Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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sexta-feira, julho 08, 2011
Aula 24 do Curso Intensivo de Rock: Beatles (Parte 2)
Há alguns anos, durante uma visita ao Rio de Janeiro, George Martin anunciou o fim da exploração pirata do espólio dos Beatles.
“Todos, menos os donos, têm ganhado muito dinheiro com esse material”, disse Martin, eterno produtor e arranjador dos discos do quarteto. “Está na hora de os titulares receberem pelo que lhes pertence”.
Martin falava por Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr, Yoko Ono – e por si mesmo e pela gravadora EMI.
Durante muitos anos, organizou-se em cidades diferentes dos Estados Unidos um festival chamado BeatlesFest.
Era um congresso, um circo, que juntava gente de toda parte do mundo.
Lá, vendia-se de tudo que dissesse respeito aos Beatles.
Takes alternativos de músicas conhecidas, contrabandeados para fora dos arquivos da gravadora por mãos não muito honestas, num procedimento ao que se faziam vistas baças.
Imagens de arquivo, fotos, sobras de gravações – ouro puro.
Piratas internacionais, alguns brasileiros, viveram desse material.
Podia consistir num CD com duas dezenas de takes de John Lennon ensaiando “Stand By Me”, interrompendo a canção, dizendo “Droga, eu não acerto uma”, queixando-se com o técnico – e assim por diante.
Em essência, é desse tipo de refugo que se nutrem os três volumes de CDs duplos da “The Beatles Anthology”.
Um pouco do material pirata recheia, também, as oito fitas com imagens do quarteto – “The Beatles Anthology – Vídeo”.
O texto de apresentação da coleção (as fitas podem ser compradas separadamente) transcreve uma nota do jornal inglês Observer: “Enquanto o Oasis pode gabar-se de ter vendido seis milhões de álbuns em um ano, o grupo de McCartney vendeu 12 milhões de álbuns de sua Anthology em cinco meses. Isso equivale a 24 milhões de álbuns; mais do que os Beatles venderam em seu auge. Em 1996, os Beatles conseguiram o que nenhum grupo depois deles conseguiu: ser maior do que os Beatles”.
Os oito volumes de homevídeo vão aumentar as cifras. São dez horas de conversas, clipes, trechos de filmes, depoimentos. História autorizada.
Derek Taylor, assessor de imprensa da série Anthology, classifica o produto final como “o melhor romance do século 20”. Não é. Mas não pode haver dúvida de que seja dos mais importantes.
Entre planejamento, execução e lançamento, cinco anos foram gastos.
Uma versão reduzida – com cinco horas de duração – chegou às televisões e foi vista por quase 500 milhões de pessoas. Essa de agora, integral, começa com a guerra.
No primeiro volume (1940-1963), John, Paul, George e Ringo falam de infância, rock’n’roll, Elvis Presley.
John e Paul recordam o primeiro encontro, numa festa de igreja, contam como George foi recrutado, lembram Stuart Stucliffe, Pete Best, a viagem a Hamburgo, as bolinhas, as namoradas stripers.
George Harrison foi deportado porque era menor. Paul foi parar na cadeia.
No Cavern Club conhecem Brian Epstein, que lhes mudou as roupas (as roupas de couro pelos ternos) e o baterista (impôs Ringo Starr, o que provocou vaias e pancadarias).
Segue-se o encontro com George Martin, o sucesso com “Love Me Do”, a recusa em gravar um sucesso alheio e a explosão de “Please, Please Me”.
O volume 2 vai de março de 1963 a fevereiro de 1964. É o período do nascimento da beatlemania.
Os quatro estão sitiados em suas casas, em Liverpool, fugindo do assédio dos fãs histéricos. “From Me To You” e “She Loves You” são as músicas das paradas.
Os Beatles quebram o recorde de vendas de Elvis Presley e “I Want To Hold Your Hand” chega ao primeiro lugar na parada norte-americana.
Eles voam para Nova York, vão conquistar a América.
O período abordado pelo terceiro volume é menor: de fevereiro a julho de 1964.
