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quinta-feira, maio 15, 2014

A vida como ela é, segundo os cosplayers. Ou quase isso...


Fotógrafo com estúdio em Viena, o austríaco Klaus Pichler ganhou reputação nos últimos anos por fazer fotos de objetos ou cenas incomuns – como cosplayers em seus lares verdadeiros ou um monte de quinquilharias em algum almoxarifado perdido – e a partir daí revelar aspectos curiosos ou histórias por detrás dessas situações. Entrevistamos ele sobre seu processo criativo, seu momento de “eureka!” para sua famosa série “Just the Two of Us” (“Somente Dois de Nós”), e como ele conseguiu encontrar todos os cosplayers utilizados na série.

Você consegue se lembrar do seu “momento eureca!”, quando você percebeu que queria fazer fotos de cosplayers nas próprias residências para a sua série “Just the Two of Us”?

Houve muitos pequenos “momentos eureca!”, se você quiser chamá-los assim, o que contribuiu para o resultado final da série. Basicamente, estou sempre interessado naqueles aspectos de alguma forma incomuns da sociedade e da vida cotidiana, nas coisas que nem sempre necessariamente têm algo a ver com a “lógica da vida” e, portanto, são muito mais complexas.

Fantasias ou trajes típicos de determinados grupos sociais são exatamente isso, eles não são “necessários” para sobreviver, e essa é a razão pelas quais muitas pessoas sentem prazer em usá-los, porque eles são apenas uma espécie de caminho paralelo às necessidades concretas da vida.

Mas voltando à sua pergunta: o carnaval é uma coisa muito grandiosa na Áustria, e, inicialmente, eu estava planejando trabalhar apenas com os membros das inúmeras comunidades locais de carnaval. Mas eu logo descobri que há muito mais grupos ligados a tradições específicas do que eu poderia imaginar e que as fantasias de carnaval, em comparação com as fantasias dessas tradições, não são tão elaboradas assim.

Portanto, ampliou-se a abordagem e tentei cobrir tantos grupos quanto fosse possível. O princípio básico permaneceu o mesmo: uma fantasia é sempre um passo para o lado de fora da vida cotidiana, uma espécie de alter ego que permite outras formas de comportamento e autoconhecimento.

O mais importante “momento eureca!” foi quando eu percebi que fotografando as pessoas fantasiadas tendo como cenário suas próprias residências, seria possível combinar os dois aspectos da série: o alter ego fantasiado e, por meio do estilo e design do apartamento, a pessoa “civil” que está oculta no traje. Daquele momento em diante, o conceito básico foi concluído e comecei a procurar pessoas que provavelmente gostariam de participar da série.


Estamos apenas curiosos, mas como é que você conseguiu se aproximar dos cosplayers e pedir-lhes para participar de sua série? Você foi a uma convenção deles e pediu de forma aleatória, ou você, pra começar, já tinha amigos cosplayers?

Encontrar pessoas com fantasias bem transadas foi definitivamente a parte mais difícil da série. Como eu queria cobrir uma ampla gama de diferentes grupos (LARP, Medievais, Furries, Carnavalescos, Krampus, etc), eu tive que começar do zero, com todos eles. Cada grupo tem diferentes maneiras de se conectar com a sociedade envolvente, por isso eu tinha que encontrar uma maneira que fosse adequada para cada caso particular.

Os Furries/ Fursuiters, por exemplo, imitadores de animais antropomórficos, são um fenômeno intimamente ligado à cultura da internet. Eles são muito ativos em fóruns na web e salas de chat e é quase impossível fazer contato quando eles estão vestindo suas roupas em público, porque eles rigorosamente conseguem separar suas pessoas civis de seus alter egos. Por causa isso, eu tive que fazer login nos seus fóruns e entrar em contato com eles através de mensagens privadas.

Já os membros das comunidades carnavalescas austríacas são de idade mais avançada e, portanto, não são tão plugados na internet, mas eu tive que ir para os seus desfiles e participar de suas reuniões para manter contato pessoal. A proporção de pessoas que se dispuseram a participar do projeto foi uma merda... Convidei cerca de cinco vezes mais pessoas do que as que finalmente concordaram em participar, quer dizer, acumulei uma porrada de “nem pelo caralho, brother!”

Alguns deles não queriam ser fotografados, alguns não gostaram ou não entenderam o conceito e alguns gostaram da ideia, mas não queriam me deixar entrar em seus apartamentos. Mas, para minha sorte, eu consegui encontrar um bom número de pessoas fantasiadas que quiseram participar e nos divertimos muito fazendo as fotos.


Você tem uma vasta gama de assuntos em suas diferentes séries, que vão desde trajes cosplay aos jardins do século 19, passando pela deterioração de alimentos ao longo do tempo. Qual é o seu processo criativo quando se trata de escolher um assunto ou um tema específico para um projeto?

Embora os temas das minhas séries talvez possam parecer bastante diversificados e o resultado visual muito diferente, eu acho que há uma linha vermelha entre todos eles: é tudo sobre os aspectos ocultos da vida cotidiana, manifestando-se tanto em pequenos elementos que são facilmente observados quanto em grupos sociais fechados que vivem suas vidas com suas próprias regras, códigos e clichês.

Trata-se de uma espécie de “universo Pichler”, em que meus temas ou tópicos estão sempre chegando. Portanto, não é realmente um processo por trás da escolha de um tema específico, é mais como trabalhar sobre temas que eu estava planejando trabalhar por um longo tempo, só que um após o outro.

É comparável às bolhas subindo de águas barrentas – uma após a outra estão sempre subindo e de repente uma delas vem à superfície –, que é como a minha mente criativa trabalha. Às vezes é como um pequeno choque quando um novo tópico ou um novo conceito me pega de surpresa, porque me parece tão óbvio que fico querendo saber por que não tinha pensado nisso antes...


Você disse que tem uma nova série em que está trabalhando e que ela vai ficar pronta agora no final de 2014. Você poderia adiantar pros leitores o que podemos esperar?

Pode parecer sacanagem, mas, como se diz na Áustria, “uma galinha não conversa sobre os ovos que ainda não botou”. Eu realmente não gosto de falar sobre projetos inacabados, não para fazer “segredinho”, mas simplesmente por superstição.

Em algum canto da minha mente (o que definitivamente não é na área da lógica), acredito que meus planos irão naufragar se eu falar sobre eles antes de estarem 100% concluídos. Portanto, eu sinto muito, mas não vou dizer muita coisa. Só que o novo escopo do trabalho versará definitivamente sobre polarização, que será um trabalho documental bem moderno, mas bastante simples, e que eu estou trabalhando no projeto junto com um jornalista.

Ah, e que ele será lançado como um livro.













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