Por Marcos de Vasconcellos
O Carlos Augusto Camargo foi visitar o Chaffic na sua casa
de Petrópolis. Chaffic era professor de matemática na Faculdade, um sujeito
moldado à antiga, arrogante, desdenhoso, debochava da nossa sagrada ignorância,
superior, encastelado numa sub-cátedra. Não sei como o Camargo o tolerava.
A criançada da casa, delirante e galopante, veio mostrar ao
Camargo o gatinho recém-chegado, um palmo, de felino ainda nos cueiros,
torturado pelo carinho desesperador com que o cercavam sem interrupção. Ao gato
chamou-se Pimpão.
– Aí – conta o ex-visitante – o Chaffic propôs uma partida
de pingue-pongue. Eu sou fissurado no jogo e imediatamente aceitei o desafio.
Nos primeiros quarenta minutos a partida estava equilibrada, mas na medida que
fomos esquentando o jogo foi ficando violentíssimo, com cortadas mortais de
parte a parte. Num dado momento, o Chaffic pegou a bola com absoluta perfeição
e deu um tiro que bateu na quina da mesa. O projétil, possuído pelo demônio,
tomou um efeito enlouquecido e eu, na tentativa de detê-los, dei um salto
gigantesco para trás e caí com os dois pés numa coisa fofinha: exatamente o
gato Pimpão.
– Foi apenas o começo do drama. Um veterinário que morava em
frente foi chamado às pressas e quando viu o gato estrebuchante fez aquele não
com a cabeça que corta qualquer esperança. O cara diz que o bicho tinha que ser
sacrificado, mas infelizmente estava sem a injeção indicada para aquela hora de
dor. A babá dos meninos, uma preta velha e fiel como uma cadela, associou-se
aos meninos no ódio coletivo que se formava ao meu lado, enquanto eu meio com
nojo, segurava os restos do Pimpão. Por fim, decidi afogá-lo, pois o Chaffic
recusou-se me emprestar a escopeta. O miserável do gato levou quase uma hora
para morrer.
E arrematou o drama:
– Eu ontem estava passando na rua 7 de Setembro, chegou um
senhor seríssimo para mim e disse mordendo os dentes: assassino! Era um dos
filhos do Chaffic...
A história do gato deve ser bem antiga.
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