J.R.
Guzzo
Governos
que mentem para o público o tempo todo acabam mais cedo ou mais
tarde mentindo para si mesmos e, pior ainda, acreditando nas mentiras
que dizem; o resultado é que sempre chegam a uma situação em que
não sabem mais fazer a diferença entre o que é verdadeiro e o que
é falso.
Eis
aí onde veio parar o governo da presidente Dilma Rousseff nestes
momentos decisivos da campanha eleitoral.
Muito
pouco do que está dizendo faz nexo – resultado inevitável do
hábito, desenvolvido já há doze anos, de navegar com o piloto
automático cravado na contrafação dos fatos e na falsificação
das realidades.
Entre
atender à sua consciência e atender a seus interesses, o governo
jogou todas as fichas na segunda alternativa, ao se convencer de que
seria muito mais proveitoso tapear o maior número possível de
brasileiros com a invenção de virtudes do que ganhar seu apoio com
a demonstração de resultados.
Não
compensa: para que fazer toda essa força se dá para comprar
admiração, cartaz e votos com dinheiro falso?
Foi
o que concluíram, lá atrás, os atuais donos do país.
Agora,
como viciados em substâncias tóxicas, vivem na dependência da
embromação; está muito tarde para mudar, e a única opção é
continuar mentindo até o dia das eleições.
Sua
esperança é que a maioria dos eleitores, como acontece com
frequência, ache mais fácil acreditar do que compreender.
Para
se ter uma ideia de onde foram amarrar nosso burro: o estado-maior da
campanha de Dilma considerou que sua vitória mais importante no
primeiro debate entre os candidatos foi ter escapado “de todas as
perguntas difíceis”.
É
triste. Quando a verdade é substituída pelo silêncio, ensina o
poeta Ievgeni Ievtushenko, o silêncio torna-se uma mentira –
talvez seja, aliás, sua modalidade mais eficiente.
A
partir daí, vale tudo, e por conta disso os brasileiros têm ouvido
as coisas mais extraordinárias por parte do governo.
Os
candidatos da oposição, sobretudo Aécio Neves, foram publicamente
acusados, por exemplo, de já terem decidido fazer uma recessão
econômica se forem eleitos; no mesmo momento, comicamente, saíram
os resultados da economia nos primeiros seis meses de 2014, mostrando
que o Brasil andou para trás nos dois primeiros trimestres do ano.
Ou
seja: a recessão que os adversários iriam provocar no futuro já
está sendo praticada pelo governo Dilma no presente.
Na
média dos seus quatro anos, por sinal, será o pior desempenho
econômico do Brasil desde o presidente Floriano Peixoto.
Diante
dos canais de concreto em ruínas na obra de transposição do Rio
São Francisco, que, segundo as mais solenes promessas do
ex-presidente Lula, estaria pronta em 2010, depois em 2012 e hoje é
um mistério em termos de prazo, Dilma disse em sua propaganda
eleitoral que a culpa do atraso é da “curva do aprendizado” –
ou seja, pelo que dá para entender, ainda não aprendemos a fazer
direito esse tipo de coisa.
Ainda?
O Canal de Suez está pronto desde 1869, o do Panamá desde 1914;
será que já não deu tempo de aprender?
A
Ferrovia Norte-Sul, que vem sendo construída pelos governos
Lula-Dilma
desde 2005, e que foi inaugurada mais uma vez em maio, continua
fechada ao tráfego de trens, por falta de equipamentos – para
piorar, ladrões vêm roubando os trilhos.
São
os únicos, além das empreiteiras, para quem a ferrovia tem tido
alguma utilidade.
O
programa de formação de mão de obra técnica, descrito como “o
maior do mundo”, formou até agora mais de 100 000 recepcionistas e
manicures – o triplo do número de mecânicos.
Em
suma: já nem é mais um caso de mau governo. É anarquia.
Um
dos diretores mais influentes da Petrobras durante o governo do PT,
tão graduado que assumiu 24 vezes a presidência da empresa em
substituição aos titulares, está na cadeia desde março, entalado
em espetaculares denúncias de corrupção; foi figura-chave na
tenebrosa compra da refinaria americana de Pasadena e está no centro
da investigação sobre as negociatas na construção da Refinaria
Abreu e Lima, em Pernambuco, um pesadelo cujo custo final pode passar
dos 20 bilhões de dólares.
Indagada
a respeito, Dilma nada respondeu.
Preferiu
dizer que o grande problema da empresa foi a sugestão, feita no
governo Fernando Henrique, de trocar o nome da Petrobras para
“Petrobrax” – apenas uma ideia tola, de vida curtíssima e sem
importância nenhuma.
E
a economia parada?
“Eu
criei 5,5 milhões de empregos”, diz a candidata.
Como
assim – “eu criei”?
Uma
mentira começa com o ato de fazer o que é falso parecer verdadeiro.
Acaba deste jeito: em alucinação.
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