Eberth Vêncio
Juro que li isto nos anúncios classificados de um jornal:
Político safado procura parceiros para um esquema, sem
compromisso emocional, só financeiro.
Adoro realizar fantasias, principalmente, as minhas:
eleger-me senador da república, bancar silicone para as amantes, morar numa
cobertura à beira da praia, comprar um loft defronte ao Central Park, andar de
jatinho, rir da cara do povo enquanto tomo capuccino num café em Paris.
Gozo de conchavos, sem frescura, até o final, e quantas
vezes você quiser.
Aceito a inversão de papéis: uma hora, corrupção ativa;
outra hora, passiva.
O fundamental é fazer tudo pelo prazer ao dinheiro.
Garanto satisfação total ou sua propina de volta, se assim
determinar o poder judiciário.
Durante campanhas políticas, sou malhado, tarimbado,
completíssimo: compro votos em cash ou encho o tanque do seu carro uma vez por
semana; você escolhe.
Uma vez eleito pelo voto direto do povo, aceito – mais que
isso – eu aprecio as falcatruas.
Vou penetrando nas entranhas do poder, devagarzinho, até o
talo, e sugo as verbas de gabinete até o fim, sem frescuras.
Abusado, eu adoro esconder dólares na cueca ou numa
meia-calça estilo arrastão.
Aliás, só de pensar em arrastão, já fico com a mão toda
molhadinha de propina, eu e toda a cadeia produtiva da corrupção que assola
estes rincões.
Tenho todos os acessórios requisitados para uma negociata de
alcova: maquinetas para clonar cartões de crédito, chupa-cabra, impressoras a
laser para fraudar RG, blocos de notas fiscais frias, câmeras ocultas para
filmar e extorquir gestores vacilões, contas correntes secretas, uma motosserra
para picar delatores.
Tenho os dedinhos atrevidos, já que o voto no parlamento é
secreto.
Atendo Eles, Elas, isso e aquilo, casais homoafetivos e
deputados homofóbicos da bancada evangélica.
Faço massagens no seu bolso até a carteira desaparecer, tudo
com o maior carinho, sem pressa, sem ressaca moral.
Quando o assunto é enriquecimento ilícito, tenho todo o
tempo do mundo.
Disponho de local próprio, agradável e discreto para
encontros: geralmente, garagens de prédios comerciais, cafezinhos do subsolo,
gabinetes oficiais em Brasília.
Acordo de cavalheiros: os celulares desligados e colocados
sobre a mesa.
Não gravo conversas secretas e não posto fotos
comprometedoras de conluio no facebook, a não ser que isto faça parte do seu
fetiche.
Para você que procura um algo mais, venha delirar nos meus
braços.
Vou te levar à loucura quando uma força tarefa da Polícia
Federal der uma batida na sua residência no meio da madrugada.
Vou te deixar molhadinho de suor e pânico.
Tenho uma boca deliciosa que adora difamar, delatar,
chantagear, pedir vistas de um projeto de lei na Câmara e fazer discursos
apologéticos, hipócritas, pelo fim da impunidade no país.
Faço uma defesa oral bem gostosa, negando até a morte todos
os indícios e acusações.
Se você preferir, também consigo permanecer calado, só falando
em juízo na presença de um advogado.
Com o apoio de um laranja, faço um delicioso desvio de
verbas orçamentárias a quatro mãos.
Pratico garganta profunda até o fim, enfiando goela abaixo
projetos lesivos à sociedade, durante sessões extraordinárias no meio da noite,
a toque de caixa.
Faço toques retos também: “Ou Vossa Excelência entra também
no esquema, ou lhe denuncio”.
Rabo preso é uma gostosura, você vai ver.
Possuo nível universitário, diploma comprado, e tenho larga
experiência em cova rasa, cova funda, e esfoliação corporal de terceiros.
Ou seja, arrancar o couro do povo é uma de minhas
especialidades.
Sinto extremo prazer nisto.
Sou super liberal.
Roubo porque gosto.
Tenho bumbum grande e uma ambição enorme.
Aceito, com o maior prazer, cartões corporativos ilimitados.
Adoro beijos, carícias, festas de confraternização de
deputados com prostitutas, notas de cinquenta dólares na carteira.
Sou tarado em concorrências públicas fraudulentas.
Sou guloso.
Não me satisfaço com os tradicionais 20% de propina.
Liga pra mim, você não vai se decepcionar: neste país, ao
contrário do cheque que eu acabo de lhe passar, o crime compensa.
Garanto atendimento 24 horas, desde que o jeton seja bem
dotado.
Adoro fazer um troca-troca: uma hora voto com o governo;
outra hora, com a oposição.
Declaro-me inocente, cristão, tenho boa aparência e pertenço
a uma família tradicional (há gerações os meus parentes roubam dinheiro
público).
Se pagar bem, transo sem camisinha de força.
Faço massagem prostática pelo SUS.
Sou bastante experimentado naquela fantasia governamental do
médico cubano traçando uma enfermeira sexy amazonense num posto de saúde
desabastecido de gazes, ataduras e medicamentos.
Só transo com clientes de extrema-direita e extrema-esquerda
que possuam extremo bom gosto.
Em matéria de formação de quadrilha, sou um furacão.
Atendo em escritórios políticos, gabinetes de parlamentares,
empresas fantasmas e prefeituras quebradas.
Grutinhas do amor também são ótimas para ferrar o povão: “Tu
me ensina a fazer renda, que eu te ensino a fraudar o Renda Cidadã”.
Ativo, passivo, mas, acima de tudo, compreensivo na hora de
rachar a grana com os companheiros de delito.
Sou muito bem-dotado em contatos nas esferas do executivo,
do legislativo e do judiciário.
Se a Polícia Federal devolver meu passaporte, em breve,
estarei disponível como acompanhante para viagens de negócios a paraísos fiscais.
Transo um sado-masô, embora prefira, por óbvias questões de
falta de foro íntimo, mais o sado do que o masô.
Gente, eu roubo sem dó nem piedade.
Sou especialista em dominação, especialmente da mídia.
Comigo vale tudo.
Ligue agora.
Garanto que você não vai se arrepender.
Eu, por exemplo, nunca me arrependi.
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