou uma algema da cintura e avisou pro
Dadau:
–
Levante as mãos pra cima, coloque pra trás, espere eu lhe algemar e depois me
acompanhe!
Dadau
saiu correndo e entrou no banheiro da quadra da escola, onde se aquartelou.
Petrônio, sem se abalar, deu um toque:
–
É melhor você sair daí de mãos pra cima! Se eu tiver que entrar, vou meter uma
azeitona no teu joelho e nunca mais você vai sambar aqui na quadra...
Um
dos diretores dos Ciganos, Carlito Bezerra, partiu pra cima do oficial da SWAT:
–
Êi, bicho, o que qui tu tá pensando, hein? Tu tá te achando Deus? Chega aqui,
cheio de marra, frescando com todo mundo, armado igual ao Rambo! O Dadau é
gente boa e é meu amigo, porra, ele é meu amigo!
Petrônio
Aguiar, imperturbável, com o fuzil em posição de tiro:
–
Carlito, fica na tua, que a gente já jogou muita pelada juntos e somos amigos
até hoje! A parada não é contigo! No dia em que for contigo, eu vou esquecer
que a gente já jogou no mesmo time e fazer o que tiver que ser feito. A parada
aqui é com o Dadau, fica na tua!
Aí,
pediu mais uma vez para o Dadau sair do banheiro com as mãos para cima. Depois
de alguns minutos que pareceram horas, Dadau saiu do banheiro, com as mãos
levantada, sem esconder o nervosismo.
Assim
que algemou o diretor de bateria, Petrônio Aguiar o levou direto para o
distrito policial, onde Dadau abriu o jogo: ele deu nome, codinome, telefone e
endereço de todos os demais comparsas responsáveis pelo sumiço de 50
instrumentos, 40 mesas, 100 cadeiras e um freezer, ocorrido um mês antes, na quadra
da escola. Parte dos objetos do furto foi recuperada.
Carlito
Bezerra ficou tão bestificado com o tamanho da roubalheira do seu amigo Dadau,
que se tornou admirador incondicional do oficial da SWAT.
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