A
história de Lola Benvenutti lembra a de Rachel Pacheco, que ficou
conhecida como Bruna Surfistinha, a ex-garota de programa que
escrevia sobre os seus clientes em um blog na internet.
Aos
22 anos, Gabriela Natalia Silva, nome verdadeiro de Lola, lança este
mês o livro “O Prazer é Todo Nosso” (Editora MosArte).
Nele,
a jovem relata os detalhes de uma grande festa privê que reuniu
casais da alta sociedade de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo).
Eram
15 casais de médicos e suas mulheres numa fazenda com diversos
quartos – segundo ela, o cenário remetia ao filme “De Olhos Bem
Fechados” (1999), de Stanley Kubrick (1928-1999).
Os
nomes de todos os “personagens” são mantidos em sigilo na obra,
que levou um ano para ficar pronta.
“Era
tudo muito sofisticado. Eu já havia participado de swings, mas eram
mais modestos. Em Ribeirão, foi ostentação total”, afirmou à
Folha de S.Paulo.
No
livro, além de relatos dos programas e dicas para apimentar uma
relação, a autora defende a bandeira da liberdade sexual.
“Faço
o que faço porque gosto, porque sou mulher, porque sou humana e
tenho o direito de traçar o meu próprio caminho. O livro é neste
sentido: de se libertar para gozar a vida, o parceiro, sozinho”,
explica.
Há
menos de dois anos, a acompanhante, que também ficou conhecida por
contar o seu dia a dia na internet, administrava a vida de garota de
programa com a de estudante.
Lola
frequentava o último ano da faculdade de Letras na UFSCar
(Universidade Federal de São Carlos).
O
gosto por leitura ela exibe no corpo. Nas costas, a jovem tem um
verso de Manuel Bandeira tatuado: “(...) dizer insistentemente que
fazia sol lá fora”.
No
pulso esquerdo, uma frase João Guimarães Rosa: “Digo: o real não
está na saída nem na chegada. Ele se dispõe para a gente é no
meio da travessia”.
Sobre
a atuação profissão, Lola é realista. “A beleza acaba e
gasta-se muito para estar sempre bonita”. No entanto, diz que é
possível ganhar dinheiro como garota de programa “se souber ser
administrada”.
Além
de lançar outros livros, a acompanhante tem projetos para workshops
e palestras. Sobre a vida pessoal, revela que não pensa em namorar.
Não acredita na monogamia e, por isso, escolheu o atual ofício.
“Eu
sempre tive curiosidade em saber como funciona [a prostituição]”,
afirma ela, que se considera precoce no tema. “Quando era criança,
colocava o Ken e a Barbie sem roupas, um em cima do outro, e simulava
o ato sexual.”
A
primeira vez que Lola fez sexo por dinheiro foi aos 17, mas não
continuou por temer a repercussão em sua cidade, Pirassununga (211
km de São Paulo).
Hoje,
a jovem diz que não se arrepende da profissão escolhida.
“Nunca
fui tão feliz como agora, porque sou quem realmente sou. Não tem
alegria maior do que não ter de se enganar”, afirma.
Ao
ritmo de dez programas por dia, Lola Benvenutti diz que já perdeu a
conta do número de homens com quem foi para cama.
“Foram
muitos milhares, mas nunca contei. Já passei de mil há muito tempo.
Faz a conta: dez por dia, em um ano, já são mais de 3 mil”, conta
ela. “E antes de cobrar, já tinha muitos na conta”, brinca.
Se
nos tempos em que fazia faculdade e dava aula Lola se apertava para
chegar ao fim do mês, agora desfila de carro novo e já consegue
fazer uma poupança para quando a idade começar a pesar.
“Desde
que a minha história explodiu, aumentou muito a demanda e precisei
subir o preço para dar conta. Hoje, cobro R$ 350 por hora. Poderia
até cobrar mais, mas acho esse um valor legal, que permite aos
clientes voltar sem pesar tanto no bolso”, conta ela, lembrando que
quando dava aulas de português, sua hora não passava de R$ 10.
Apontada
como sucessora de Bruna Surfistinha, que teve sua história retratada
em um filme em 2011, Lola rejeita qualquer comparação.
“Temos
a mesma profissão e um blog. E só. Acho natural essa associação,
mas temos estilos e histórias muito diferentes. Nunca quis ser uma
Bruna. O blog era o que eu tinha na época para fazer esses relatos.
Não tenho nada contra ela, mas são pessoas diferentes. Será que
sempre que surgir uma cantora de axé, vão comparar com a Ivete
Sangalo?”, protesta.
Lola
também revelou que, ao contrário de Surfistinha, nunca usou drogas.
“Nunca nem experimentei. Não faz parte do meu universo”.
Para
dar conta da rotina tão intensa de trabalho, o único segredo, diz
ela, é “gostar do que faz”.
“Sempre
digo que só aguento porque gosto. Seria muito difícil se não
tivesse prazer. Se você já vai com cara amarrada cada vez que chega
ao quarto, fica complicado”, conta. “E ainda dizem que somos
mulheres de vida fácil”, diverte-se.
Seu
estilo mais “alternativo” – Lola tem uma mecha branca tipo
Mortiça, lateral do cabelo raspada e várias tatuagens pelo corpo –
atrai clientes variados.
“Tem
um perfil que procura, que é não aquele que gosta da mulher mais
gostosona, panicat. Quem me liga gosta do meu estilo mais natural.
Atendo desde jovenzinhos que querem perder a virgindade até homens
mais velhos atraídos por essa questão da Lolita e por eu ter feito
faculdade. Tem solteiro, mas a maioria é casado. Tem quem está
infeliz no casamento, mas também quem está feliz e só quer
variar”, entrega.
Seu
cliente mais velho foi um senhor de 90 anos: “Ele precisava de
ajuda para andar, mas chegou com dois homens e uma menina para uma
festinha. E fez um pedido inusitado, que eu nunca tinha realizado”,
conta, sem dar mais detalhes.
Entre
os piores, lembra, está um rapaz muito “bruto” e outro que
chegou para o encontro sem banho. “Sorte que ele não queria
finalizar”.
Entre
os pedidos mais “estranhos” recebidos, Lola não esquece um que
pediu para ela almoçar na cabeça dele. “Queria ser feito de mesa.
Mas tem quem quer ser cavalinho, muitos querem ser cornos”, revela,
completando que aumentou o interesse por sadomasoquismo desde o
lançamento do livro “50 tons de cinza”.
Com
“muitos milhares” de encontros na conta, Lola só quer saber de
esquecer a frustrante primeira vez.
“Foi
aos 13 anos, com um cara que conheci na internet. Ele tinha uns 30
anos. Foi horrível e eu desencantei completamente. Não esqueço
aquela imagem de um homem falando ao celular com a mãe, pelado,
usando uma meia de seda”, lembra, contando que passou mais um ano
sem entender como as pessoas poderiam gostar “daquilo”.
O
primeiro programa também foi marcado pela internet aos 17.
“Sempre
entrava em sites de relacionamentos e saía com vários caras. Até
que um dia pensei: por que não cobrar?...”, se diverte.
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