Wilson
Bueno
Pesquisas
recentes indicaram os sonhos como eficazes antídotos contra o
estresse nosso de cada dia.
Não
sei em que medida isto ocorra. Estresse não me parece coisa que se
cure com sonhos.
Temos
visto, no áspero cotidiano, que, não sendo da aérea matéria
deles, o estresse é bem mais um pesadelo da vigília e de sua
fatigada astúcia.
Não
me canso de lembrar aqui minhas origens e, com elas, o resgate da
infância primordial onde a vida mesma era sonho e punha todas as
coisas encantadas.
Minha
avó cabocla, por exemplo, Maria Rosa Custódia de Senes, esta tinha
a ciência dos sonhos na ponta da língua. Feito um talismã.
Sonhar
com alguém chorando, não hesitava vaticinar: vinha ali dinheiro ou
alguma mulher da família estava prestes a parir.
Já
sonhar com viagens tinha uma nota aziaga – morte certa de compadres
ou amigos.
Sonhar
com um passarinho, era casamento; sonhar com muitos passarinhos
(ouviu, Rogério Dias?), anunciava grandes colheitas.
O
rol de significados e significâncias, a partir do sonho, era, para a
avó, quase inesgotável.
Sonhar
com chuva, o prolongamento do estio na roça seca; sonhar com alguém
voando ou caindo do cavalo, não dava outra – chegariam parentes há
muito ausentes.
Também
o saber, digamos, erudito, nos reserva coisas prodigiosas sobre os
sonhos.
Veja
o leitor, esta, dos aedos gregos, bem mais interessante que as
recentes descobertas da ciência moderna: a prova, entre outras, de
que o Inferno existe – incontestável nos demoníacos pesadelos
vividos pela alma quando em sono profundo.
Por
falar em alma, impossível esquecer o famoso soporífero da planta
mandrágora, que, entre os caldeus, causava sono idêntico ao da
morte...
Tão
ou mais sábia, repito, era a velha Maria Custódia, rezadeira,
benzedeira, “costurava” carne rasgada, além de capaz das mais
incríveis simpatias para evitar “mau-olhado” que, aquele tempo,
tinha outro nome – “quebranto”.
Sobretudo
criança que não fosse protegida, adoecia gravemente.
Mas
pior que mau-olhado, só picada de cobra e, contra ela, a avó tinha
um antídoto feroz: “reza-braba”.
Verdadeiros
mantras caboclos que, incompreensíveis ao comum dos mortais, apenas
ela sabia rezar, secretos na mente, secretamente aprendidos de cor.
Dona
Maria Rosa Custódia de Senes faleceu em 1967, varada em anos, e
descansa, ao lado de minha mãe, no Cemitério de Santa Cândida.
Convivi
em sua (doce) companhia a primeira década e meia de minha pobre
existência e nunca a ouvi falar em estresse ou que sonho curasse
estresse.
E
olha que de sonho e “reza-braba” ela entendia; e não entendia
pouco.
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