Ricardo
Coiro
Caro
leitor, eu gostaria muito de usar o espaço da coluna de hoje para
desabafar com você. Posso?
É
que a minha mulher é a bipolaridade em pessoa. A sua também é
assim? Estou ficando cada dia mais preocupado. E careca.
Na
semana passada, do nada, ela se desfez da costumeira meiguice e
começou a agir como se estivesse possuída pelo Capiroto. Você
precisava ver! Ou melhor, tem sorte por não ter visto.
O
que desencadeou a mutação dos infernos? Uma pergunta que ela me
fez:
–
Amorzinho,
me conta alguma fantasia que você tem e que ainda não realizou?
Até
aí, tudo normal. Certo? Então, para não chocá-la, eu confessei a
minha fantasia mais leve:
–
Eu
gostaria de transar com você em uma praia deserta.
–
Amor,
pode se abrir comigo. Eu sou a sua namorada e quero conhecer você de
verdade, inteiro! – ela me encorajou, ainda com olhar afetuoso e
sorriso terno.
–
Um
ménage à trois! – falei com dificuldade na pronúncia e levemente
eufórico.
–
Ah é?
Que legal, querido! – ela me disse, com entonação de quem havia,
de fato, curtido a ideia.
–
E com
quem?
–
Com
alguma mulher bem gostosa.
–
Sim,
isso eu sei. Mas qual?
–
Ah,
amor, com várias.
–
Com
alguma amiga minha?
–
Amiga?
Não, não! – menti. E tentei, em vão, mudar de assunto.
–
Não
vou ficar brava. Pode me contar sem medo – ela me incentivou.
–
Só com
a Renatinha.
Foi
aí que o surto psicótico começou e que a voz dela, em um milésimo,
foi de Sandy para Ivete.
–
Renatinha?
Então você quer comer a Renata? Quer o telefone dela? Eu passo!
Quer que eu anote na sua pele com a nossa faca nova? É só me dizer,
seu cachorro.
Daí
para frente as coisas só foram piorando e a minha gagueira,
obviamente, aumentando. Depois de muitos gritos e portas batidas,
terminei no sofá. E ela, aos prantos, em nossa cama.
No
dia seguinte, contrariando todas as minhas expectativas, ela me
acordou com o beijo na testa e me pediu desculpas. Disse-me que
perdeu o controle e coisa e tal. Aquele papinho besta. Eu a perdoei,
como sempre. Então ela sugeriu que fôssemos almoçar fora e foi
para o quarto se arrumar.
Três
horas depois...
–
Amor,
este vestido está bom?
–
Está
lindo! – afirmei como se estivesse admirando um carro recém-polido.
–
Eu sei
quando você está mentindo, Pedro Henrique.
–
Mentindo?
Não estou, amor. Eu realmente gostei do vestido. Odeio quando você
diz que a minha roupa está boa só para sairmos logo de casa – ela
me disse, e, novamente, trancou-se no quarto.
Duas
horas depois ela voltou, trajando peças totalmente diferentes. O
vestido e a rasteirinha haviam cedido o lugar a uma calça jeans mais
larga do que as minhas e a um tênis com salto interno que deixa a
mulher com pé de dinossauro.
–
Seja
sincero, agora eu estou bem?
Se
ela deseja sinceridade, sinceridade ela terá, pensei. E respondi:
–
Prefiro
o vestido.
–
Você é
foda, Pedro Henrique. Não me ajuda. Já são quase seis da tarde e
ainda nem almoçamos. Custa facilitar um pouco as coisas?
Fiquei
perplexo. Nem gaguejar eu consegui. Senti-me mais injustiçado do que
inocente condenado à pena de morte. E sabe o mais assustador, irmão?
Não era TPM. Como eu sei? Eu anoto os dias de TPM em minha agenda.
Minha
mulher é realmente muito estranha. A sua é assim também? Se for,
irmão, azar o nosso. Ah, então você é gay? Bom, tirando o pinto
que você encara e o fato de você beijar seres com barba, parece bem
mais seguro e com menor chance de surpresas.
O
que mais a minha mulher faz?
Vive
a dizer que não se veste para os outros, mas, quando eu digo – por
livre e espontânea pressão – que a roupa dela não está boa, ela
tem chiliques homéricos e ameaça cortar os pulsos com uma faca
descartável.
Ela
pede sinceridade, mas, em quase todas as vezes em que sou
completamente sincero, ela me xinga até me fazer optar pela mentira.
E quando descobre que eu menti, ela chora, indignada, pedindo
sinceridade e dizendo que assim não dá.
Quer
mais um sintoma claro de multipersonalidade dela?
Minha
mulher, todos os dias, incentiva-me a sair com os meus amigos. Ela
diz que é importante para mim e blábláblá. Entretanto, quando eu
finalmente saio com eles, ela age como se eu estivesse cometendo um
crime hediondo, e, o que é pior, promete vinganças:
–
Você
vai ver, Pedro Henrique! Semana que vem, sem falta, eu irei ao clube
das mulheres com as minhas amigas!
–
Pode
ir.
–
Ah é?
Você não liga? E se eu disser que eu vou deixar um negão esfregar
a jeba na minha lomba?
–
Aí já
é demais, né?
–
Viu só
como eu me sinto?
–
O que
uma coisa tem a ver com a outra, Carol? Eu estou apenas tomando uma
cerveja com os meus amigos! Não tem nenhuma mulher esfregando a
pepeca na minha cara.
–
Eu já
disse que odeio você com todas as minhas forças? – ela me diz,
antes de desligar o telefone na minha cara. E de me motivar a trocar
a cerveja pela pinga.
Aí,
como sempre, eu volto bêbado, tomo um puta esculacho e vou direto ao
sofá. E, no dia seguinte, acordo morrendo de medo de descobrir que o
meu pau foi colado no umbigo com SuperBonder, mas, milagrosamente,
geralmente ouço algo como:
–
Bom
dia, amor, dormiu bem? Eu fiz ovos mexidos para você. E suco de
laranja.
Ela
só pode ter uma irmã gêmea. Ou o miolo mole.
Acho que vou fugir
para as montanhas.
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