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quinta-feira, janeiro 18, 2018

Heróis de antologia: os mágicos magiares


Por Sílvio Lancellotti

Em 1949, Gustav Sebes, ministro de Esportes da Hungria, decidiu construir um time de futebol invencível. Depois de viajar a sua pátria, por 12 meses, na procura de jovens talentos, Sebes congregou todos os seus descobertos num único clube, o Honved de Budapeste. Deu-lhes postos militares, moradia, salários generosos, farta alimentação, assistência médica, apoio psicológico. Em 1950, o Honved conquistou o título nacional.

Em 1952, desenhada à sua imagem e à sua semelhança, a seleção da Hungria levou o ouro da Olímpiada de Helsinque, na Finlândia. Em 1953, numa excursão pela Europa, a Hungria ignorou a pompa do templo sagrado de Wembley e dilacerou o time da Inglaterra: 6 a 3. Numa revanche, em Budapeste, em 1954, reprisou a humilhação: 7 a 1. Os nomes dos craques magiares, como Ferenc Puskas, Sandor Kocsis e Zoltan Czibor, logo viraram sinônimo da categoria – numa época sem muitas estrelas. Naqueles idos, o elenco da Hungria era o único que se aquecia com antecedência antes das pelejas.

Mesmo sem nenhuma conexão com o chamado soccer, o governo dos EUA determinou que a sua incipiente CIA negociasse a defecção dos magiares. A Federação da Hungria, então, tinha um dirigente de dupla face, Janos Kantos, ou Janos Molgar, um provável espião. Caberia a Kantos/Molgar convencer Puskas & Cia a escapulirem para o Ocidente. Desconfiados, Puskas & Cia optaram por aguardar uma chance melhor. Além disso, desejavam conquistar a Copa da Suíça. Perderam a decisão por 3 a 2, fisicamente dilapidados pelo campo pesadíssimo e pela violência da Alemanha.

Dois anos depois, quando os tanques da URSS invadiram a Hungria, Puskas & Cia, em excursão com o Honved, ludibriaram a segurança da sua delegação e se refugiaram na Espanha. Puskas só retornaria à sua pátria em 1987. Kocsis e Czibor soçobraram em destinos mais cruéis. Artilheiro da Copa da Suíça, 11 tentos em cinco prélios, Kocsis se suicidou. E Czibor morreu louco. Ah, nunca mais a Hungria reuniria um elenco tão precioso...

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