Luis Fernando Veríssimo
Há dias reclamei aqui da pouca atenção dada ao futebol do
Oscar, em contraste com a exaltação de outros jogadores da seleção.
Os elogios a Neymar, etc. não eram descabidos, mas a
importância de Oscar não foi reconhecida como, na minha opinião, merecia.
Entre parênteses: no texto sobre o Oscar usei, como exemplo
de jogador altruísta que joga mais para o time do que para a torcida, o
Servílio, acrescentando que não me lembrava qual era seu time, na sua melhor
fase.
Claro que choveu ajuda para meu cérebro combalido.
Servílio foi daquele Palmeiras chamado de “Academia” de tão
bom que era e formava com Tupãzinho uma dupla que rivalizava com a de Pelé e
Coutinho no Santos. Fecha parênteses.
Coisa parecida com o reconhecimento insuficiente do Oscar
aconteceu na Flip deste ano.
Sem dúvidas, a figura mais importante da festa era o Roberto
Calasso, mas nem na promoção prévia dos convidados ou no noticiário do evento
se deu o devido destaque à sua presença. Calasso foi o Oscar da Flip.
Ele é um daqueles italianos da linha do Umberto Eco (mas bem
melhor do que o protótipo), comentaristas culturais que combinam erudição
cornucópica com pensamento original e proporcionam uma leitura fascinante para
quem tiver paciência com alguns trechos obscuros, quando a erudição e a criatividade
se tornam um pouco demais – pelo menos para este cérebro combalido.
O romancista e ensaísta Italo Calvino e o crítico literário
Franco Moretti são do mesmo time.
A obra de Calasso (para ficar só nos livros traduzidos para
o português, todos, acho eu, pela Companhia das Letras) inclui As Núpcias de
Cadmo e Harmonia, um estudo da mitologia grega; Ka, sobre a mitologia hindu; K,
sobre o Kafka; As Ruínas de Kasch, um longo ensaio sobre a Europa dos séculos
18 e 19, concentrado na figura do estadista francês Talleyrand, que conseguiu
servir à revolução francesa, a Napoleão e à restauração dos Bourbons sem perder
a cabeça ou o prestígio; Os Quarenta e Nove Degraus e A Literatura e os Deuses.
É de Calasso um texto chamado A Loucura Que Vem das Ninfas,
que inclui o melhor comentário sobre o Lolita do Nabokov, já publicado.
Enfim, foi um dos melhores intelectuais que já pisaram nas
pedras de Paraty sem chamar muita atenção, embora, como Oscar, merecesse todas.
A mesa dele foi mediada pelo excelente Manuel da Costa
Pinto.
Este sabia com quem estava falando.
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