Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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segunda-feira, julho 11, 2011
Aula 16 do Curso Intensivo de Rock: Buddy Guy
O bluesman Buddy Guy, outra reserva moral do blues de Chicago, voltou à praça com um disco novo, “Sweet Tea” (Zomba Records), em 2001.
Como Otis Rush, Buddy é um dos últimos representantes de uma linhagem do blues que conecta a tradição rural do Sul (de onde veio) com a eletricidade frenética de Chicago (onde vive).
E também é uma espécie de mascote da noite brasileira desde os anos 80, quando começou a excursionar por aqui com o gaitista Junior Wells.
“Foram tantas idas e vindas, tudo sempre tão às pressas, que agora estou tentando aprender algo sobre a música brasileira”, explicou Buddy.
“Quando estou tocando no Brasil, eu sempre desço até a platéia com a minha guitarra, é um lugar que me deixa completamente à vontade”, contou.
De uma vez que esteve aqui, no Via Funchal, em 2000, ele refez esse percurso de palco e platéia e dançou com uma moça com deficiência visual.
Curiosamente, ela era sua fã, mas gostava de tocar bateria e não quis dedilhar a guitarra que Buddy lhe ofereceu.
“Lembro-me bem daquilo, foi uma cena muito emocionante”, afirmou. “É por me ter dado momentos como esses que eu amo o Brasil, que é o meu lugar favorito para tocar”, ponderou.
Buddy, que foi um dos artistas presentes ao Concerto para Nova York, espetáculo beneficente em prol das famílias das vítimas do atentado terrorista nos Estados Unidos, também comentou o caso.
“Como todo mundo no planeta, eu fiquei horrorizado com aquilo e muito triste”, afirmou. “Mas eu não odeio ninguém e não consigo imaginar como pessoas que se dizem religiosas são capazes de cometer um ato desses – a religião, para mim, é uma ligação com Deus, com as coisas íntimas do nosso ser.”
Nascido em 30 de julho de 1936, em Lettsworth, Louisiana, como George Guy, Buddy toca desde a infância.
Segundo ele mesmo conta, começou a tocar guitarra influenciado por John Lee Hooker.
“Tudo começou quando ouvi ‘Boogie Chillen’, o primeiro single de John”, conta.
Desde então, passou a seguir os passos do mestre.
“Tornamo-nos amigos e eu devo dizer que é um sujeito que realmente vai fazer falta”, conta. “Ele viu o blues sair dos pequenos clubes, tornar-se uma música mais popular no mundo todo e também sentiu, com tristeza, que o blues foi banido de novo das estações de rádio, que não toca nas grandes emissoras de TV e, portanto, não há chance de as novas gerações ouvirem o blues como ele deve ser ouvido”, afirmou.
Quando tinha 13 anos, Buddy Guy construiu sua primeira guitarra, de madeira.
“Ouça: eu não vejo o blues como um gênero restrito a um lugar, a uma terra”, afirmou. “Há grandes instrumentistas no Brasil e tudo que você precisa para tocar bem o blues é amar a música que toca”, ponderou.
Muito cedo, ele se tornou um músico de estrada.
Há uma história, contada repetidas vezes, que uma vez Eric Clapton o ouviu tocar e disse: “Trata-se do maior guitarrista do planeta.”
Quem já o viu em cena – esteve no Brasil sete vezes – sabe que, apesar do exagero, Buddy é um dos melhores do panteão.
No final dos anos 50, Buddy Guy venceu uma daquelas competições olímpicas de blues, Battle of the Blues, em Chicago, e tomou coragem suficiente para apresentar-se a um deus do gênero, Muddy Waters.
Que não se fez de rogado e adotou o jovem oferecido como seu partner.
“Pode-se dizer que Muddy Waters foi a pessoa que me descobriu e mais me incentivou no início da minha carreira”, diz o guitarrista.
Seu primeiro single, “Stone Crazy”, foi lançado em 1962. Dois anos depois, lançou o disco de estréia, “Crazy Music” (1965).
Novos discos se seguiram: “I Let My Blues In San Francisco” (1967), “Blues Today” (1968), “A Man In The Blues” (1968).
Depois, veio a parceria com Junior Wells.
Ainda assim, não era ainda a hora de o blues atingir status de supergênero, e ele continuou sendo freguês assíduo das boas e pequenas casas do ramo da América, como o clube Thereza’s, de Chicago.
“As coisas mudaram um bocado desde aquela época, mas o fato é que o blues ainda é visto com reservas, é pouco conhecido e confinado a um gueto, embora tenha melhorado sensivelmente sua apreciação”, conta.
Realmente, muita coisa mudou.
Ele ganhou, nesses anos todos, quatro Grammys.
E ainda por cima é dono de um night club, o Legends, onde tem uma concorrida agenda acertada para o ano inteiro.
Apesar de ter sido assimilado e ter-se tornado uma das maiores estrelas do blues da atualidade, ele mantém seu lado militante.
Com “Sweet Tea”, Buddy mostrou uma grande sintonia com as raízes, revelando que, muitas vezes, o futuro da música pode estar no passado.
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