Por Luiz Carlos Miele
A rádio Nacional do Rio de Janeiro foi durante duas décadas
o maior celeiro de cartazes da música popular brasileira. Victor Costa, seu
presidente, comprou também a rádio Nacional de São Paulo, e assim grandes
programas musicais passaram a fazer parte de sua programação. Havia também as
novelas do rádio-teatro. Minha mãe fazia parte delas, além de cantar e produzir
programas.
Ângela Maria era a grande estrela feminina. Mas o maior
cartaz de toda a emissora era Mazzaropi. Herói sertanejo, fazia o Jeca, com
enorme sucesso. Astro do disco, grande vendedor e com tanto público para seus
filmes que chegou a construir o próprio estúdio, no interior de São Paulo. Fato
inédito, naquela época, e até hoje.
Numa tarde, estávamos assistindo ao ensaio da Ângela, eu e
Walter Arruda, jovem locutor. Jovem, elegante e bonito, o que imediatamente
chamou a atenção do Mazzaropi. Pelas três razões. Mas acho que principalmente
pelo bonito. Quer dizer, se tivesse que escolher, para falar de um casal lindo
da época, o Mazzaropi acharia muito mais graça no Anselmo Duarte do que na Ilka
Soares.
Mazzaropi veio chegando com aquela malandragem de Jeca,
encostou no jovem e elegante e perguntou:
– Mecê trabáia aqui?
Com aquela voz espetacular do horário nobre, Arruda
respondeu:
– Trabalho sim, senhor.
O “sim, senhor” que anunciava um anonimato assustou um pouco
nosso astro, mas ele resolveu insistir:
– E o que é que ôce faz na rádio?
– Sou locutor – respondeu o Arruda.
– Ah, bão. Por isso essa voz tão bonita num rapaz tão
elegante assim. E comé que ôce chama?
E o diálogo continuou:
– Eu me chamo Walter.
– Warte de quê?
– Walter Flávius de Arruda. E o senhor?
Aí já era demais para o ego do Mazzaropi.
– Ué, ôce não me conhece não?
– Não conheço não, senhor. Não tive esse prazer.
O Mazzaropi indignado:
– Ué, eu sou o Mazzaropi.
E o Walter, supersacana:
– Mazzaropi de quê?
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