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sexta-feira, novembro 24, 2017

Influenciadores digitais? Vamos falar sério!


Por Fabio Steinberg

Como cogumelos que parecem brotar do nada, uma nova categoria surgiu com a disseminação intensiva da internet. Exímios pilotos de redes sociais, os influenciadores digitais são uma segunda geração de blogueiros, só que mais descolados. Ou seja: atraem maior número de seguidores e conseguem acumular mais curtições.

Este expressivo volume de gente que segue bovinamente o líder não passou despercebido no mundo dos negócios. Faltava só monetizar esta oportunidade em prol de produtos e serviços. E isto aconteceu na calada da noite, lá nas nuvens, bem longe dos olhos dos usuários das redes sociais.

Com a desenfreada multiplicação das espécies, ser blogueiro perdeu charme. Virou carne de vaca. Qualquer pessoa medianamente esperta capaz de dominar as primeiras letras e com um corretor ortográfico pode escrever sobre qualquer coisa, ou até sobre o nada. Sempre haverá gente interessada em seguir seus movimentos.

Assim, os consumidores viraram massa de manobra. Atrás de aparentes blogueiros desinteressados que falam maravilhas de uma viagem, hotel, destino, transporte ou restaurante, há um intenso comércio. Nada é por acaso. Estes escritores de ocasião são estimulados, e por vezes pagos, para apresentar um local, serviço ou produto, independente dos méritos.

Há vários exemplos. Como o caso da Tamyris (Tamy) Roxo. Ela é destas forças da natureza que deixam rastros de luz por onde passam. Apesar de muito jovem, o seu talento e sagacidade atraem milhares de adeptos ao site que produz sobre gastronomia, o boccanervosa.

Outro dia a Tamy desabafou no Facebook. Foi quando recebeu um e-mail, do qual reproduzo alguns trechos:

Boa tarde, Tamyris!

Aqui é xxxx, do programa de influenciadores dos azeites, que terá três meses de duração.

Nós adoramos o seu perfil no Instagram e achamos que tem tudo a ver com o nosso programa. Por isto, gostaríamos de convidá-la para participar.

A ideia é que os influenciadores façam posts no feed do instagram em que os produtos xxxx apareçam usando o hashtag xxxx… seja no preparo de receitas ou ao lado de um prato, em cima da mesa… A sugestão é que cada influencer faça cinco posts por mês.

Participando, você terá acesso a kits mensais de produtos especiais …. e eventos exclusivos da marca!


Depois de mais benefícios mencionados, o convite conclui:

Cada like nos posts se transformará em pontos, que podem ser trocados por ainda mais experiências e produtos.

Na sua deliciosa irreverência, Tamy postou o texto recebido com a sua resposta: “Um panda morre de catapora toda vez que uma proposta de parceria como essa é enviada no mundo”.

Infelizmente, nem todos têm a mesma integridade da Tamy. É preciso destacar também que ela não é a única. Há muita gente séria neste mercado, e por isto mesmo se sente prejudicada pelos picaretas de plantão.

Outro exemplo. Uma recente matéria da revista Veja denunciou uma incrível indústria de falsas curtidas. Uma blogueira com mais de 100 seguidores no Instagram e 200 mil fãs no Facebook confessou ter sido parte do esquema. Trata-se de grupos que se formam para criar uma espécie de pirâmide de curtidas.

Funciona assim: em troca de 350 “likes” diários em perfis designados, o participante recebe o mesmo benefício em volumes até quadruplicados. Com isto, surgiu até uma nova atividade: a terceirização das curtidas ao custo de 30 reais mensais.

Gerados os volumes, é fácil prever as consequências. Os posts deixam de representar a opinião de quem os escreve, mas sim interesses comerciais. E que nada teriam de errado se os informes fossem apresentados às claras, para o leitor não ser tratado como idiota.


Somos diariamente inundados por inúmeros embustes em forma de posts. Eles nada mais são que a manipulação grosseira da opinião pública. São envernizados sob a forma de pseudociência, que ganhou o nome charmoso de “influenciador digital”. Cabe a cada um de nós distinguir o joio do trigo.

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