Por Fabio
Steinberg
Como
cogumelos que parecem brotar do nada, uma nova categoria surgiu com a
disseminação intensiva da internet. Exímios pilotos de redes sociais, os
influenciadores digitais são uma segunda geração de blogueiros, só que mais
descolados. Ou seja: atraem maior número de seguidores e conseguem acumular
mais curtições.
Este
expressivo volume de gente que segue bovinamente o líder não passou
despercebido no mundo dos negócios. Faltava só monetizar esta oportunidade em
prol de produtos e serviços. E isto aconteceu na calada da noite, lá nas
nuvens, bem longe dos olhos dos usuários das redes sociais.
Com a
desenfreada multiplicação das espécies, ser blogueiro perdeu charme. Virou
carne de vaca. Qualquer pessoa medianamente esperta capaz de dominar as
primeiras letras e com um corretor ortográfico pode escrever sobre qualquer
coisa, ou até sobre o nada. Sempre haverá gente interessada em seguir seus
movimentos.
Assim, os
consumidores viraram massa de manobra. Atrás de aparentes blogueiros
desinteressados que falam maravilhas de uma viagem, hotel, destino, transporte
ou restaurante, há um intenso comércio. Nada é por acaso. Estes escritores de
ocasião são estimulados, e por vezes pagos, para apresentar um local, serviço
ou produto, independente dos méritos.
Há vários
exemplos. Como o caso da Tamyris (Tamy) Roxo. Ela é destas forças da natureza
que deixam rastros de luz por onde passam. Apesar de muito jovem, o seu talento
e sagacidade atraem milhares de adeptos ao site que produz sobre gastronomia, o
boccanervosa.
Outro dia
a Tamy desabafou no Facebook. Foi quando recebeu um e-mail, do qual reproduzo
alguns trechos:
Boa tarde, Tamyris!
Aqui é xxxx, do programa de
influenciadores dos azeites, que terá três meses de duração.
Nós adoramos o seu perfil no
Instagram e achamos que tem tudo a ver com o nosso programa. Por isto,
gostaríamos de convidá-la para participar.
A ideia é que os influenciadores
façam posts no feed do instagram em que os produtos xxxx apareçam usando o
hashtag xxxx… seja no preparo de receitas ou ao lado de um prato, em cima da
mesa… A sugestão é que cada influencer faça cinco posts por mês.
Participando, você terá acesso a
kits mensais de produtos especiais …. e eventos exclusivos da marca!
Depois de
mais benefícios mencionados, o convite conclui:
Cada like nos posts se transformará
em pontos, que podem ser trocados por ainda mais experiências e produtos.
Na sua
deliciosa irreverência, Tamy postou o texto recebido com a sua resposta: “Um
panda morre de catapora toda vez que uma proposta de parceria como essa é
enviada no mundo”.
Infelizmente,
nem todos têm a mesma integridade da Tamy. É preciso destacar também que ela
não é a única. Há muita gente séria neste mercado, e por isto mesmo se sente
prejudicada pelos picaretas de plantão.
Outro
exemplo. Uma recente matéria da revista Veja denunciou uma incrível indústria
de falsas curtidas. Uma blogueira com mais de 100 seguidores no Instagram e 200
mil fãs no Facebook confessou ter sido parte do esquema. Trata-se de grupos que
se formam para criar uma espécie de pirâmide de curtidas.
Funciona
assim: em troca de 350 “likes” diários em perfis designados, o participante
recebe o mesmo benefício em volumes até quadruplicados. Com isto, surgiu até
uma nova atividade: a terceirização das curtidas ao custo de 30 reais mensais.
Gerados os
volumes, é fácil prever as consequências. Os posts deixam de representar a
opinião de quem os escreve, mas sim interesses comerciais. E que nada teriam de
errado se os informes fossem apresentados às claras, para o leitor não ser tratado
como idiota.
Somos
diariamente inundados por inúmeros embustes em forma de posts. Eles nada mais
são que a manipulação grosseira da opinião pública. São envernizados sob a
forma de pseudociência, que ganhou o nome charmoso de “influenciador digital”.
Cabe a cada um de nós distinguir o joio do trigo.
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