Recauchutado – O submarino ARA San
Juan: na reforma, ele foi cortado ao meio para a troca de quatro motores
(Argentina Navy/AP)
Por
Augusto Nunes
Oito dias
depois do desaparecimento de um submarino argentino num ponto impreciso do
Atlântico, o mundo ainda ignora o que aconteceu com os 44 tripulantes ─ 43
homens e uma mulher. Se houve uma explosão, alguém sobreviveu? Se permanece
intacta, quando se esgotou a reserva de oxigênio? Em que parte do oceano estão
marinheiros derrotados na luta pela vida ou corpos à espera de resgate e
sepultamento em terra firme? A ausência de respostas torna as perguntas
insuportavelmente aflitivas.
Desde o
primeiro minuto, acompanho a saga dos argentinos sumidos no fundo do mar com
angústia e espanto. Angustia-me imaginar o desespero crescente de um punhado de
seres humanos surpreendidos pelas trapaças do destino. Espanta-me o pouco
interesse despertado pela tragédia no mundo da internet, um mundo que até
recentemente reagia com mobilizações imediatas e portentosas ao topar, por
exemplo, com a imagem de alguma baleia encalhada numa praia da Polinésia.
Nos
grandes sites, aos posts sobre o drama pavoroso, quase sempre rasos e
burocráticos, seguem-se dois ou três comentários ─ às vezes nenhum. Um texto
publicado nesta quinta-feira no UOL, por exemplo, mereceu uma única observação:
o leitor se declarou indignado com um prosaico erro gramatical cometido pelo
redator anônimo. Num Brasil embrutecido pelo Fla X Flu interminável e feroz,
talvez não haja mais espaço para manifestações de solidariedade.
Até pouco
tempo atrás, fossem quais fossem o palco da tragédia e a nacionalidade das
vítimas, ondas de clemência irrompiam, espontâneas e vigorosas, instantes
depois da primeira notícia. É penoso constatar que, no Brasil do século 21, é o
ódio o mais poderoso motor das mobilizações no universo digital. A cólera
epidêmica pode ter transformado a compaixão num sentimento a caminho da
extinção.
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