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quarta-feira, setembro 03, 2014

Uma breve filosofia do sexo oral


Por que o sexo oral é tão excitante e interessante? Poucos filósofos exploraram o tópico com o rigor necessário.

O sexo oral tem a ver com solidão e nojo de si próprio. Quando adentramos este mundo, sendo sortudos, tudo que nos diz respeito é aceitável e adorável, dos nossos dedões dos pés até as têmporas. Deitamos nus sobre a pele de nossos pais, enquanto eles ouvem o bater de nosso coração, e reconhecemos o deleite em seus olhos ao nos observar fazendo algo trivial como estourar uma bolha de saliva ou chupar os próprios dedos.

E então, gradualmente, vem a queda. Perdemos o acesso ao mamilo. Crescemos envergonhados de nossa nudez. Cada vez mais partes externas nossas são proibidas de ser tocadas pelos outros. Não temos escolha, precisamos manter uma distância mínima de 60cm, ou talvez até 90cm, entre nós mesmos e os outros, para deixar bem claro que nossa presença indesejável não tem intenção de se intrometer no espaço pessoal de ninguém. Crescemos nos resguardando. E chegamos à idade adulta, expulsos do paraíso, repulsivos para quase todos que passam por nós.

Mas no fundo não esquecemos bem nossas necessidades inatas: ser aceitos como realmente somos, em todos os aspectos; ser amados por apenas existir.

Daí a importância do sexo oral. Soa nojento quando pensamos em realizar o ato com uma pessoa fora de contexto – e esse é o ponto. Nada é erótico se não se mostrar, com a pessoa errada, revoltante. Mas com a pessoa certa, no momento preciso em que o nojo seria máximo, sentimos apenas aceitação, acolhimento e permissão. A natureza privilegiada do relacionamento é selada com um ato que, com outra pessoa, seria asqueroso.

É “grosseiro” – mas da melhor forma. A vida normal exige que sejamos educados o tempo todo. Não ganhamos o respeito ou o afeto de ninguém sem reprimir fortemente tudo que encontramos de ostensivamente “mau” em nós mesmos: nossas secreções, nossa agressão, nossa desatenção, nossa fragilidade, nossa luxúria. Não somos aceitos pela sociedade se revelamos quem de fato somos. Daí o êxtase erótico (que é mais precisamente um alívio emocional) de quando o sexo oral permite a nosso eu secreto, com todos os seus lados “maus” e sujos, ser testemunhado e endossado com entusiasmo por alguém de quem gostamos.

O laço de lealdade entre um casal fica mais forte na medida que as coisas ficam mais explícitas. Quanto mais inaceitável nosso comportamento se mostrasse para o mundo em geral, mais nos sentimos como que se construindo um santuário de aceitação mútua.

O sexo nos libera por uns instantes da exaustiva dicotomia entre sujo e limpo. Literalmente nos purifica – ao nos fazer engajar, através de seus jogos, em nosso lado mais poluído. Pressionamos nossas bocas, o aspecto mais público e respeitável de nossos rostos, a fonte da linguagem e da articulação, nas partes mais contaminadas do outro, e com gosto – o que simboliza uma aprovação psicológica completa, da mesma forma que um padre acolhe um penitente, alguém culpado de muitas transgressões, de volta ao seio da Igreja Católica com um suave beijo na cabeça.

O prazer do sexo oral é portanto profundamente rico e importante. Não diz respeito, em primeiro lugar, a uma sensação fisiológica agradável, mas sim é uma questão de aceitação. Diz respeito a um fim para a solidão.

* * *

Este artigo foi publicado originalmente no Philosophers Mail e traduzido por Eduardo Pinheiro

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