Por Liduina Mendes, de Fortaleza (CE)
As gravadoras investem, os cantores se vestem e se revestem
de estratégias para emplacar o Fodástico Hit do Carnaval – mas o público ainda
define o jogo, seja pelo besteirol, leseira, protesto ou tédio, e a onda se
agiganta, se torna um viral e as celebridades assumem o leme, daí já foi. Nem
vou entrar ainda no mérito da polêmica de incentivo ao crime – fica para o
segundo bloco. Porque eu já usei essa expressão ”que tiro é esse...” em vários
posts e textos – vide página do Bazar Garimpo quem quiser conferir – como
elogio, lacre, arrasou, mitou, divou, antes de se tornar sucesso da nova
“filósofa contemporânea” Jojo Todynho... e nunca como apologia à violência.
Expressão de estilo já usada fartamente pra quem acompanha no Instagran o Hugo
Gloss, Alfinetei e outros perfis de notícias de “espuma glam”.
Pois bem, quem trabalha com mídias sociais – no caso eu
também – sabe que há marolas e grandes ondas, adorei aquela do “Logo Eu”...
“Quis me dar boa noite, Logo Eu, William Bonner”, “Pensou que iria me enganar,
Logo Eu, pode de sorvete com feijão dentro”, e seguiu o baile.
Jojo Todynho, funkeira de comunidade e nenhum padrão de
beleza convencional – teve peito, e bota peito nisso, dez litros e dá pra
chutar o balde que tem mais – e o mérito de ser ela mesma. Gravou um clip
barato e com amigos, tosco e explodiu: mais de 17 milhões de cliques no
Youtube. Caiu na boca dos famosos – Anitta, Nego do Borel, Giovanna Ewbank,
filhos do Luciano Hulk e outros já decoraram e cantaram a faixa por aí.
Virou meme – famosos e anônimos compartilham vídeos em que
se jogam no chão após a frase-título da música. Neymar colocou como frase de um
post, e todos só esperam o momento em que ele comemore um gol com a dita
coreografia – a exemplo do “Ai se eu te pego” que ganhou mundo. E o principal:
falaram mal. Criou polêmica.
Eu levo como brincadeira divertida, como uma gíria que
manifesta surpresa positiva sobre algo que viu. A foto nova do crush? Que tiro!
A roupa escolhida para a festa? Que tiro!
Diferente do funk “Só surubinha de leve”, do MC Diguinho,
que faz uma apologia ao estupro e que dispensa comentários – banido dos canais
da internet. “Que tiro foi esse?”, a exemplo do hit “Metralhadora”, da Banda
Vingadora – alguém lembra ainda? –, que balançou o carnaval de 2016, também vai
se esvair com as cinzas do carnaval, é descartável.
Resta Jojo Todynho aproveitar o lacre de passar em poucas
horas de mil seguidores, para 1,400 mil seguidores. Se alguém duvida da força
da internet – cega, torta, leiga ou emburrecida – se liga, porque a internet
para políticos, pode não dar um voto, mas tira todos! Derruba ditaduras, tem a
força de um tribunal relâmpago: condena e absolve em horas. Encontra pessoas
desaparecidas, denuncia maus policiais e ajuda na captura de bandidos e muito
mais.
É uma força avassaladora, temida por muitos, amada e odiada
por quase todos, cultuada por mais da metade do planeta. E como toda força, tem
facetas, uma delas no momento reflete o funk como hit do momento – engole o
choro – eu também lamento. Mas dou de ombros e deixo a onda chegar e ir embora,
como um tiro, exercitando meu tirocínio para princípios mais elevados, sem
esquecer do bom humor, da leveza de viver com as diferenças de coisas que não
concordo, mas que não me impede de ir até a varanda ver a banda passar na rua.
E saber por antecipação que nos trios elétricos desse ano,
vai ter um mar de gente caindo coreograficamente no chão ao som do hit “Que
tiro é esse, viado?”, mais da metade de um Brasil no chão, teleguiado pela Jojo
Todynho, que tá mandando melhor em seu reinado, que o atual presidente,
pretensos candidatos e afins, só curte o momento, não tem culpa se há espaço e
novos compositores não alçaram vôo. E espero que depois dos tiros, surjam nomes
legítimos para reinados administrativos que chamamos de República. Triste do
povo que precisa de heróis. Quero apenas novos cantores e compositores e um
candidato preparado. Aguardo agora a onda pós Carnaval.
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