Os Beatles viram capa das revistas Time e Newsweek, fazem o programa de televisão de Ed Sullivan, para quem respondem bobagens adolescentes (Millôr Fernandes detectou ali o que chamava de “intraduzível humor Beatle”, que estaria logo depois no livro “In His Own Write”, de Lennon, e não estava falando mal).
Imagens do primeiro show nos Estados Unidos e as filmagens de “A Hard Day’s Night” – e a volta a Liverpool – encerram o segmento em cenas empolgantes.
Entre agosto de 1964 e agosto de 1965, período do quarto volume, os quatro trocaram as limusines por carros blindados, daqueles de carregar valores, fumam maconha na segunda visita aos Estados Unidos e se divertem com Bob Dylan, que os havia apresentado a marijuana.
Numa folga, preparam-se para filmar “Help!” Paul McCartney conta que acordou um dia com “Yesterday” na cabeça. Havia sonhado com a canção.
Recebem a Medalha do Império Britânico no Palácio de Buckingham e fumam maconha no banheiro real.
A sisuda Inglaterra rendia-se ao seu mais rentável produto comercial.
Os Beatles obteriam em seguida, no Shea Stadium, nos Estados Unidos, um público recorde – assunto tratado no quinto volume –, mas não conseguiam ouvir a própria música por causa dos berros do público.
Conhecem Elvis em sua casa e gravam, em 1965, “Rubber Soul”. No ano seguinte, “Revolver”.
Músicas como “Tomorrow Never Knows”, “Eleanor Rigby”, “Paperback Writer” estão mudando a história do pop.
Eles não têm mais como aceitar convites para se apresentar na televisão.
Passam a filmar as músicas e os filmes vão para o ar.
“De certa forma”, diz Paul, “nós inventamos a MTV”.
Viajam ao Japão – o sexto volume (julho de 1966 a junho de 1967) trata da visita a Manila, nas Filipinas, e do constrangimento do convite do casal Marcos para uma visita oficial ao palácio do governo. Eles não foram.
Desistem dos shows ao vivo em seguida e recolhem-se para gravar “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”.
Discute-se “A Day In The Life” e Paul McCartney admite que tomou LSD.
Entre julho de 1967 e o mesmo mês de 1968 houve o tal “verão do amor”, cultivado planetariamente.
A trilha sonora – está no sétimo volume – é “All You Need Is Love”, que George Harrison classifica como “sutil jogada de relações públicas para Deus”. Mas eles mudam de lado.
Abandonam o desbunde pela meditação transcendental (e o mundo vai junto), filmam “Magical Mistery Tour” para a TV, lançam “Hello, Goodbye”, abrem a Apple Boutique – Epstein havia morrido de overdose de heroína, enquanto isso – e criam o selo Apple: James Taylor, Ravie Shankar, The Modern Jazz Quartet lançam discos por ali.
O Submarino Amarelo e Yoko Ono aparecem mais ou menos ao mesmo tempo. No último volume, julho de 1968, o fim, quando o sonho acabou.
A morte de George Harrison, em novembro de 2001, sepultou definitivamente o sonho de uma reunião dos Beatles, delírio que vinha mobilizando gerações de beatlemaníacos.
Nunca foi um desejo factível, porque os Beatles cuidavam diariamente de enterrá-lo, mas o que é a vida senão um sonho?
Mais arredio que o resto do grupo, antes, durante e depois da fama, Harrison ficou conhecido como o “Beatle calado”, mas manteve intensa carreira solo desde o fim dos Beatles, em 1970.
Quando esteve na Índia, com Ravi Shankar, em 1966, George Harrison descreveu sentimentos contraditórios.
Estava descobrindo sua faceta espiritual, mas ao mesmo tempo dizia que era o lugar perfeito para experimentar LSD.
“Foi a primeira sensação que tive de estar livre de ser um Beatle ou um número”, ele declara, no livro “The Beatles: Antologia”, lançado pela Cosac Naify no Brasil.
