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sexta-feira, julho 15, 2011

Aula 8 do Curso Intensivo de Rock: Garth Brooks


No início dos anos 80, a música country passou por um período de “entressafra criativa”.

A urbanização do country, ironicamente iniciada por Willie Nelson em 1975 e incentivada nos anos 80 pelo filme “9 to 5”, com canções de Dolly Parton, parece que não teve talentos à altura entre os artistas da época.

O desvio de rota da música country, provocado pela ausência de talentos, acabou incentivando a aparição dos “cowboys urbanos” ao estilo John Travolta.

O resultado foi um grande número de músicas sem vínculo com as raízes country e sem profundidade lírica, que não eram nem boa música country nem boa música pop.

Os heróis do movimento “outlaw” caíram no esquecimento.

Com exceção de John Conlee e do grupo Alabama, tudo o mais surgido nessa época era perfeitamente descartável.

A música country havia chegado ao fundo do poço.

Inexplicavelmente, nos anos 90, o gênero voltou de novo a se encontrar com suas raízes e praticamente ressuscitou dos mortos.


Um dos responsáveis por esta façanha se chama Garth Brooks.

Ele é o artista-solo que mais vendeu discos em toda a história americana.

Desde o seu primeiro CD, “Garth Brooks”, lançado em 1989, o cantor-síntese da nova música country vendeu mais de 62 milhões de cópias nos EUA, superando Billy Joel, os Eagles, Madonna, Elton John e, sim, Michael Jackson.

Apenas os Beatles, com 71 milhões de unidades vendidas em mais de 40 anos de estrada, e Bing Crosby superaram a marca de Brooks.

O seu segundo álbum, “No Fences”, continua sendo o disco de música country mais vendido até hoje: 14 milhões de cópias, apenas nos EUA.

Ele faturou um Grammy e seus shows já foram vistos por mais de 4 milhões de pessoas em três continentes.

Apesar desse currículo, Brooks não é um nome conhecido no mundo pop.

Ele não toca em rádios comerciais comuns, quase não aparece na MTV e menos ainda nos periódicos de música.

Mas Brooks é um gênio do marketing, que soube como ninguém ampliar as fronteiras musicais e o público da música country.

Sua imagem de caubói roqueiro é cuidadosamente cultivada em todos os detalhes, do chapéu ao bom-mocismo nas letras e no tratamento com fãs e jornalistas, passando pela camisas de cores new wave.

Ele não é superstar só no Canadá e na Austrália, mas também na Irlanda, onde vende mais que o U2.

Como já dissemos antes, a música country descende da música folclórica irlandesa.

E a população local, bastante religiosa, ainda preza muito os valores “tradicionais” celebrados pelas letras românticas do caubói trovador que, segundo Brooks, são “as notícias do início da noite transformadas em música”.


Republicano de carteirinha – fez campanha para Bob Dole – ele vem de uma família de classe média, que não tinha nada a ver com o campo.

O pai era desenhista de uma companhia de petróleo em Oklahoma e sustentava a mulher e cinco filhos.

Segundo a EMI, Brooks já havia vendido mais de 80 mil CDs no Brasil antes de ter feito um único show na América do Sul (o cáuboi agora é “figurinha carimbada” da Festa do Peão Boiadeiro, em Barretos).

Ele também foi capa da Forbes, sendo citado como o artista mais rico dos EUA.

“A Forbes chutou muita coisa”, reagiu Brooks em uma entrevista para a revista Times. “Eles não têm idéia. Eles estimaram o que eu ganho com projeções baseadas em vendagens de álbuns e ingressos de shows. Quando eu e Sandy (mulher de Brooks há dez anos, mãe de suas três filhas) lemos a reportagem na revista, nos agarramos pelo pescoço: ‘Cadê meu dinheiro?’”, conta ele em meio a gargalhadas.

Apesar da modéstia, Garth Brooks é uma mina de ouro.

Lançado em 1997, o disco “Sevens” saiu nos Estados Unidos com 5 milhões de cópias vendidas antecipadamente.

Era o bastante para garantir a manutenção, pelo menos, da fazenda de 400 acres do cantor em Nashville.

Mas não era o suficiente para mudar a concepção geral de Brooks do que seja a música country, concepção reafirmada nos seis discos anteriores.

E a música country de Brooks é a mais conservadora possível, é o country lustroso que anda de Rolls Royce com chifres de búfalo no capô, que vai ao restaurante de botas vermelhas e calça de vaqueiro.

O disco abre com o arremedo de honky tonky “Longneck Bottle”, emenda com a melada balada acústica “She’s Gonna Make It” (sobre uma mulher que se solta quando larga o marido) e, quando Brooks descuida finalmente da levada meio fake de seu country populista, desaba na engraçada “Two Pina Coladas”.

Levando-se já menos a sério, Brooks parece que vai tomar jeito.

Mas, em seguida, ele retorna com duas canções intragáveis: “Take The Keys To My Heart”, beirando um rock, e “In Another’s Eyes”, um dueto rotineiro e sem punch, com Trisha Yearwood.

Melhora de novo no fim com “Belleau Wood” – música que, embora seja piegas na parte sonora, parte de um belo caso real de trégua de Natal entre soldados alemães e americanos nas trincheiras da 1ª Guerra Mundial.


O segredo de Garth Brooks não é fácil de definir.

Fosse brasileiro, diríamos talvez que é uma mistura de Zezé de Camargo, Sérgio Reis e Fábio Júnior.

É um caubói urbano, não faz música para agradar a população das Rocky Mountains para cima, mas para esvaziar prateleiras de lojas em Los Angeles, Dallas, Phoenix ou Denver.

A instrumentação de suas canções é corriqueira, com banjos e tudo o mais, mas Brooks é urbanóide nos arranjos, nos quais tem sido auxiliado por seu produtor e parceiro mais freqüente, Allen Reynolds.

O cantor comeu o pão que o diabo amassou para colocar três músicas suas no disco, já que Reynolds não as aprovou.

Entre elas, uma das mais interessantes, “Cowboy Cadillac”, que mostra um Brooks mais solto, menos comprometido com sua estética costumeira.

Fora isso, tem um dado importante: Brooks é a simpatia em pessoa.

Já um tanto cheio de balõezinhos em volta da cintura, poderia perfeitamente ser o sujeito que bebe ao seu lado no balcão, comentando sobre o jogo de domingo.

E, justiça seja feita, ele tem uma bela voz, sabe mesmo cantar, como pode ser conferido no CD “Scarecrow”, de 2001.

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