Collor e Lula se
ofendiam diariamente na TV e no rádio. Em 2009, desembarcaram do avião
presidencial para se abraçar nas ruas de Palmeira dos Índios (AL)
Por José Casado
De novo, Collor e Lula são candidatos à Presidência.
Fernando Affonso, 68 anos, confirmou no fim de semana em Arapiraca (AL). Luiz
Inácio, 72 anos, será reafirmado pelo Partido dos Trabalhadores, sexta-feira em
Porto Alegre. Eram jovens promessas na política quando disputaram, 29 janeiros
atrás.
Collor construíra uma história de êxito na oligarquia de
Alagoas ─ um dos estados mais pobres, governado por seu pai 35 anos antes, no
rodízio entre senhores de engenho e “coronéis”. Trocou o governo estadual pela
aventura presidencial e entrou na campanha com um caixa de US$ 12 milhões,
coletado entre usineiros de açúcar e álcool, que beneficiara com uma década de
isenções fiscais.
Lula era a antítese. Exaltava a biografia na moldura épica
do migrante pernambucano que chegou ao Sul e ascendeu à elite urbana paulista,
depois de se arriscar na liderança de greves em desafio à ditadura, empresas e
à burocracia sindical cevada na tesouraria governamental desde a Era Vargas.
Foi o segundo operário e líder sindical a disputar votos pela Presidência, na
trilha aberta pelo cortador de mármore carioca Minervino de Oliveira, vereador,
ativista negro e comunista no Rio de 1930.
Era a primeira eleição presidencial direta depois de 21 anos
de regime militar. Com exuberância nos insultos, Collor e Lula conseguiram
ocultar dos eleitores as fragilidades de suas propostas para um país que
ingressava na democracia sob grave crise econômica (aluguéis de imóveis
aumentavam 866% ao ano).
Ofendiam-se diariamente, na TV e no rádio. Collor caluniava
Lula, acusando-o de planejar “luta armada”, “banho de sangue” e “guerra civil”,
sob “inspiração de Hitler e Khomeini”. Lula injuriava Collor, xingando-o de
“imbecil” nascido em “berço de ouro” de uma família que “mata trabalhador
rural”.
Collor venceu, enquanto ruía o comunismo do Muro de Berlim.
Renunciou antes de ser deposto por corrupção, aprisionado na moenda política
organizada por Lula e pelo PT. Passados 17 anos, em 2009, desembarcaram do
avião presidencial para se abraçar nas ruas de Palmeira dos Índios (AL): “Quero
fazer justiça ao Collor”, disse Lula. Comparou-o a Juscelino Kubitschek, cujo
governo deflagrou a expansão da indústria de metalurgia na periferia paulistana
─ onde surgiu o sindicalista Lula.
Collor foi absolvido pelo Supremo em 2014, por falta de
provas. Hoje é a vez de Lula num tribunal, em súplica contra a condenação a
nove anos e seis meses de prisão por corrupção. Ainda tem outros cinco
processos.
Dos quatro presidentes que o Brasil escolheu nas urnas desde
a redemocratização, dois acabaram destituídos (Collor e Dilma), um está no
banco dos réus (Lula) e o atual (Temer) precisou vencer três votações seguidas
(no TSE e na Câmara) para continuar no cargo e sustar seus processos por
corrupção até o fim do mandato, em dezembro.
No Supremo estão pendentes 273 inquéritos contra políticos,
por corrupção. Como Lula e Collor, todos ascenderam no ocaso da ditadura,
dominaram o poder sob a Constituição de 1988, mas naufragaram nas vagas
promessas aos eleitores sobre um país com horizonte bonito e tranquilo para as
utopias políticas que eles mesmos corromperam.
A Lava-Jato está expondo o retrato desse fracasso de
gerações.
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