Teve mesa grande na Granja do Torto, nesta segunda-feira,
dia 1º de julho. A presidente Dilma comandou importante monólogo com todos os
seus 39 ministros, com alguns dos quais ela nunca falou, segundo dizem – como
seria o caso de Moreira Franco, da Secretaria de Aviação Civil da Presidência
da República.
A verdade é que a presidente dispõe de ministros para todos
os gostos, tem vice-governador de São Paulo, tem ministro que já saiu e já
voltou, tem até ministro que brasileiro algum sabe de quem se trata.
Isso, é claro, não tira a importância da reunião de ontem.
Foi importante, muito importante mesmo, indispensável até.
E vai dar uma foto fantástica para tudo que é página de
jornal: aquele mesão imponente lotado de gente a perder de vista.
Uma beleza.
A ideia da presidente Dilma e dos que defendem o plebiscito
para definir os principais pontos da reforma política é que tudo esteja pronto
até o dia 5 de outubro próximo, de modo que as novas regras já possam valer nas
eleições do próximo ano.
Qualquer pessoa com um pouco de bom senso que reflita sobre
tais prazos observará de imediato que se trata de uma rematada loucura.
Isso quer dizer que o país teria os meses de julho, agosto e
setembro para que a Justiça Eleitoral organizasse e votasse o plebiscito, bem
como para o Congresso elaborar, discutir e votar a reforma eleitoral.
É impossível fazer alguma coisa decente nesse período.
A reforma política, polêmica por definição, vem sendo
protelada há décadas pelos políticos brasileiros, sempre temerosos das
inevitáveis mudanças em que ela vai implicar.
Uma reforma política feita em poucas semanas, a toque de
caixa, para poder ter o efeito eleitoral de curto prazo que seus elaboradores
pretendem, não pode dar em nada que preste.
Seria uma grande irresponsabilidade.
Vem aumentando dentro do governo, entre os assessores mais
próximos da presidente Dilma, a pressão para que ela intervenha com mão forte
na economia, cuja recuperação seria a principal esperança de reversão de um
quadro político hoje inteiramente desfavorável ao seu projeto de reeleição.
É preciso que o produto interno bruto volte a crescer, que a
indústria recupere seu vigor e que os preços, principalmente dos alimentos,
retorne a patamares aceitáveis.
Ninguém tem a receita completa de como deveria ser feita
essa intervenção, mas o principal ingrediente é uma unanimidade dentro do
governo: a demissão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, é o primeiro e
necessário passo para qualquer que seja a estratégia.
Só falta Dilma entender isso.
O fato é que teve o efeito de um tsunami entre os
petistas a pesquisa Datafolha divulgada no sábado passado e que mostrou uma
queda de 27% na aprovação da presidente Dilma em apenas três semanas.
Vários institutos de pesquisa já vinham detectando, antes
mesmo das manifestações nas ruas, uma tendência de queda na avaliação da
presidente que assustava, mas não chegava a aterrorizar.
Acreditava-se que o quadro seria reversível sem problemas de
maior porte se a economia começasse a reagir ou pelo menos se os preços ao
consumidor parassem de subir.
Aquela interpretação mostrou-se equivocada e o próprio Datafolha,
na primeira semana de junho já mostrava uma queda maior na popularidade da
presidente, que tinha descido de 65%, em março, para 57%.
Cabe registrar que nenhum dos institutos de pesquisa foi
capaz de detectar a insatisfação popular que logo veio a tomar conta das ruas
brasileiras.
De todo modo, já ali a pulga instalou-se firmemente atrás da
orelha dos petistas.
Mas ninguém esperava, mesmo diante das manifestações, que o
apoio a Dilma despencasse nessas proporções e, principalmente, que isso tivesse
ocorrido em todas as regiões brasileiras, em todas as classes sociais, em todas
as faixas etárias e níveis de escolaridade.
O próprio Datafolha observou que uma queda dessa dimensão só
havia ocorrido com o ex-presidente Collor, logo após o seu plano econômico que
confiscou a poupança da população.
Collor tinha caído 35 pontos percentuais de março a junho de
1990, despencando de 71% para 36%.
A presidente Dilma caiu os mesmos 35 por cento, no mesmo
período entre março e junho, indo de 65% para os atuais 30%.
O marqueteiro do PT e da presidente Dilma, o jornalista João
Santana, está com nova pesquisa na praça desde a última quarta-feira, já
avaliando o efeito das manifestações e da resposta da presidente à “voz das
ruas”.
Não se sabe se os resultados serão divulgados, mas
provavelmente – se a pesquisa for séria, como certamente será – não deverão ser
muito diferentes dos que foram divulgados no sábado, independentemente do
instituto ao qual tenha sido encomendado o estudo.
Um dos pontos que mais preocupou os petistas na pesquisa
Datafolha não foi tanto a grande queda na popularidade de Dilma, mas a soma
desse dado com a subida na expectativa de inflação e com a avaliação ruim do
desempenho da presidente diante dos protestos.
Sem falar no percentual de ruim e péssimo, que subiu de 9%
para 25% de março para cá.
A população deixa claro, nas pesquisas e nas ruas, que está
descontente com a economia, que aprova a reforma política, mas não a considera
a solução dos problemas, e que quer bem mais do que isso.
O povo está dizendo, enfim, que a sua agenda é bem mais
ampla.
De todo modo, ruas e pesquisas já fizeram com que passasse
do amarelo para o vermelho o sinal aceso no PT em relação ao pleito de 2014.
Mesmo porque essa última Datafolha, no que se refere à
intenção de votos, mostra que Dilma caiu de 51% para 30% e, se a eleição fosse
hoje, disputaria segundo turno com Marina Silva, que obteve 23%.
Ao ficar vermelho o sinal, os cardeais do PT voltaram a falar,
ainda em tom baixo, numa eventual candidatura do sumo pontífice Lula – o qual,
diretamente da África, onde permanece por uma semana numa visita que veio a
calhar, observa de longe o desenrolar dos fatos.
Embora, de lá mesmo, precisamente da Etiópia, já tenha
gritado alto e bom som que Dilma está cada vez mais candidata.
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