Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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sexta-feira, julho 15, 2011
Aula 1 do Curso Intensivo de Rock: Country Music / Hillbilly Music
No início do século 20, no sul dos Estados Unidos, mais precisamente na região das Montanhas Apalaches, surgiu uma música predominantemente acústica, fortemente influenciada pelas músicas folclóricas dos colonizadores ingleses, irlandeses e escoceses que viviam na região.
Na falta de melhor nome essa música, uma espécie de trilha sonora perfeita para as historietas da família Buscapé, foi chamada de “country music” (“música rural”).
Pelo simples fato de ter nascido numa região montanhosa de forte vocação agrícola (o estado de Tennessee), a música country não sofreu nenhuma influência da industrialização acelerada que sacudiu o resto dos Estados Unidos no início daquele século e pôde se desenvolver fiel às suas origens caipiras.
O que caracterizava a country music eram suas letras simples, diretas e com temas que mantinham alguma relação com a própria vida dos cantores: a tradição do campo, os valores sagrados da família, a apologia da propriedade rural, a universal dor de cotovelo e o desbravamento do oeste americano.
No campo instrumental, havia a predominância de sons acústicos de instrumentos como o violão com corda de aço, o banjo, o violino e a rabeca.
O padrão visual dos músicos sertanejos com suas roupas amarfalhadas (sempre dando a impressão de que todos pareciam ter dormido no assoalho do mesmo saloon), a voz analasada dos cantores sulinos (marca registrada do gênero), o eterno vocalista no frontside com seu inseparável chapéu de cowboy e seu insuspeito par de botinas enlameadas, traduziam integralmente o espírito country.
Nos anos 30, quando a música country começou a sair da roça, os críticos nortistas, que não viam com bons olhos essa grande cafonice oriunda do sul dos Estados Unidos dando as cartas no cenário musical, começaram a cair matando.
Além de só se referirem ao gênero, em tom de deboche, como “música caipira” (“hillbilly music”), escreviam que, no mínimo, aquilo era coisa de velhos estancieiros bregas com dor-de-corno manso ou gracinhas inconseqüentes de meia dúzia de capiaus analfabetos à beira de um ataque de nervos.
Nenhum deles imaginava que o hillbilly teria uma importância seminal na historiografia do rock.
A primeira gravação de música country data de 1922.
Ela se chamava “Sally Goodin” e foi gravada por um tocador de rabeca chamado Eck Robertson.
Entretanto, o grande impulso dado ao gênero foi o programa de uma rádio de Nashville, chamado “Grand Ole Opry”, que revelou grandes nomes do gênero.
A velha ópera continua sendo transmitida ainda hoje, sempre aos sábados, com músicos tocando ao vivo.
Foi a partir desse programa que Nashville se tornou o epicentro da música country.
Ainda hoje, quem desembarca no aeroporto internacional de Nashville esperando encontrar um batalhão de homens altos, de camisa xadrez, jeans apertados e bota de bico fino não vai se decepcionar.
Eles estarão por lá, vivendo sua vidinha de sempre.
Mas se você acha que em torno desses caubóis urbanos se espalha uma paisagem campestre, digna do filme “Amargo Pesadelo”, tire seu cavalinho da chuva.
No lugar do tocador de banjo entra a jovem executiva e, em vez de charretes, você encontra carros moderníssimos circulando pelas ruas.
Na linha do horizonte, quem espera ver um chapelão de concreto estilizado dá de cara com um edifício pós-moderno, de arquitetura ousada, cujo formato lembra mais o homem-morcego do que a família Buscapé.
Não é por acaso que esse prédio é apelidado de “bat-building” – seu desenho faz lembrar imediatamente a máscara do Batman dos cinemas.
Fundada no Natal de 1779, a capital do Tennessee é uma miniatura de cidade moderna, com alguns arranha-céus para marcar o centro e uma infinidade de casas e vilarejos espalhados num raio imenso.
Com cerca de 1 milhão de habitantes, é uma cidade pequena, porém ajeitada.
E muito, muito religiosa.
São cerca de 800 templos, representando as mais variadas vertentes – do judaísmo aos evangélicos, passando pelos templos batistas e seus corais gospel.
Não são as romarias e peregrinações, entretanto, que incluem Nashville no roteiro de muita gente.
Desde os anos 20, graças a um programa de rádio que conquistou o país, é a música que faz a fama da cidade, atraindo fãs anônimos e astros de primeira grandeza no mundo do estilo country.
Pense em quem você quiser, de Dolly Parton a Elvis Presley – todos estiveram lá.
Só o rei do rock, que viveu e morreu em Memphis, a poucas horas de Nashville, gravou mais de 200 músicas no Studio B da RCA.
Quando anuncia aos quatro ventos que seu lema é Music City, Nashville não está brincando.
A música realmente manda na cidade.
Em qual outro lugar você encontraria um bairro como Music Row, onde se instalaram dezenas de estúdios de gravação de discos?
No encontro da Segunda Avenida com a Broadway, no centro, outra dezena de bares disputa os clientes que caminham pela calçada oferecendo qualquer gênero musical, exceto lambada e pagode.
E aí vem uma surpresinha nashvilliana: além do estilo country, há palcos para blues, rock e baladas, todas tipicamente americanas.
A única cidade americana que empata com Nashville na fama de caldeirão musical é New Orleans, em Louisiana.
Mas há algumas diferenças básicas entre as duas.
New Orleans investiu pesado no French Quarter, o bairro antigo e restaurado onde ficam bares e casas noturnas especializadas em jazz.
Sempre jazz, especialmente o mais tradicional.
Nashville foi por outro caminho: investiu na música profissional, atraiu grandes nomes do cenário artístico e, de quebra, estimulou a abertura de bares e restaurantes, cujo cardápio inclui, sem exceção, shows ao vivo.
Se seu tempo for curto, analise com calma o leque de opções da cidade e escolha o que melhor mostra a cultura musical de Nashville.
Na sua lista não faltará o Country Music Hall of Fame and Museum.
É o grande pavilhão dos artistas country americanos.
Você vê de tudo lá: dos primeiros vestidos de Dolly Parton ao piano dourado usado por Elvis Presley.
Há também uma série de tributos a alguns artistas que só mesmo fãs radicais poderiam reconhecer.
Você pode ir direto à seção de instrumentos musicais.
Com ajuda de computadores, o visitante escolhe um instrumento e ouve o som que ele faz na banda.
A falha histórica do museu, no entanto, está na seção dedicada aos cartazes dos filmes rodados em Nashville.
Há dezenas, exceto “Nashville”, de Robert Altman.
“Nunca ouvi falar desse filme”, diz a guia, pega de surpresa.
Feito em 1975, o filme de Altman demole a imagem da indústria cultural country.
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