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quinta-feira, janeiro 25, 2018

No terreiro dos bambas


Algumas das histórias são famosas e – entre a verdade e a lenda – acabaram impressas na memória do samba. Em livros e em conversas de botequim. Como a tragédia do compositor carioca Antonio Candeia Filho (1935-1978). Temido e violento policial, após esbofetear uma mulher no bairro da Lapa, ouviu dela uma praga. Uma semana depois, foi atingido por um tiro após uma discussão de trânsito e ficou paraplégico. Sentado na cadeira, no entanto, Candeia se regenerou e compôs alguns de seus sambas mais bonitos.

Ou o episódio da morte de Pixinguinha (1887-1973), dentro da igreja Nossa Senhora da Paz no Rio de Janeiro e que emudeceu o desfile da Banda de Ipanema no carnaval de 1973. Outras, mais atuais, são menos famosas e falam do cotidiano de grandes nomes como Nei Lopes e Arlindo Cruz.

Um punhado desses casos saborosos do mundo do samba estão reunidos pelo antropólogo carioca Marcos Alvito, esse boa praça aí em cima, no livro “Histórias do Samba – De João da Baiana a Zeca Pagodinho”.

Em cem pequenas histórias, bem-humoradas e despretensiosas no estilo e no rigor histórico, Alvito tenta mostrar o universo do samba carioca do início do século 20 até hoje. O autor é professor de história da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisa a origem e o desenvolvimento do samba no Brasil, destacando suas raí­zes africanas.


O livro é rápido e leve. Cada história é contada quase como uma anedota, ainda que com aquele tom reverente, nostálgico e quase religioso que os fãs de samba atuais mantêm em relação às velhas guardas. Exaltação perdoada nesta época de carnaval.

No conjunto, as histórias dão conta de parte do imaginário que compõe o universo do samba carioca. As feijoadas, os partideiros nos fundos dos quintais das tias, os instrumentos peculiares, como o prato e a caixa de fósforos, e os bares históricos.

Alguns temas inescapáveis também merecem verbetes, como o caso dos compositores humildes obrigados a “vender” suas músicas, a proverbial nostalgia dos velhos carnavais e a “polêmica” entre Noel Rosa (1910-1937) e Wilson Batista (1913-1968).

Talvez o causo mais vezes contado da história da música brasileira, a rixa opôs os dois grandes autores na década de 1930 em provocações mútuas em forma de sambas. Entre o chumbo trocado estão pérolas como “Rapaz Folgado”, de Batista, e “Palpite Infeliz”, de Noel.

Um dos méritos do simpático livro é contar história inéditas de sambistas menos conhecidos, como Padeirinho e Antenor Gargalhada. E da nova geração, como o caso do “empate histórico” entre o então jovem Zeca Pagodinho e o veterano partideiro Aniceto do Império Serrano (1912-1993)

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