Pesquisar este blog

domingo, julho 31, 2011

Célula, Celulite, Celular, Celulose, Celulari...


Lúcio M. S. B. Menezes

Primeiro fui estrutura microscópica, um núcleo que um dia guardou o meu material genético, nesse estágio eu já era um ser vivo e a biologia me classificou como célula.

Saí da vida inter uterina, absorvi o impacto da luz e chorei, era uma tarde do dia 31 de julho de 1956, na casa nº 8 da Vila Martins, na Rua Jonathas Pedrosa.

Deram-me o nome de Lúcio, parece que era o nome da moda, moda que, definitivamente, não teve o sucesso dos Claudios, Marcelos, Danieis ou Diegos.

Aos doze anos soube que não poderia mais ser doador de sangue, contrai hepatite, lembro que babava quando via meus irmãos comendo comida caseira com o sabor inigualável do paladar de mãe - só pensar me dava água na boca.

Humm!

Lembrar dos condimentos que ajudavam no aprimoramento do gosto gostoso da comida da mamãe era uma tortura.

Mas eu tinha que comer doce, só doce, foi tanto biscoito “suspiro” que enjoei.

Derramei lágrimas de felicidade quando me foi permitido comer macarrão sem qualquer tempero, foi extasiante.

Derramei lágrimas de tristeza quando, depois da dieta de doces que a hepatite me impôs, percebi o surgimento das minhas - até hoje inseparáveis - “cartucheiras” e os furinhos de celulite que, da mesma forma, nunca mais me abandonaram.

Homem também tem celulite.

A primeira cidade brasileira a usar a Telefonia Móvel Celular foi o Rio de Janeiro, era o ano de 1993.

Em 1995, Manaus também passou a usufruí-la.

Confesso que relutei em aceitar aquela novidade; julgava que não vingaria que era improvável o seu sucesso, um modismo fadado ao fracasso.

Ledo engano.

Não aderi ao primeiro lote ofertado, o prefixo 981.

Capitulei na segunda leva, cujo prefixo passara a ser 982.

Com a expansão acresceu-se outro 9 na frente, assim, o prefixo aumentou de três para quatro dígitos.

Se alguém disser que eu não sou fiel eu mostro como prova contrária que o meu prefixo ainda é 9982.

A maioria dos meus amigos já trocou de operadora e de número de telefone celular incontável vezes, eu não.

Àqueles que discordarem ou disserem que isso não é parâmetro, eu respondo que é e pronto, logo: eu sou fiel.

A humanidade se rendeu, é escrava da telefonia celular.

Particularmente uso pouco e sou breve nas conversas, mas sou dependente confesso desse coveiro de orelhões e candidato a algoz da telefonia fixa.

É a ditadura globalizada do celular.

No sentido figurativo o hidrato de carbono (celulose) é papel.

Sempre precisei de papel, houve até uma fase em que conversava escrevendo, outra em que tentei traçar alguns desenhos, mas logo vi que não tinha perspectiva alguma.

Mal conseguia cobrir um desenho, desisti.

Fiz muita caligrafia que de nada adiantou, mas gostei de escrever frases soltas, cartas para as namoradas – eivadas de erros grosseiros -, versos pobres, idéias malucas, projeções futuras que nunca se concretizaram, até chegar ao atrevimento de expor idéias, confessar, protestar, cobrar, me indignar, me retratar, lamentar, elogiar, desabafar, apor minha assinatura em documentos importantes, elaborar projetos e até perpetrar tinos e desatinos como essa crônica pra mim mesmo.

Coitado de mim sem a celulose.

As mulheres sempre tiveram êxito comigo, sempre me fizeram ceder, transigir, aceitar.

No inicio eu até reluto, esperneio, protesto, mas no final saio sempre derrotado, pior, constato que eu nunca tenho razão.

Sabedora disso vem a Mônica e resolve me dar - nesses meus 55 anos de existência que hoje completo – um regalo inusitado.

Eu que atirei a primeira, segunda e terceira pedras agora sou vidraça.

Pois é, cedi.

É um presente com prazo de validade - parece que seis meses.

Gostei da atenuada, gostei da testa imóvel de Celulari.

Desejo pra mim o amor incondicional da minha família, conservar os velhos e conquistar novos amigos, confirmar o casamento perene com a alegria e renovar o contrato de locação com o inquilino saúde, o resto é secundário.

Feliz aniversário e parabéns pra mim!

Beijo-me com júbilo.

Nenhum comentário: