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sábado, julho 09, 2011

Aula 18 do Curso Intensivo de Rock: Ali Farka Touré, Alan Freed e Bill Halley


Quem não acredita na origem africana do blues precisa conhecer o trabalho do guitarrista africano Ali Farka Touré, que veio ao Brasil em 1998 como a maior estrela internacional do Heineken Concerts.

Ganhador de um Grammy em 1995 pelo disco “Talking Timbuktu”, Touré é considerado a prova viva da conexão do blues norte-americano com a música africana.

“É evidente que o blues veio da África trazido pelos escravos negros e refeito nos campos de trabalho da América”, disse Touré em entrevista aos jornalistas brasileiros. “E para mim o Brasil faz parte da África”, afirmou.

O bluesman faz uma música claramente aparentada do blues de John Lee Hooker, Lightnin’ Hopkins e Big Joe Williams (embora só tenha entrado em contato com essa música já adulto).

Mas seu som revela principalmente as raízes mouras de sua ascendência – ele nasceu em 1949 em Niafounke, de uma família de descendentes de mouros espanhóis que negociaram sal e ouro através do deserto do Saara.

Apesar do sucesso na Europa, ele vive ainda hoje em Niafounke, na região de Timbouctu (em Mali, no leste da África), onde cultiva seus 50 hectares de terra.

“A música é feita após meu ofício de agricultor”, conta. “Sem a cultura da terra não haveria música, porque é preciso comer para viver e, para nós, vem primeiro a agricultura e depois todo o resto”.


Touré toca o violão monocórdio njarka (“O primeiro violão do planeta”, lembra) e canta nas línguas peul, tamachek, songhai, gozo, hassania, dogon e francês, eventualmente.

Com ele vieram alguns membros do clã ao qual pertence (Touré descende de nobres africanos): o meio-irmão Oumar, o sobrinho Afel e o filho Souleymane.

Na época, Touré dizia estar “muito curioso” para descobrir o Brasil e feliz com a possibilidade de ser uma espécie de embaixador da música de Mali.

Ele não faz discurso contra o rótulo de world music que os americanos deram à sua música e com o qual ele ganhou o Grammy.

“Para mim foi bom, possibilitou-me a celebridade e fez com que pudesse levar a conhecer a cultura de Mali para o mundo inteiro”, contou. “Essa denotação é, para eles, apenas uma forma de denominar a música estrangeira”.

Décimo filho de uma família numerosa, o nome Farka alude à força e tenacidade.

Seu avô foi um famoso jogador de diurkel, instrumento que é usado para diagnosticar males.

Ali Touré tem duas mulheres e mais de uma dezena de filhos.

Em sua terra, é conhecido como o “filho do rio”, o que significa que teria o dom de se comunicar com os espíritos.

Ele se tornou músico contra a vontade da família, estimulado pelo diretor do Balé Nacional da Guiné, Keita Fodeba.

Em 1988, lançou seu primeiro disco, “Ali Farka Touré”, pelo selo World Circuit (todos os seus cinco discos, até hoje, foram lançados por esse selo britânico).

No excepcional álbum “The Source”, ele recebeu a adesão do bluesman Taj Mahal.

Em seguida, veio até ele o guitarrista Ry Cooder.

De 1962 a 1971, após a independência de Mali, Ali Farka foi diretor da troupe artística de Niafounke.

Em 1968, esteve pela primeira vez na Europa, representando Mali no Festival de Sófia, na Bulgária.

Foi nesse ano que descobriu John Lee Hooker.

Ou seja, o africano trouxe ao Heineken Concerts o amálgama da tradição.


O sujeito que começou a chamar o blues eletrificado não de “rhythm & blues”, mas de “rock & roll”, foi um disc-jockey branco, Alan Freed, em 1951, inspirado na letra de um velho blues de 1922, regravado depois da guerra por Big Joe Turner: “My baby she rocks me with a steady roll” (“Minha gata me balança num embalo legal”).

O autor estava se referindo, evidentemente, ao comportamento da menina numa cama.

O termo “rock & roll” era uma antiga gíria dos blueseiros para designar o ato sexual.

Sua tradução aproximada seria “deitar e rolar” naquele sentido bíblico de que nos falam as escrituras.

Até então um fanático admirador de Wagner, Alan Freed produzia um programa noturno de música clássica para uma rádio de Cleveland, Ohio.

Um dia um amigo o convidou a visitar uma loja de discos e ele ficou literalmente chapado ao ver um monte de jovens dançando energicamente ao som de uma música que ele não só sempre ouvira falar mal, como considerava alheia à sua cultura wasp: o tal de rhythm & blues.

“Ouvi os saxofones de Red Prysock e Big Al Sears. Ouvi o blues cantado e o toque de piano de Ivory Joe Hunter. Fiquei pensando. Pensei a semana toda. Então procurei o diretor da rádio e passei-lhe uma ‘cantada’ para que me deixasse transmitir, depois do meu programa de música clássica, uma ‘festinha de rock’n’roll’”, diz ele.

