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terça-feira, julho 05, 2011

Convidado da 9ª Flip, Joe Sacco participa de debates no sábado em Parati


Na era do tempo real, em que acontecimentos relatados com minutos de atraso muitas vezes já são considerados "notícia velha", um repórter à moda antiga tem nadado contra a corrente desde a década de 90 na tentativa de mostrar que bom jornalismo não se mede necessariamente pela velocidade de publicação.

"Notas sobre Gaza", última grande reportagem em quadrinhos de Joe Sacco, levou sete anos para ver a luz do dia.

"Por sua própria natureza, uma HQ leva muito tempo até ficar pronta", explica o autor, convidado da Flip neste ano, em entrevista por e-mail ao G1.

Resultado de longas visitas à Faixa de Gaza, em 2002 e 2003, quando entrevistou dezenas de personagens, debruçou-se sobre arquivos oficiais e preencheu inúmeros caderninhos de anotações com ilustrações do local, a graphic novel busca esclarecer dois massacres aparentemente esquecidos, realizados pelo exército isralense em 1956 e que de certa forma ajudam a entender as tensões na região hoje.

"Meu objetivo principal era descobrir o que tinha acontecido em novembro de 1956 durante a Crise de Suez, mas eu estava apurando essa história ao mesmo tempo em que Gaza estava passando por uma nova crise", diz Sacco, que em todas as suas "quadrinho-reportagens" se coloca como personagem central na história, reconstituindo nas páginas da HQ não só os relatos de seus entrevistados mas o próprio momento da entrevista.


"A justaposição dessas duas linhas do tempo - o passado e o presente - dá ao leitor a ideia de que Gaza tem estado sob tensão por muitas décadas e que sua história triste ainda não acabou. Mas mesmo que não houvesse crise atual, ainda assim eu mostraria eventos do presente, porque sempre haverá uma relação entre o presente e o passado que vale a pena examinar."

Em busca do 'universal'

O mesmo vale para "Palestina - Uma nação ocupada", graphic novel mais conhecida de Sacco, que narra a primeira Intifada e ganha reedição de luxo por ocasião da Flip, e "Área de segurança: Gorazde", trabalho que reúne suas investigações in loco sobre a Guerra da Bósnia no final dos anos 90.

"Seja qual for o tipo de jornalismo que eu esteja fazendo, eu tento buscar por temas universais, sempre que possível. Por mais que os eventos se deem em um determinado lugar, em um determinado período, eles envolvem pessoas cuja natureza é essencialmente a mesma de quando ainda vagávamos pela savana africana como caçadores", filosofa.


Nascido na ilha mediterrânea de Malta, criado na Austrália e radicado nos Estados Unidos, o desenhista e jornalista de 50 anos admite que tem acompanhado com interesse os recentes levantes nos países árabes do norte de África, mas descarta - pelo menos a princípio - um novo volume de histórias em quadrinhos sobre a região.

"A Líbia [país muito próximo a Malta] me interessa muito, é claro, e talvez desse um grande livro. Mas eu não quero sair à caça de histórias. A verdade é que tem muitas histórias interessantes mundo afora."

Sem guerras ou massacres históricos a investigar por aqui, quem sabe Parati não acabe figurando em uma de suas HQs autobiográficas mais bem humoradas como as que foram reunidas na coletânea "Derrotista".

Sacco parece não querer saber de trabalho, mas garante que a expectativa para chegar ao Brasil é alta.

"Eu estive em Belo Horizonte uma vez para um festival de quadrinhos. Foi maravilhoso. Na verdade, eu me diverti mais do que eu imaginava. Lembro de beber muito, dançar, entrar e sair de táxis e destas conversas interessantes", recorda.

"Para ser honesto, não sei muito sobre a história e a cultura do Brasil. Mas estou feliz em estar de volta para aprender um pouco mais."

Sacco participa de debate na Flip no sábado (9), às 12h, na Tenda dos Autores, com ingressos esgotados.

No mesmo dia, às 16h, ele conversará com os quadrinistas brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá, como parte da programação da Flipzona, dedicada ao público jovem.

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