Alex Vieira e o último
número da revista
Henrique Fernandes Coradini
A Revista Prego é hoje um dos principais expoentes dos
quadrinhos underground brasileiros.
Em sua 6ª edição, a revista já contou com a participação de
mais de 100 artistas e foi lançada em diversos pontos do Brasil e de fora dele
(recentemente a revista foi apresentada ao público português e espanhol).
Seguindo uma temática que remete tanto aos quadrinhos
pirados da Zap Comix – publicação dos anos 60 capitaneada por Robert Crumb que
é considerada hoje a pedra fundadora dos quadrinhos underground – quanto aos
pôsteres para bandas de hardcore do californiano Raymond Pettibon – responsável
pelas célebres capas dos discos “My War” e “Slip it In” (entre outras) do Black
Flag, a Prego reúne o que há de mais ousado e criativo nos quadrinhos da língua
portuguesa.
Em uma conexão Porto Alegre/Vila Velha (ES), falamos com o editor
da revista, Alex Vieira.
Como é fazer
quadrinhos underground no Brasil? Que condições são encontradas por quem se
propõe a publicar materiais do gênero?
Alex Vieira: As condições são as mais precárias possíveis.
Na verdade, não é preciso um grande aparato para se produzir quadrinhos, mas
assim que ele está pronto a maior dificuldade é na parte da distribuição. Para
que uma publicação não encalhe é preciso muito empenho.
Com quantos artistas
conta a prego atualmente? Como funciona a seleção e como as decisões são
tomadas dentro da revista?
A.V.: Já participaram cerca de 100 artistas desde a número
um. Nós fazemos uma convocatória pela internet e assim convidamos novos
artistas para participar. Também fazemos convites diretos para alguns artistas.
Não temos uma equipe que trabalha full time na Prego (somente eu e mais um
assistente aqui na loja/estúdio), mas quando vamos fechar uma edição, várias
pessoas fazem parte do processo.
“Tô numa vibe foda” -
quadrinhos do gaúcho Diego Gerlach.
A revista está recém
na 6ª edição e já evoluiu muito em sua estrutura. Está sendo publicada com mais
páginas e com uma qualidade maior nos materiais. Como ocorrem essas melhorias
(que envolvem custos maiores) e de que forma o público reage a elas?
A.V.: A cada Prego eu procuro melhorar algo em relação a
edição anterior. A partir da Prego número 5 resolvi mudar o papel do miolo e da
capa pra dar uma nova forma à publicação, visto que se iniciava uma série de
publicações temáticas. Acredito que deu certo, pois foi muito elogiada, assim
como a última edição. No geral, a resposta do público tem sido boa.
A última edição da
revista Prego foi lançada em diversos estados do sudeste brasileiro e no sul.
De que forma vocês conseguiram atingir um público tão grande sendo que
normalmente publicações do tipo acabam limitadas ao espaço regional?
A.V.: Um lance que procuro deixar claro na Prego é que ela é
uma publicação meio nômade. Eu vivo no Espírito Santo, mas acredito que as
pessoas que participam da revista no sul por exemplo, fazem parte da publicação
tanto quanto eu, então eles podem fazer lançamentos e distribuirem a Prego por
aí. Todos os colaboradores tem direito a pegar a revista a preço de custo para
revendê-la em sua cidade. Além disso, procuro participar sempre de eventos
relacionados à cultura independente, publicação e artes visuais, aumentando a
nossa rede de contatos pelo mundo.
A 6º edição da
revista: "edição drogada".
E como surgiu a
oportunidade de lançar a Prego em Portugal? De que maneira a revista foi
recebida pelo público europeu?
A.V.: Já fazia algum tempo que eu estava em contato com a
Associação Chili Com Carne, de Portugal. Eles organizavam a Feira Laica, que acontecia
duas vezes por ano com e me convidaram para participar da Laica de Natal que
aconteceu no Espaço Maus-Hábitos na cidade do Porto. Escrevi um projeto para a
Secretaria de Cultura do Espírito Santo e consegui o financiamento das
passagens. Assim distribuí a revista por lá e conheci vários colaboradores,
editoras e selos que trocam material com a Prego até hoje. Esse ano pude voltar
a Lisboa e fizemos um lançamento da Prego #6 juntamente com o fanzine Mesinha
de Cabeceira, de Portugal. Rolou um bate-papo e foi bem legal. Também
participei do Gutter Fest em Barcelona, que foi um evento que aconteceu pela
primeira vez e reuniu autores independentes de diversas partes da Europa. A
recepção foi ótima, tinha gente de lá que já tinha acessado a revista e agora
teve chance de adquirir diretamente. Nessa última edição coloquei legendas em
inglês para facilitar esse intercâmbio.
Os quadrinhos da
Prego seguem uma estética particular. A psicodelia, que se encontrava em um
ponto de desgaste, parece ter encontrado renovação na estética punk. É correto
afirmar que a prego faz quadrinhos punk/psicodélicos?
A.V.: Nas últimas edições fui deixando de lado o slogan
inicial da revista, mas obviamente nossa veia punk e psicodelica continua
ativa. Não vou dizer que é correto afirmar que fazemos quadrinhos punks
psicodélicos para não nos prender somente a isso, mas também não vou negar que
os fazemos.
Indique outras
publicações independentes (ou não) interessantes para se conhecer os quadrinhos
underground. Podem ser tanto brasileiras quanto gringas.
A.V.: Entre no nosso site que você vai encontrar várias
publicações independentes nacionais e importadas além da Prego!
www.revistaprego.com
Obrigado pelo espaço!
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