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sexta-feira, julho 15, 2011

Aula 9 do Curso Intensivo de Rock: Shania Twain, Paul Brandt e Elwood


Shania Twain e Paul Brandt pertencem ao grupo exclusivo das Cinderelas, ou seja, daquelas figuras que surgem para o estrelato do dia para a noite.

Outros pontos em comum: ambos são canadenses, dizem-se inovadores do gênero country e trocaram parcialmente o local de origem pelos Estados Unidos.

Ela vive numa propriedade rural, como gosta, no Estado de Nova York.

Ele, sem cerimônia, radicou-se em Nashville, a capital do country americano, embora se mantenha fiel à Calgary natal.

Shania já vendeu mais de 12 milhões de exemplares do seu segundo CD “The Woman In Me” (tema da novela “O Rei do Gado”, em versão interpretada por Roberta Miranda) e mais de 4 milhões de “Come On Over” (1997).

É considerada uma rainha do country, nos EUA.

Assim foi saudada pela revista Newsweek, já em 1996.

Há poucos anos, quando lançou o DVD “Wild And Wicked”, saiu na capa da Rolling Stone.

Seu estilo é um tanto polêmico.

Acusam-na, por exemplo, de usar muito tempero pop nas suas composições, feitas com a parceria do marido John “Mutt” Lange, que trocou as produções de rock pelo gênero de música da mulher.

Mas, apesar disso, ela se mantém firme ao tipo de country de expressão tradicional: emoções e idéias simples, cotidianas, ditas de maneira direta, comovente e, no caso dela, quase sempre bem-humorada.

Dona de um carisma forte, voz delicada e caprichando num tom de mormaço sensual, ela é capaz de reunir milhares de pessoas não para um show, mas para uma simples tarde de autógrafos, em Calgary ou em Minneapolis.

Aos 34 anos, ainda se sentia insegura para enfrentar um palco, deixando que os discos se vendessem “milagrosamente” por si mesmos.

Seu primeiro show, no entanto, seguiu a rotina do sucesso.


Shania (o nome, que é pseudônimo, vem do idioma indígena Ojibwa, falado por parte de seus antepassados, e quer dizer “aquela que segue o próprio caminho”) é uma guerreira.

Lembra com freqüência a infância paupérrima em Timmins, onde era a garota que levava o pior lanche para a escola.

Depois conta que, se comprava cordas para a guitarra, isso significava uma semana sem leite.

Apesar disso, ou talvez por causa disso, ela não gosta de amarguras.

Seus pais adotivos morreram num acidente quando a moça tinha 21 anos e ela ficou com três irmãos para cuidar.

As canções dessa guerreira, porém, são geralmente divertidas.

A cantora não tem nenhum falso pudor de dizer que procura fazer o que o público espera.

Só que, como foi observado pela Rolling Stone, ela possui um motto, e esse motto parece derivar do fascínio, simplesmente, de estar viva.

E considera estar viva um desafio a ser enfrentado com garra e bom humor.

Isso perpassa as letras e lhes confere um charme extracomercial.


Brandt tem apenas 31 anos (nasceu no dia 21 de julho de 1972) e, nos últimos anos, firmou-se no palco.

Seu show da temporada 2000/2001 foi aplaudido de fora a fora no Canadá.

“Nosso conterrâneo, o garoto Paul Brandt, chegou à maioridade e é um artista acabado, dominando o palco”, observou a atenta editora de country do jornal Calgary Sun, Anika Van Wyk, que acompanha a carreira do cantor-compositor desde o início e despertou atenções para ele.

Brandt faz a figura do caubói simpático, boa-praça, maliciosamente ingênuo.

A propósito, ele é boa-praça mesmo.

Filho de paramédicos, trabalhou como enfermeiro num hospital para crianças em fase terminal, na sua cidade, até ser descoberto num concurso musical, o que o levou rapidamente ao primeiro CD, “Calm Before The Storm” (1997), e a diversos prêmios de revelação, com ênfase na “originalidade”, o que mais interessa a quem procura novidades na country music.

Barítono, pertence à linhagem nobre de Johnny Cash, mas, como diz, sempre procura ouvir os artistas mais recentes e com tendências individuais mais marcantes – sua música, como a de Shania, pega mesmo quem torce o nariz para o country.

E sabe trabalhar a voz de maneira impetuosamente juvenil, como na eletrizante “Chain Reaction” e na explosiva “Yeah”, do segundo CD, “Outside The Frame”, lançado em 1998.

