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segunda-feira, julho 11, 2011
“Gainsbourg” é uma colcha de retalhos da vida do artista francês
da Reuters
Talvez só quem viveu na França de 1969 seja capaz de entender o furor e o escândalo que causaram os gemidos de Jane Birkin na famosa canção Je t’aime… moi non plus, que ela gravou com Serge Gainsbourg, com quem se casou e teve uma filha.
O filme Gainsbourg – O Homem que Amava as Mulheres até tenta, mas não consegue, dar a dimensão exata do que representou essa música, que ao longo das décadas se tornou uma espécie de hino do erotismo.
Nem dá conta da real extensão do carisma de seu autor.
Escrito e dirigido pelo desenhista Joann Sfar, o longa baseia-se numa história em quadrinhos de sua autoria, o que acaba se transformando num defeito.
O personagem central é tão chapado quanto um desenho no papel.
Raramente a história encontra a complexidade humana de Gainsbourg, cujo nome de batismo era Lucien Ginzbourg e que nasceu em Paris em 1928.
Filho de judeus russos, seu pai (Razvan Vasilescu) era pianista, apaixonado por música clássica, e tocava nos clubes da cidade.
Ainda pequeno, sua vida foi muito afetada pela ocupação nazista na França. Ser judeu tornou-se um fantasma que o perseguiu por toda a sua vida.
Ao menos, assim é que mostra o filme, quando seus demônios pessoais literalmente ganham vida e o atormentam.
Em Gainsbourg – O Homem que Amava as Mulheres, Sfar tece uma colcha de retalhos de momentos famosos da vida do cantor e compositor,como seu romance com Brigitte Bardot, que era casada com o alemão Gunther Sachs, e uma viagem à Jamaica.
Há boas resoluções no filme — especialmente envolvendo animação, o que não é surpresa dada a experiência do diretor.
Falta ao longa, no entanto, ir além do mero delírio visual.
Não se esperava, é certo, uma biografia comportada — especialmente em se tratando de Gainsbourg.
Mas o resultado é bastante irregular, especialmente por conta da interpretação um tanto caricata do ator central, Eric Elmosnino (Horas de Verão).
Elmosnino lembra bastante Gainsbourg fisicamente, com seu nariz avantajado e tudo o mais.
Mas, como o filme em si, ele transforma o artista num mito desde suas primeiras cenas.
Assim, faz parecer que o verdadeiro Gainsbourg já nasceu daquele jeito, conquistador, falastrão e sempre disposto a envolver-se numa polêmica.
Além disso, o enredo deixa de lado algumas questões mais controversas da vida de seu personagem: sua suposta misoginia, problemas familiares, o polêmico longa que dirigiu com Jane, Paixão Selvagem (1976), e a relação muito próxima com a filha Charlotte, com quem chegou a gravar uma canção chamada Lemon Incest, quando ela tinha 14 anos, em 1985, com quem também fez um filme chamado Charlotte Forever.
Por fim, o subtítulo arrumado pela distribuidora brasileira - O Homem que Amava as Mulheres – remete diretamente ao filme de François Truffaut, com o qual este não tem nenhuma relação.
Na verdade, o subtítulo original em francês é “vida heróica”, o que tem bastante a ver com a proposta do filme de Sfar: transformar Gainsbourg — com seus tormentos, poesia e, para usar uma palavra da moda, senso midiático — numa espécie de herói de nosso tempo.
Não é bem o que se espera para um filme sobre Gainsbourg, mas, em todo caso, seria um subtítulo mais honesto com o filme e o público.
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