Algumas das histórias são famosas e – entre a verdade e a
lenda – acabaram impressas na memória do samba. Em livros e em conversas de
botequim. Como a tragédia do compositor carioca Antonio Candeia Filho
(1935-1978). Temido e violento policial, após esbofetear uma mulher no bairro
da Lapa, ouviu dela uma praga. Uma semana depois, foi atingido por um tiro após
uma discussão de trânsito e ficou paraplégico. Sentado na cadeira, no entanto,
Candeia se regenerou e compôs alguns de seus sambas mais bonitos.
Ou o episódio da morte de Pixinguinha (1887-1973), dentro da
igreja Nossa Senhora da Paz no Rio de Janeiro e que emudeceu o desfile da Banda
de Ipanema no carnaval de 1973. Outras, mais atuais, são menos famosas e falam
do cotidiano de grandes nomes como Nei Lopes e Arlindo Cruz.
Um punhado desses casos saborosos do mundo do samba estão
reunidos pelo antropólogo carioca Marcos Alvito, esse boa praça aí em cima, no livro “Histórias do Samba –
De João da Baiana a Zeca Pagodinho”.
Em cem pequenas histórias, bem-humoradas e despretensiosas
no estilo e no rigor histórico, Alvito tenta mostrar o universo do samba
carioca do início do século 20 até hoje. O autor é professor de história da
Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisa a origem e o desenvolvimento
do samba no Brasil, destacando suas raízes africanas.
O livro é rápido e leve. Cada história é contada quase como
uma anedota, ainda que com aquele tom reverente, nostálgico e quase religioso
que os fãs de samba atuais mantêm em relação às velhas guardas. Exaltação
perdoada nesta época de carnaval.
No conjunto, as histórias dão conta de parte do imaginário
que compõe o universo do samba carioca. As feijoadas, os partideiros nos fundos
dos quintais das tias, os instrumentos peculiares, como o prato e a caixa de
fósforos, e os bares históricos.
Alguns temas inescapáveis também merecem verbetes, como o
caso dos compositores humildes obrigados a “vender” suas músicas, a proverbial
nostalgia dos velhos carnavais e a “polêmica” entre Noel Rosa (1910-1937) e
Wilson Batista (1913-1968).
Talvez o causo mais vezes contado da história da música
brasileira, a rixa opôs os dois grandes autores na década de 1930 em
provocações mútuas em forma de sambas. Entre o chumbo trocado estão pérolas
como “Rapaz Folgado”, de Batista, e “Palpite Infeliz”, de Noel.
Um dos méritos do simpático livro é contar história inéditas
de sambistas menos conhecidos, como Padeirinho e Antenor Gargalhada. E da nova
geração, como o caso do “empate histórico” entre o então jovem Zeca Pagodinho e
o veterano partideiro Aniceto do Império Serrano (1912-1993)
Nenhum comentário:
Postar um comentário