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domingo, julho 14, 2013

Povo sem dono


Fernando Rodrigues

Em 2005, ameaçado de impeachment por causa do mensalão, Lula intimidou alguns interlocutores diversos.

Acuado, convocaria a população para ir às ruas em seu apoio.

Dividiria o Brasil.

Lula e o PT tinham aquele poder.

Havia a consolidação dos programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, e a economia começava a entrar num círculo virtuoso interno, com a ajuda dos ventos externos.

Hoje, menos de uma década depois, o PT e Lula estão longe da condição de “donos do povo”.

A prova mais evidente dessa mudança foram as melancólicas manifestações de rua nesta semana.

As imagens dos atos mostravam gatos-pingados bloqueando estradas e ruas pelo país afora.

Pior: muitos deles foram remunerados para protestar.
A verdade é que CUT e Força Sindical, as duas maiores centrais de trabalhadores do Brasil, fracassaram de forma retumbante ao tentar colocar “o povo na rua”.

Ao lado da CUT nesse fiasco de quinta-feira esteve o establishment do PT, sonhando em ressuscitar o já enterrado plebiscito para a reforma política.

O “povo sem dono” que foi às ruas em junho – e nesta semana se recusou a atender aos sindicatos – é a principal fonte do desarranjo político aqui em Brasília.

Ao chegar ao poder, Lula aplicou uma tecnologia simples.

Chamava os partidos para conversar com um discurso cujo substrato era o seguinte: “Olha, vocês fiquem aí na fisiologia, vão ganhar alguns cargos e verbas. Mas quem tem voto na urna sou eu. Os eleitores fazem passeatas a meu favor. Em resumo, o povo é meu”.

Agora, os partidos estão no Congresso se perguntando: “Quer dizer que o PT não manda mais no povo? Então, por que eu deveria ajudar o governo?”.

Por enquanto, Dilma Rousseff e Lula estão sem respostas.

Torcem para a economia voltar a crescer e para “o povo” voltar a sorrir para o Planalto.

Mas esse é apenas um desejo, e não uma certeza.

Fernando Rodrigues é repórter em Brasília. Na Folha, foi editor de Economia, correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

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