O
dia que uma namorada pediu a um gênio da lâmpada para saber o que
seu respectivo pensava nos momentos de prática do 5 contra 1
Ricardo
Coiro
Avenida
Paulista, seis de setembro de dois mil e dois.
– Ai
meu dedão, caralho! – ela berrou, após chutar uma caixa de
papelão que continha uma lâmpada mágica dentro.
– Você
tem direito a um desejo! E seja rápida, meu bem, porque hoje meu dia
está bem cheio e não quero perder o próximo capítulo de Império.
– Morgan
Freeman?
– Não,
eu sou o Lázaro Ramos com maquiagem de velho. Claro que eu sou o
Morgan Freeman, bitch! E, acredite se quiser, agora eu estou fazendo
um “bico” de gênio da lâmpada. Cansaram de me escalar para
fazer o papel de presidente dos Estados Unidos no cinema. Fazer o
quê? É a vida! Mas vamos logo ao que interessa: já sabe o que vai
pedir?
Marcinha
apertou o lábio inferior com os dedos, pensou, pensou e pensou; e,
diferente das sortudas anteriores – que haviam pedido bundas sem
celulite, Yakults de dois litros e noites calientes com o Malvino
Salvador –, ela fez um estranho e inédito pedido:
– Quero
saber o que o meu namorado imagina quando está batendo punheta!
O
gênio Morgan então arregalou os olhos e chegou a pensar,
seriamente, em negar aquele desejo que só poderia terminar em
homicídio ou divórcio, porém, por não querer infringir as regras
daquele negócio milenar, ele apenas fez o que a moça pediu.
Um
milésimo depois, Marcinha se viu diante de uma longa fila de
mulheres; linha que terminava em uma porta na qual estavam gravadas
as seguintes palavras: “Punhetolândia do Maurício”.
– Que
porra é essa? – ela pensou, mas antes que tivesse a chance de
chegar a qualquer conclusão, reconheceu a própria irmã no final da
fila.
– Porra,
Cláudia, o que você está fazendo aqui?
– Ué,
eu estou apenas esperando o Maurício pensar em mim. E torcendo para
que ele não me deseje com um plug anal, como da última vez em que
estreei nos pensamentos dele.
– E
o que você está fazendo com essa camiseta molhada e sem sutiã,
hein?
– É
assim que ele gosta de me imaginar, mana.
– Você
é uma vagabu... – Marcinha tentou dizer, mas, antes de concluir o
insulto à irmã, uma voz robótica – como aquelas que costumamos
ouvir em embarques de aeroporto –, disse:
– Cláudia
Nunes, por gentileza comparecer à sala de materialização da
imaginação. Favor já entrar dançando aquele funk que você dançou
no último churrasco. Vá até o chão!
Marcinha
até pensou em impedir a irmã, porém, travou assim que reconheceu o
rosto da melhor amiga (Renatinha) em meio às moças da fila.
– Você
também? Não acredito! E só de fio dental? Que porra é essa!?
E
antes que a amiga começasse a se explicar, a voz robótica, mais uma
vez, fez a convocação:
– Renatinha
Rodrigues, corra já para a sala de materialização da imaginação.
O Maurício quer ver você beijando a irmã da Marcinha. Favor
colocar aquele vestido curtinho que você usou no último réveillon.
Então
Marcinha, incrédula, deixou a amiga partir, respirou fundo e
resolveu descobrir, uma a uma, quem eram as outras putinhas da fila.
– Quem
é você?
– Sou
a Solange, recepcionista da academia dele.
– E
você, sua piranha?
– Não
está me reconhecendo? Sou a Julia Paes, atriz pornô tupiniquim.
– E
você, sua velhota?
– Mãe
do Paulinho.
– Não
acredito! – Marcinha pensou, ao descobrir que Maurício tinha uma
tara pela mãe do melhor amigo. Mas continuou a investigação:
– E
você, quem é?
– Sou
a Amanda, a chefe dele.
– E
essa aí do seu lado, quem é?
– É
a Pri! Ele só nos chama juntas. Sabe como é, né? Os homens adoram
pensar em ménages.
E
assim Marcinha continuou, e a cada resposta que ouviu, mais chocada
ficou. Até que:
– Quem
é você?
– Sou
a Isa, ex-namorada dele.
– E
o que você está fazendo aqui – Marcinha berrou, antes de meter um
tapão na cara da moça, que logo foi chamada para um suruba com
gêmeas suecas de mamilos rosados e pererecas depiladas com precisão
cirúrgica.
Então
Marcinha, completamente encharcada de ciúmes, teve uma ideia maluca
e infeliz: resolveu entrar na fila e ficar lá, plantada, até que
Maurício resolvesse a convocar para alguma fantasia.
Desde
aquele dia (seis de setembro de dois mil e dois), Marcinha já viu
Maurício convocar, para a sala de realização da imaginação,
dançarinas de axé, uma porção de “gordelícias” e, até, uma
senhora de três tetas; porém, até hoje, não foi chamada. Nem para
assistir.
Pobre
Marcinha. Estaria bem mais feliz se tivesse feito um pedido mais
inteligente, como comer Nutella à vontade sem engordar. Ou nunca
mais ter TPM. Ou, até, quem sabe, se tivesse pedido para parar com
essa obsessão por aquilo que acontecesse em pensamentos, e em Vegas.
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