Por
que o sexo oral é tão excitante e interessante? Poucos filósofos
exploraram o tópico com o rigor necessário.
O
sexo oral tem a ver com solidão e nojo de si próprio. Quando
adentramos este mundo, sendo sortudos, tudo que nos diz respeito é
aceitável e adorável, dos nossos dedões dos pés até as têmporas.
Deitamos nus sobre a pele de nossos pais, enquanto eles ouvem o bater
de nosso coração, e reconhecemos o deleite em seus olhos ao nos
observar fazendo algo trivial como estourar uma bolha de saliva ou
chupar os próprios dedos.
E
então, gradualmente, vem a queda. Perdemos o acesso ao mamilo.
Crescemos envergonhados de nossa nudez. Cada vez mais partes externas
nossas são proibidas de ser tocadas pelos outros. Não temos
escolha, precisamos manter uma distância mínima de 60cm, ou talvez
até 90cm, entre nós mesmos e os outros, para deixar bem claro que
nossa presença indesejável não tem intenção de se intrometer no
espaço pessoal de ninguém. Crescemos nos resguardando. E chegamos à
idade adulta, expulsos do paraíso, repulsivos para quase todos que
passam por nós.
Mas
no fundo não esquecemos bem nossas necessidades inatas: ser aceitos
como realmente somos, em todos os aspectos; ser amados por apenas
existir.
Daí
a importância do sexo oral. Soa nojento quando pensamos em realizar
o ato com uma pessoa fora de contexto – e esse é o ponto. Nada é
erótico se não se mostrar, com a pessoa errada, revoltante. Mas com
a pessoa certa, no momento preciso em que o nojo seria máximo,
sentimos apenas aceitação, acolhimento e permissão. A natureza
privilegiada do relacionamento é selada com um ato que, com outra
pessoa, seria asqueroso.
É
“grosseiro” – mas da melhor forma. A vida normal exige que
sejamos educados o tempo todo. Não ganhamos o respeito ou o afeto de
ninguém sem reprimir fortemente tudo que encontramos de
ostensivamente “mau” em nós mesmos: nossas secreções, nossa
agressão, nossa desatenção, nossa fragilidade, nossa luxúria. Não
somos aceitos pela sociedade se revelamos quem de fato somos. Daí o
êxtase erótico (que é mais precisamente um alívio emocional) de
quando o sexo oral permite a nosso eu secreto, com todos os seus
lados “maus” e sujos, ser testemunhado e endossado com entusiasmo
por alguém de quem gostamos.
O
laço de lealdade entre um casal fica mais forte na medida que as
coisas ficam mais explícitas. Quanto mais inaceitável nosso
comportamento se mostrasse para o mundo em geral, mais nos sentimos
como que se construindo um santuário de aceitação mútua.
O
sexo nos libera por uns instantes da exaustiva dicotomia entre sujo e
limpo. Literalmente nos purifica – ao nos fazer engajar, através
de seus jogos, em nosso lado mais poluído. Pressionamos nossas
bocas, o aspecto mais público e respeitável de nossos rostos, a
fonte da linguagem e da articulação, nas partes mais contaminadas
do outro, e com gosto – o que simboliza uma aprovação psicológica
completa, da mesma forma que um padre acolhe um penitente, alguém
culpado de muitas transgressões, de volta ao seio da Igreja Católica
com um suave beijo na cabeça.
O
prazer do sexo oral é portanto profundamente rico e importante. Não
diz respeito, em primeiro lugar, a uma sensação fisiológica
agradável, mas sim é uma questão de aceitação. Diz respeito a um
fim para a solidão.
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Este
artigo foi publicado originalmente no Philosophers Mail e traduzido
por Eduardo Pinheiro
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