Bono, do U2, canta Sunday Bloody Sunday no
estádio de Webley, durante o Live Aid
Thales de Menezes
“Hoje É Dia de Rock” era um programa da extinta TV Rio,
exibido aos sábados entre 1961 e 1965, que reunia artistas cantando para o
público jovem.
“Hoje É Dia de Rock” também foi título de peça de José
Vicente, montada em 1971, no Rio, inserida na chamada contracultura.
Hoje, a expressão Dia do Rock deve aparecer em TV, rádio,
jornais, internet e anúncios de operadora de celular.
Na verdade, a expressão exata será Dia Mundial do Rock.
Assim como o Dia da Secretária, criado para engordar o
faturamento das floriculturas na data, o Dia Mundial do Rock só serve para
incrementar promoções de gravadoras, shows e rádios especializadas.
Data com vocação estritamente comercial, sem vínculo com o
cada vez menos enaltecido espírito do rock.
E quem teve a ideia genial?
Pode ser classificada como criação coletiva e despretensiosa
de locutores da BBC.
Completa agora 28 anos.
Completa agora 28 anos.
Em 1985, o irlandês Bob Geldof, então vocalista da banda
fraquinha Boomtown Rats, resolveu organizar um concerto para arrecadar ajuda
aos refugiados na Etiópia.
Com apoio de Bono, Sting, Phil Collins e outros roqueiros
engajados, a coisa deu no megaconcerto de rock Live Aid, no dia 13 de julho.
Reuniu shows em estádios de Londres e da Filadélfia, com
astros como U2, Queen, David Bowie, Mick Jagger, The Who e até um Led Zeppelin
ressuscitado para a festa.
Na transmissão do evento, que durou 20 horas, os locutores
da rádio britânica começaram a chamar aquele de “o dia mundial do rock”.
Passado o impacto da mobilização, o termo sumiu do radar.
Nos anos seguintes, aos poucos, promotores aqui e ali passaram a usá-lo como gancho, agendando empreendimentos nessa data.
Robert Plant e Jimmy Page do Led Zeppelin no
Live Aid, em 1985
Será que o Live Aid, com participantes nada roqueiros como
Madonna, Sade e Kool & The Gang, tem tanta representatividade assim para
justificar esse galardão?
Outras datas na história poderiam ser lançadas como
candidatas ao Dia Mundial do Rock.
Três exemplos:
Três exemplos:
1) Um dia incerto em abril de 1951, quando o DJ Alan Freed
disse pela primeira vez, numa rádio de Ohio (EUA), a expressão “rock and roll” –
que significava “ir dançar e depois transar”, comum em canções de artistas
negros.
2) 5 de julho de 1954, quando Elvis Presley criou sua versão
acelerada do blues “That’s All Right, Mama”.
3) 9 de fevereiro de 1964, quando os Beatles se apresentaram
pela primeira vez em rede na TV americana.
Talvez não compense pensar em mais opções.
O rock não se presta a tentativas de transformá-lo em instituição.
O rock não se presta a tentativas de transformá-lo em instituição.
Papo de velho, provavelmente, mas rock é coisa de velho.
Em 1993, Eric Clapton agradeceu a inclusão de sua ex-banda
Cream no hall da fama da academia americana de rock com esse discurso: “Eu não
gostava dessa instituição, o Hall of Fame. Eu não gosto de instituições em
geral. Sempre achei que o rock and roll não pode ser respeitável.”
Falou e disse.
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