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terça-feira, outubro 23, 2018

O snipper cigano



Petrônio Aguiar e sua neta Sofia

Março de 1998. A diretoria do GRES Andanças de Ciganos está reunida na quadra da escola para avaliar o desfile. Discussões acirradas, todo mundo colocando a culpa em todo mundo por conta do desfile sofrível, que redundou em um desmoralizante 5º lugar. De repente, aparece o eterno beque central do Murrinhas do Egito, Petrônio Aguiar, fantasiado de oficial da SWAT: bota de cano alto, calça de camuflagem, colete à prova de bala, japona e capacete com viseira transparente. Nas mãos, um fuzil de uso exclusivo das Forças Armadas.

Para quem não sabe, o grupo SWAT (sigla de “Special Weapons and Tactics”, “Armas e Táticas Especiais”) é uma unidade de elite da força policial usada em situações excepcionais, que exigem maior poder de fogo ou táticas especializadas. Os oficiais da SWAT passam por treinamentos especiais e têm acesso a um arsenal de armamentos, blindagem e aparelhos de vigilância muito mais potentes do que os equipamentos de policiais comuns. Petrônio Aguiar havia passado seis meses em Los Angeles (EUA) fazendo o curso de oficial em uma das unidades da cidade.

Petrônio explica que não quer participar das discussões, mas que vai esperar até o fim da reunião porque está ali por conta de uma missão específica. Um dos mestres de bateria, Adalberto (aka “Dadau”), começa a ficar nervoso. Petrônio Aguiar não tira os olhos dele. As discussões prosseguem, cada vez mais acirradas, com todo mundo colocando a culpa em todo mundo por conta do desfile sofrível. O presidente da escola, Vilson Benayon, resolve suspender a reunião para ser retomada no dia seguinte.

Aqui cabe mais outra explicação: uma das diferenças entre o grupo da SWAT e o de oficiais de patrulhas regulares é o uso de equipamentos e armas avançadas. Os oficiais da SWAT usam coletes à prova de balas com blindagem cerâmica. O tronco e a cabeça são protegidos por capacetes e painéis balísticos de Kevlar. O típico arsenal de um oficial da SWAT inclui uma arma de mão confiável e potente, uma submetralhadora e uma escopeta.

Oficiais treinados como atiradores de elite – caso do Petrônio Aguiar – possuem um fuzil com mira telescópica. Além do fuzil, Petrônio estava com algumas armas de mão (Sig Sauer P220, Glock de 9 mm e um Colt calibre .45). As armas de mão são colocadas em um coldre na parte de baixo da perna, para uma sacada rápida, diferentemente dos oficiais de patrulha, que usam o coldre na cintura.

Assim que a reunião terminou, Petrônio tirou uma algema da cintura e avisou pro Dadau:

– Levante as mãos pra cima, coloque pra trás, espere eu lhe algemar e depois me acompanhe!

Dadau saiu correndo e entrou no banheiro da quadra da escola, onde se aquartelou. Petrônio, sem se abalar, deu um toque:

– É melhor você sair daí de mãos pra cima! Se eu tiver que entrar, vou meter uma azeitona no teu joelho e nunca mais você vai sambar aqui na quadra...

Um dos diretores dos Ciganos, Carlito Bezerra, partiu pra cima do oficial da SWAT:

– Êi, bicho, o que qui tu tá pensando, hein? Tu tá te achando Deus? Chega aqui, cheio de marra, frescando com todo mundo, armado igual ao Rambo! O Dadau é gente boa e é meu amigo, porra, ele é meu amigo!

Petrônio Aguiar, imperturbável, com o fuzil em posição de tiro:

– Carlito, fica na tua, que a gente já jogou muita pelada juntos e somos amigos até hoje! A parada não é contigo! No dia em que for contigo, eu vou esquecer que a gente já jogou no mesmo time e fazer o que tiver que ser feito. A parada aqui é com o Dadau, fica na tua!

Aí, pediu mais uma vez para o Dadau sair do banheiro com as mãos para cima. Depois de alguns minutos que pareceram horas, Dadau saiu do banheiro, com as mãos levantada, sem esconder o nervosismo.

Assim que algemou o diretor de bateria, Petrônio Aguiar o levou direto para o distrito policial, onde Dadau abriu o jogo: ele deu nome, codinome, telefone e endereço de todos os demais comparsas responsáveis pelo sumiço de 50 instrumentos, 40 mesas, 100 cadeiras e um freezer, ocorrido um mês antes, na quadra da escola. Parte dos objetos do furto foi recuperada.

Carlito Bezerra ficou tão bestificado com o tamanho da roubalheira do seu amigo Dadau, que se tornou admirador incondicional do oficial da SWAT.

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