Com o pseudônimo de Moondog, Alan Freed começou a produzir um programa de rádio dedicado exclusivamente à nova música.

Em pouco tempo, a repercussão de suas “Moondog’s Rock’n’Roll Parties” fez com que surgissem novos programas similares e novos disc-jockeys de rock’n’roll nas rádios de todo o país.

Em três anos, o rock’n’roll conquistava a América e partia para a conquista do planeta.

O DJ Alan Freed morreu em janeiro de 1965, aos 43 anos, de causas desconhecidas.

Até meados dos anos 50, as gravadoras americanas exploravam dois importantes mercados musicais específicos: o rhythm & blues negro (batizado pelos brancos de rock’n’roll) e a música caipira dos brancos rurais (o hillbilly).

Foi a conjunção explosiva destas duas correntes, formando o estilo chamado rock-a-billy, que começou a subverter, a partir da metade dos anos 50, todos os esquemas das gravadoras, os hábitos de consumo musical e, num sentido mais profundo, a própria cultura americana.

Do ponto de vista musical, o que os pais do rockabilly fizeram foi promover o encontro das duas grandes correntes populares americanas: a branca e a negra.

Seus vários estilos incluíam o velho blues rural, o rhythm & blues urbano, a country music, o western swing, a tradição folclórica tanto negra (spirituals e gospels) como branca (folk songs) e os outros ritmos de origens americanas ou européias, como o twist e o boogie-woogie.

Assim, Elvis juntou o rhythm & blues ao country & western.

Chuck Berry, o blues e o country.

Jerry Lee Lewis, o boogie e o country & western.

Bill Haley, o boogie, o rhythm & blues e o country e assim por diante.

O resultado dessa salada musical foi uma espécie de rock hillbilly chamado pela mídia de rockabilly.

O termo foi cunhado pela revista Billboard como chamariz para um gênero que estava recebendo uma série de nomes – “western and bop”, “cat music” e “country rock’n’roll”.

O rock hillbilly (ou seja, o “rock caipira”) puxava a mistura racial do rock’n’roll negro para a batida dançante dos cowboys do sul dos EUA, impulsionado por tapas nas cordas de um baixo acústico vertical, uma bateria rhythm & blues e breaks de guitarras derivadas do blues – Jerry Lee Lewis depois acrescentaria um piano honky tonky de igual vigor.


O estouro da boiada aconteceu em 1954, por meio de um grupo semidesconhecido chamado Bill Haley and his Comets, que estava na estrada há muito tempo tentando ganhar a vida como banda de country & western.

Seus músicos usavam roupas típicas de vaqueiros: camisas floridas com longos casacos bordados, calças de brim e botas de cano alto.

Gozavam de certo prestígio na costa Oeste americana, mas que ia desaparecendo à medida que envelheciam.

Um dia, eles foram convidados por um produtor de Hollywoood para fazer a trilha sonora do filme “Blackboard Jungle” (“Sementes da Violência”).

Era um trabalho rotineiro e, como o filme abordava a violência juvenil, fizeram uma música baseada no que tocavam normalmente, mas com um arranjo mais rápido e com tempos binários bem definidos, conseguindo assim um balanço meio diferente, tão esquisito quanto dançante.

Era abril de 1954.

Alguns meses mais tarde, “Rock Around The Clock” estava explodindo nas paradas musicais das rádios americanas e partindo para conquistar todos os corações & mentes do planeta.

Bill Haley morreu de causas naturais, aos 56 anos, no dia 9 de fevereiro de 1981, em sua casa, na cidade de Harlingen, no Texas.

Nos últimos seis anos de sua vida, Bill começou a escrever sua história e chegou a confidenciar a amigos que pretendia voltar à vida artística.

Estava rico.

Deixou para a segunda mulher, a mexicana Martha Velasco, e seus cinco filhos, entre outros bens, uma cadeia de postos de gasolina, direitos de sua participação em 15 filmes e milhões de discos vendidos.

Um bom patrimônio para o músico nascido em Highland Park, Michigan, que tocava guitarra aos 13 anos, em bandas country como o The Fou Aces of Western e Swing.


Sua carreira começou a tomar forma em 1951, em Chester, na Pensilvânia, com a banda Bill Haley’s Saddlemen, um embrião dos Cometas, grupo formado em 1952.

Ele lançou a moda do cabelo com uma franjinha no cocoruto, chamada “pega rapaz”.

Virou febre nos anos 50.

Em entrevista ao Estadão no início dos anos 70 Bill Haley declarou: “Começamos como um grupo de country-western. Decidimos tentar um novo estilo, usando principalmente instrumentos de corda para obter com eles o mesmo efeito dos metais e dos saxofones. Era uma coisa nova e diferente e, embora ninguém soubesse, já tocávamos rock’roll”.

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