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segunda-feira, julho 11, 2011
Aula 17 do Curso Intensivo de Rock: Delmark
E já que falamos no passado, não custa lembrar que Otis Rush, Magic Sam, Junior Wells e Little Walter são algumas das feras que passaram pela gravadora Delmark.
Hoje, com mais de quatro décadas de história e reconhecida como uma das principais companhias da indústria fonográfica ligada ao blues – principalmente pela tradição de garimpagem, que a levou a mostrar ao mundo artistas que poderiam ter passado despercebidos –, é difícil imaginar que ela tenha surgido no mais clássico esquema “fundo de quintal”. Mas assim foi.
A Delmark é principalmente fruto do trabalho de Roberto Koester, insolitamente branco, judeu e nascido no estado americano do Kansas, em 1932.
No início da adolescência, Bob não desgrudava do rádio, atrás de ouvir ídolos como Fats Waller, Zutty Singleton e Coleman Hawkins.
Logo o rapaz começou a correr atrás de shows.
Encontrar artistas, naqueles tempos sem Internet ou Ticket Center, passou a ser uma das grandes motivações de sua vida.
No segundo grau, ele já era um respeitável colecionador de discos, sendo que a maior parte deles tinha sido garimpada em sebos e recolhida de velhas juke boxes.
Ao contrário da maioria dos americanos naqueles anos pós-guerra, ele não suportava o bom-mocismo de Frank Sinatra e achava que vocais eram totalmente dispensáveis na boa música.
Em seu quarto no campus da Universidade de Saint Louis, onde, surpreendentemente, estudava Cinema, Bob começou a vender LPs raros que arrematava nas lojinhas locais.
Logo participou da fundação de uma casa noturna dedicada ao jazz e ao blues, ao lado de músicos locais famosos como Bob Graf e Clark Terry.
Logo Bob abria sua primeira loja de discos, e aos 21 anos ele produzia um compacto do grupo local Wind City Six.
Já naquela época, em 1953, ele tinha uma lojinha chamada Delmark.
O nome é fruto de uma fusão da rua Delmar, endereço do estabelecimento em St. Louis, com a inicial do sobrenome de Bob.
Logo aconteceu o óbvio: a empresa transferiu-se de St. Louis para Chicago, o berço urbano do blues elétrico.
Como é adequado a um selo de blues, principalmente tendo sido fundado nos anos 50, a Delmark baseou a grande maioria de sua produção no passado.
Assim bluesmen de peso como Big Joe Williams, Speckled Red e J.D. Short, que andavam esquecidos – mesmo porque jamais haviam tido condições decentes de gravação ou distribuição –, foram alguns dos primeiros artistas a entrar no catálogo da pequena gravadora.
O mesmo aconteceu com George Lewis e antigas gravações de Little Walter, Muddy Waters, e mais tarde, feras como Jimmy Reed, Magic Slim e Carey Bell.
O grande guitarrista canhoto Otis Rush também passou pela casa, por onde lançou o disco ao vivo “So Many Roads”, gravado em 1975.
Outra fera da guitarra, Magic Sam, andou por ali, com o disco “West Side Soul”, do final dos anos 60.
O catálogo da Delmark aumentou consideravelmente com a inclusão de gravações de pequenos selos independentes.
É o caso da seleção de Junior Wells, “Blues Hit Big Town”, originalmente gravada para o States Records, de Leonard Allen, um alfaiate e policial aposentado, que se tornou o primeiro proprietário negro de gravadora a fazer sucesso nos EUA.
O álbum “Blues Hit Big Town” traz as primeiras gravações de Junior Wells.
Ele tinha 19 anos quando assinou com Allen, mas sua fama já estava estabelecida por ter roubado o lugar do gaitista Little Walter na banda de Muddy Waters.
Considerado o rei dos gaitistas modernos (ou seja, surgido depois de 1945) do blues, Little Walter deu o troco: roubou a banda de Junior Wells, a Aces.
Mas foi uma separação amigável.
Os Aces ainda acompanharam o antigo parceiro ao estúdio em julho de 1953, reunindo-se com o guitarrista Elmore James e o pianista Johnnie Jones para a estréia de Junior Wells.
O magistral Little Walter viveu apenas 38 anos, o suficiente para gravar clássicos que podem ser conferidos na coletânea “The Blues World Of Little Walter”, de 1988.
Reza a lenda que Junior Wells era o único rival à altura de Little Walter em seu instrumento.
Consta que ele foi preso, aos 12 anos, por furtar uma gaita de US$ 2.
Quando o juiz ouviu o garoto tocar as primeiras notas, fez questão de pagar a vítima do próprio bolso para que o moleque ficasse com a gaita.
A maneira possessa como expressava seu lamento por meio da gaita e do microfone, naqueles anos que antecederam o advento do rock’n’roll, tinha a atitude que os ingleses passariam décadas reverenciando e tentando capturar.
Wells acabaria tocando com os Rolling Stones e Van Morrison, reconhecido como um dos grandes intérpretes do blues.
Ele morreu em janeiro de 1997.
A faixa que abre “Blues Hit Big Town” é a versão original de “Hoodoo Man”, que inspiraria “Hoodoo Man Blues”, primeiro álbum do blues moderno de Chicago, lançado em 1965.
Nessa época, Junior Wells começou uma longa parceria com Buddy Guy, com quem veio ao Brasil em 1985.
A coletânea também resgata uma sessão rara de 1954, nunca antes lançada, em que os notáveis Muddy Waters, Otis Span, Willie Dixon e Junior Wells improvisam a canção “Please Throw this Poor Dog a Bone”.
Simplesmente de arrepiar.
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