Em vez de uma escola
brasileira à altura de Machado, um “Machado” à baixura da escola brasileira
Reinaldo Azevedo
Atenção, pai! Atenção, mãe. Este assunto parece não ter a
importância da possível roubalheira na Petrobras. Parece não ter a importância
dos grandes temas da política. E, no entanto, é infinitamente mais importante.
Porque diz respeito ao futuro dos seus filhos. Atenção, estudantes! Isso aqui
diz respeito ao país que seus filhos herdarão.
Uma professora chamada Patrícia Secco, informa Chico
Felitti, na Folha, decidiu reescrever clássicos da literatura brasileira.
Segundo ela, os estudantes se desinteressam de alguns livros porque certas palavras
são difíceis. E ela, então, se propõe a reescrevê-los. A primeira vítima será
“O Alienista”, de Machado de Assis, a história do médico de loucos que
terminou, ele próprio, no hospício.
Infelizmente, a obra de Machado é de domínio público. Não se
pode impedir ninguém de fazer essa besteira. O problema é que Patrícia vai
assassinar Machado, na prática, com dinheiro público, já que conseguiu apoio da
Lei Rouanet, do Ministério da Cultura.
Assim, esta senhora vai reescrever o maior escritor
brasileiro com o apoio do estado brasileiro. Haverá uma tiragem de 600 mil
livros, a serem distribuídos nas escolas pelo Instituto Brasil Leitor.
Ora, literatura não é só o que se diz. Também é como se diz.
Uma das funções da escola é ampliar o vocabulário dos alunos. Além de todas as
particularidades de estilo, um escritor do fim do século 19 não escrevia e não
pensava como um do século 21. Estamos diante de uma violência cultural.
Eis o erro fundamental. Em vez de o governo petista
construir uma escola à altura de Machado de Assis, decidiu destruir Machado de
Assis para deixá-lo à baixura — sim, a palavra existe! — da escola brasileira.
É o fim da picada! A educação em nosso país é que está no
hospício. A educação é que virou coisa de loucos.
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