Ser um Beatle, para os quatro fabulosos de Liverpool, sempre foi um peso, embora sua breve existência tenha representado uma suave redenção para a música popular moderna.
E George Harrison, entre os quatro Beatles, representa sua porção mais inventiva, musical propriamente dita, estruturada numa profunda raiz familiar – tanto o pai quanto o avô tocavam instrumentos de sopro – e numa grande curiosidade pela tradição musical do Oriente.
“Foi um caso de amor muito unilateral”, ele disse, sobre os Beatles e seus fãs. “As pessoas davam seu dinheiro e davam seus gritos, mas os Beatles davam seus sistemas nervosos, que é uma coisa muito mais difícil de dar”, ponderou, em seu balanço final.
Nascido em fevereiro de 1943, o menino suburbano Harrison encaminhou os Beatles em direção à música indiana e contracenou com grande parte do teatro pop dos anos 60, 70 e 80.
Organizou o famoso “Concert for Bangladesh”, em 1971, com um lineup que incluía Ringo Starr e Eric Clapton.
Tocou com Roy Orbison, Bob Dylan, Jeff Lynne e outros na banda all-stars Travelling Wilburys.
Em 21 de janeiro de 1966, casou-se com Pattie Boyd, que tinha feito uma breve aparição no filme “Os Reis do Iê-Iê-Iê”, em 1964.
Divorciou-se dela em 1977 – mais tarde, a moça se casaria com Eric Clapton, que fez para ela uma de suas canções mais famosas, “Layla”.
“Minha tendência, quando tomamos rumos distintos, foi desfrutar o espaço que aquilo (The Beatles) me concedia, o espaço para ser capaz de pensar em meu próprio ritmo e conseguir levar alguns músicos para o estúdio, que pudessem me acompanhar em minhas canções”, anotou.
Suas canções – que não encontravam muito espaço entre o talento e a centralização de McCartney e Lennon – ficaram eternizadas com os Beatles.
Ele foi o autor de “While My Guitar Gently Weeps”, “Taxman”, “Love You To”, “Savoy Truffle”, “Here Comes The Sun”, entre outras.
Mas também fora da banda, em álbuns como “All Things Must Pass”, produzido por Phil Spector, com o hino “My Sweet Lord”.
“Gostaria de pensar que os velhos fãs dos Beatles cresceram e todos têm filhos e são mais responsáveis, mas que ainda têm espaço para nós em seus corações”, disse Harrison. Um espaço eterno.
No começo da “beatlemania”, os fãs de Dylan e dos Beatles andavam de lados opostos.
O primeiro era cultuado por universitários que sentavam silenciosos em seus shows, ouvindo cada sílaba do menestrel.
Era o tipo de gente que não se juntaria às adolescentes que lotavam os estádios para gritar ao som do grupo inglês.
Para eles, guitarras e músicas nas paradas de sucesso não passavam de oportunismo.
Mas, em 1964, até os Beatles sucumbiram aos encantos de Dylan.
“Quando ouvimos seus discos, ficamos loucos”, declarou John Lennon.
Embora seus colegas desprezassem o grupo de Liverpool, os instintos do trovador de Minnesota (EUA) indicaram que algo muito forte estava acontecendo.
“Os Beatles estavam fazendo coisas únicas. Vi que não precisava ser assim”, disse Dylan.
Ele ficou abismado com a versão roqueira de “The House Of The Rising Sun” (tradicional canção folk que gravara em seu primeiro LP) feita pelos Animals.
E logo comprou uma coleção de guitarars elétricas.
Como já foi dito, os Beatles voltaram à América para a turnê de verão de 1964.
Tocaram em Nova York, ficando hospedados no badalado Hotel Delmonico.
Finalmente, no dia 28 de agosto, eles tiveram a chance de conhecer Dylan cara a cara.
O encontro foi armado por um amigo em comum, o crítico musical Al Aronowitz, a pedido de Lennon.
Nessa ocasião histórica, Dylan apresentou a maconha para os Beatles.
Apesar de meio receosos, os quatro experimentaram o fumo.
Mas a influência dele sobre a banda foi muito além disso.