De Shania, os dois últimos CDs estão disponíveis no Brasil, editados pela PolyGram.

De Brandt, só o primeiro, “Calm Before The Storm”, lançado pela WEA de maneira quase secreta em 1997, subvertendo uma lei básica do show biz que é a divulgação exacerbada.


Uma pena, pois no primeiro CD é possível perceber um talento em evolução e que se descobre a cada nova experiência artística.

O rapaz canta de maneira expressiva e criativa não só as próprias composições como também o clássico de “Pass Me By”, de Johnny Rodríguez, que ele homenageia, mantendo um pouco o velho estilo.

Isso se repete, para melhor, no segundo disco, onde o humor é mais trabalhado e as composições mais complexas, como a que dá título ao conjunto, “Outside The Frame”, sobre uma garota que permanece como lembrança na moldura da foto, enquanto lá fora a vida continua sem “falsas ilusões”.

Suas composições são sempre bem sortidas em temas e climas.

Ele passa da jovialidade romântica de “Yeah” para o tom romântico-melancólico de “Outside The Frame” ou “Dry Eyes” sem provocar estranheza no ouvinte.

É sempre o mesmo bom caubói de Calgary, disposto a promover mais um espetáculo beneficente para o hospital onde trabalhou e de improvisar uma canção para o casamento de amigos (fez isso e depois virou sucesso: “I Do”).

Fortemente impressionado após uma viagem à África e fiel ao passado, ele tem feito campanha em favor das crianças daquele continente, nos shows, enquanto divulga o terceiro CD, “That’s The Truth” (1999).


O country singer Elwood, entretanto, é um caso à parte.

Ele nasceu nos cafundós da Carolina do Norte, na Costa Leste dos Estados Unidos, onde costumava ouvir os velhos discos de country do seu avô paterno, um inveterado fã do estilo.

Mas Prince Elwood Strickland III – ou simplesmente Elwood – viria a ter uma história musical bem diferente da de seus antepassados.

Ainda adolescente, mudou-se para Nova York, onde passou a morar no bairro boêmio de Soho.

Naquele fervilhante ambiente, adquiriu uma mania instantânea: o rap, o som negro das ruas da metrópole, que começou a venerar, apesar de ser um caipira branquelo.

Elwood aprofundou-se na devoção ao estilo, nas técnicas de gravação e logo estava freqüentando as rodinhas descoladas dos rappers no pedaço.

No começo dos anos 90, já era engenheiro de som do estúdio Greene Street, onde teve a oportunidade de trabalhar com artistas do calibre de Tricky, De La Soul e Jungle Brothers, entre outros, em experiências que desenvolveram tremendamente sua musicalidade.

Ali também conheceu o produtor, compositor e multiinstrumentista Brian Boland, o seu mais constante parceiro quando começou a trabalhar com material próprio.

Juntos, produziram uma demo que serviu de ponte para que Elwood lançasse o álbum de estréia “The Parlance Of Our Time” (2000).

Para definir a sonoridade do disco, imagine um cruzamento de vocais e batidas de rap com pop, country, folk, funk e jazz, bem ao estilo Beck.


Elwood também nada nesta praia, atualizando referências tradicionais.

A faixa de abertura já é prova cabal disso: uma releitura de “Sundown”, canção com a qual o trovador folk Gordon Lightfoot alcançou o primeiro lugar da parada americana em 1974.

Transformada em country rap na versão de Elwood, acabou repetindo o mesmo feito.

O detalhe é que tanto “Sundown”, quanto “Red Wagon” e “Picture Of You” foram produzidos pelo britânico Steve Lilywhite (célebre por seus trabalhos com U2, Rolling Stones, Talking Heads, Morrissey e outros).

Envoltas em arranjos basicamente acústicos, as canções provam que Elwood, além de produtor, também é um compositor de talento, além de eclético instrumentista.

Outros destaques são as intervenções de soul/jazz dos metais em “Slow”, “Peaches” e “Dive”, e a levada country de “Forty Five”.

Sem contar “Bush” (com samples de “Season Of The Witch”, do baladeiro psicodélico escocês Donovan), onde Elwood fica na dúvida se arrasta uma garota para detrás de uma moita ou se a leva para curtir o centro da cidade.

Em resumo, se você gosta de Beck, vai adorar Elwood.

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