Por Sílvio Lancellotti
Em 1949, Gustav Sebes, ministro de Esportes da Hungria,
decidiu construir um time de futebol invencível. Depois de viajar a sua pátria,
por 12 meses, na procura de jovens talentos, Sebes congregou todos os seus
descobertos num único clube, o Honved de Budapeste. Deu-lhes postos militares,
moradia, salários generosos, farta alimentação, assistência médica, apoio
psicológico. Em 1950, o Honved conquistou o título nacional.
Em 1952, desenhada à sua imagem e à sua semelhança, a
seleção da Hungria levou o ouro da Olímpiada de Helsinque, na Finlândia. Em
1953, numa excursão pela Europa, a Hungria ignorou a pompa do templo sagrado de
Wembley e dilacerou o time da Inglaterra: 6 a 3. Numa revanche, em Budapeste,
em 1954, reprisou a humilhação: 7 a 1. Os nomes dos craques magiares, como
Ferenc Puskas, Sandor Kocsis e Zoltan Czibor, logo viraram sinônimo da
categoria – numa época sem muitas estrelas. Naqueles idos, o elenco da Hungria
era o único que se aquecia com antecedência antes das pelejas.
Mesmo sem nenhuma conexão com o chamado soccer, o governo
dos EUA determinou que a sua incipiente CIA negociasse a defecção dos magiares.
A Federação da Hungria, então, tinha um dirigente de dupla face, Janos Kantos,
ou Janos Molgar, um provável espião. Caberia a Kantos/Molgar convencer Puskas
& Cia a escapulirem para o Ocidente. Desconfiados, Puskas & Cia optaram
por aguardar uma chance melhor. Além disso, desejavam conquistar a Copa da
Suíça. Perderam a decisão por 3 a 2, fisicamente dilapidados pelo campo
pesadíssimo e pela violência da Alemanha.
Dois anos depois, quando os tanques da URSS invadiram a
Hungria, Puskas & Cia, em excursão com o Honved, ludibriaram a segurança da
sua delegação e se refugiaram na Espanha. Puskas só retornaria à sua pátria em
1987. Kocsis e Czibor soçobraram em destinos mais cruéis. Artilheiro da Copa da
Suíça, 11 tentos em cinco prélios, Kocsis se suicidou. E Czibor morreu louco.
Ah, nunca mais a Hungria reuniria um elenco tão precioso...
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