O próprio Lennon afirmou: “Não achava que as letras valessem alguma coisa. Até que Dylan veio para mim e falou: ‘Preste atenção nas palavras, cara!’.”
Coube ao grupo The Byrds unir os dois universos. Formado por veteranos da cena folk, o quinteto californiano assistiu ao filme “A Hard Day’s Night” e percebeu que o futuro do pop estava nas guitarras elétricas.
Por conta disso, gravou “Mr. Tambourine Man”, do amigo Dylan, usando harmonias e instrumentação no estilo dos Beatles. Nascia o termo “folk rock”.
Assim, no verão de 1965, todos passaram a levar o rock a sério.
Graças a Dylan e a outros renegados, o gênero recebeu uma injeção de poesia e protesto social.
Muitos astros pop, como Turtles, Manfred Mann e Sonny & Cher, vasculharam o catálogo americano atrás de possíveis hits e canções de qualidade.
De repente, todo mundo “tinha algo a dizer”.
Enquanto isso, Dylan também estava mudando drasticamente seu som.
No festival de Newport, também em 1965, ele despertou a ira dos radicais fãs de folk ao entrar no palco empunhando uma guitarra elétrica e acompanhado por uma banda de rock. Foi vaiado e chamado de Judas.
Ele se vingou imediatamente, quando “Like A Rolling Stone” (um velado ataque aos conservadores) subiu como um foguete na lista dos compactos mais vendidos.
Em seguida, soltou dois discos devastadores: “Bringing It All Back Home” e “Highway 61 Revisited”.
De volta à Inglaterra, a primeira canção dos Beatles a trazer uma levada inspirada por Dylan foi “I’m A Loser”, de Lennon.
A harmonia folk e a letra pessimista não escondiam isso.
No álbum “Help!”, o guitarrista destilou mais amargura na faixa-título e em “You’ve Got to Hide Your Love Away”. Essa transição foi sintetizada no disco “Rubber Soul”.
Basicamente acústico e cheio de inventividade, o disco trazia comentário social (“Nowhere Man”) e mensagens utópicas (“The Word”).
Já na faixa “Norwegian Wood”, Lennon usava uma linguagem oblíqua à Dylan.
Ninguém sabia se ele estava falando de maconha, de um caso amoroso ou se era puro besteirol.
Dylan entendeu o recado e gravou no LP “Blonde On Blonde” (1966) uma paródia de “Norwegian Wood” chamada “4th Time Around”.
Anos depois, Lennon comentou: “Éramos muito paranóicos em relação a tudo o que ele fazia. Não sabíamos se iríamos conseguir gravar algo no mesmo nível”.
Depois disso, a influência mútua passou a ser mais “conceitual” do que sobre algum estilo musical específico.
Mas, acima de tudo, Dylan mostrou aos Beatles que eles poderiam fazer o que quisessem, do jeito que desejassem. Não foi pouca porcaria.
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Um comentário:
Simão
tudo bem?
Você vai me perdoar, eu não sei como eu
posso chamar isso, mas
eu não concordo.
As coisas não foram tão simples assim.
Antes me permita dizer que gosto da música que os Beatles criaram
O que está no disco é incrível
Conseguiram: virou clássico tipo Bach, Mozart, etc...
Eu pesquiso esses caras e, me perdoe Simão as coisas não foram tão simples assim
Beatles foi um negócio de gente com um poder financeiro inacreditável e que descobriram um nicho de mercado e investiram pesado na implantação e colhem os frutos até hoje
É impressionante
E óbvio como todo bom investidor e criador de business eles "limpam" e
aparam as arestas para que "nenhuma sujeira" fique visível
Mas pode acreditar a história não foi bem assim
Você é uma pessoa madura e pode entender muitos aspectos que fãs comuns não podem porque estão "cegos" e o chip deles é feito para ser fã
Óbvio a música ficou
É super válido
Deixaram um caminho para um monte de gente
Movimentaram a indústria toda
Tudo bem
Tudo isso é válido
Mas a história não foi bem assim....
Abração
Rui
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