Por Manuel Bione, de Recife (PE)
Como diria o Barão de Itararé, a terra é redonda, mas está
ficando chata. Há certo tempo, eu publiquei no mui lido Papa-Figo uma pequena
lista com os tipos mais comuns de chatos que tenho encontrado vida afora. Aqui
vão mais alguns, afinal a lista, se não infinita, chega perto ali do ponto em
que duas retas paralelas se encontram.
O BARCHATO – É boçal ao extremo. Humilha o garçom, devolve
prato, só toma uísque em copo baixo com duas pedras de gelo. Exige o “choro”.
Se o prato demora ele reclama e se vem rápido demais, ele reclama também, pois
ainda estava degustando a entrada. E quando ele quer dar uma de entendido pra
cima de você? Se você pede uma cachaça com limão, ele determina que você está
estragando a pinga. Se você bota água de coco no uísque, ele vaticina a manjada
frase: “O homem passou dois mil anos para conseguir tirar o açúcar do uísque e
em dois minutos você estraga tudo!”.
O MANJADO ENOCHATO – Quando pede vinho, é outra tragédia
previsível. Depois de verificar atentamente o rótulo, cheirar a rolha, balançar
a taça, bochechar e fazer um bocado de mesura, determina que o vinho está
avinagrado e devolve. Uma vez, li uma entrevista com o dono do Fasano,
considerado o melhor restaurante do Brasil. Perguntado qual o vinho que ele
tomava. Ele respondeu que eram os devolvidos pelos enochatos que frequentavam
seu estabelecimento.
O INTELECHATO – Ele sabe tudo. Não consegue escutar uma
frase inteira, que discorda logo. De Einstein a Levi-Strauss, de Freud a
Spinoza – até discordando desses pensadores. Metido a traduzir “do original”,
inclusive cortando versos e frases dos autores, “que estavam sobrando”. Na
realidade, pega traduções já existentes e altera algumas palavras, pois de
língua estrangeira só sabe mesmo “The book is on the table”.
CINECHATO – Não te deixa assistir teu filme em paz. No
cinema fala ao celular. Conversa com a patroa sobre coisas que não têm nada a
ver com o que está passando na tela. Em casa, te cutuca ao “adivinhar” o que
vai acontecer na cena seguinte, sempre acompanhado com a expressão “quer
apostar?”. E se já assistiu ao filme, não se controla até revelar que o
assassino foi o mordomo...
O ENGRACHATO – Ele vai fazer piadas e trocadilhos infames a
todo custo para todos ouvirem – normalmente sem graça. Quer ser o centro das
atenções e para isso recorre ao pior meio que poderia. Ninguém ri de seus
gracejos. Mas não tem problema: ele mesmo ri e está feliz demais consigo mesmo
para notar os olhares recriminadores a sua volta.
O ECOCHATO – Junto aos politicamente corretos é o tipo que
mais se expande. Sabe tudo de efeito estufa, degelo das cordilheiras, de espécies
em extinção. Tudo se torna uma questão concernente à natureza e como salvá-la
do ser humano, esse predador degenerado. Certa feita, contei na mesa do
Barbosa, que há algum tempo ganhei um tatu congelado de um paciente e preparei
e comi com os amigos. Uma colega que estava na mesa me deu um esculacho da
goitana e até hoje não fala mais comigo.
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