Uma droga conhecida como Molly conquistou uma nova geração
de profissionais conscienciosos que jamais viraram a noite dançando e costumam
fazer escolhas cuidadosas quanto a sua comida, seu café e suas roupas.
Mas a Molly não é exatamente nova.
Conhecida por causar sentimentos de euforia e por reduzir a
ansiedade, ela era conhecida como ecstasy, ou MDMA, nos anos 1980, quando foi
rapidamente adotada por operadores de Wall Street e outros frequentadores da
vida noturna de Nova York.
Mas, com o crescimento da demanda, cresceu também o uso de
adulterantes em cada pílula – cafeína, anfetamina, efedrina, cetamina, LSD,
talco e aspirina.
Quando chegou o novo milênio, a reputação da droga já estava
abalada.
Depois, em algum momento da década passada, ela retornou às
casas noturnas sob o nome “Molly” e foi apresentada como uma versão cristalina
e em pó do MDMA: pura e segura.
Uma mulher de 26 anos chamada Elliott, que trabalha com
cinema, levou Molly alguns meses atrás ao apartamento de um amigo, de onde eles
saíram para jantar no Souen – um popular restaurante macrobiótico, natural e
orgânico do East Village – e em seguida foram dançar.
“As drogas sempre me apavoraram um pouco”, diz. “Mas estava
curiosa quanto a Molly, que as pessoas dizem ser uma droga pura e divertida.”
“Eu provavelmente estou sendo ingênua, mas senti que não
estava colocando tantos produtos químicos no meu corpo”, garantiu.
Robert Glatter, médico no pronto-socorro do hospital Lenox
Hill, em Nova York, discorda.
O Dr. Glatter costumava passar meses sem ouvir sobre o uso
de Molly, mas agora recebe cerca de quatro pacientes ao mês exibindo os efeitos
colaterais usuais da droga: o ranger dos dentes, a desidratação, a ansiedade, a
insônia, a febre e a perda de apetite.
Sintomas colaterais mais perigosos incluem hipertermia,
convulsões incontroláveis, alta pressão sanguínea e depressão causada pela
queda súbita dos níveis de serotonina nos dias posteriores ao uso da droga, um
efeito apelidado de “terça-feira suicida”.
“No passado, os pacientes eram os jovens das raves, mas
agora recebemos cada vez mais pessoas na casa dos 30 e dos 40 anos que decidiram
experimentar a droga”, disse o Dr. Glatter.
Muita gente atribui o ressurgimento do ecstasy ao retorno da
electronic dance music, que infiltrou o som de cantoras pop como Rihanna, Kesha
e Kate Perry.
No Ultra Music Festival, em Miami, no ano passado, Madonna
foi criticada por perguntar ao público: “Quantas pessoas por aqui conhecem a
Molly?”
Ela disse mais tarde que estava falando de uma amiga, não da
droga.
Nos últimos meses, os rappers também adotaram a droga, com
referências a Molly em suas letras.
Rick Ross recentemente teve seu contrato publicitário com a
Reebok cancelado depois de um rap no qual falava que havia misturado a droga à
bebida de uma mulher sem que ela soubesse.
As pessoas que gostam de Molly, cujo preço varia de US$ 20 a
US$ 50 por dose, dizem que ela é uma droga socialmente mais aceitável que a
cocaína, por não causar vício físico.
Cat Marnell, 30, antiga diretora de beleza da xoJane.com,
que recentemente vendeu à editora Simon & Schuster um livro que fala de seu
vício em drogas, supostamente por US$ 500 mil, disse que “a Molly está na moda”.
Em referência à maconha e à cocaína, ela diz que “a cocaína
é meio suja e antiquada. Já a maconha tem cheiro forte e, por ser barata, tem
jeito adolescente”.
Mas Marnell rejeita a imagem reformada do MDMA, dizendo que
a Molly “continua a ser uma droga pesada”.
O MDMA, o metilenodioximetanfetamina, foi patenteado pelo
laboratório farmacêutico Merck em 1914 e não atraiu muita atenção antes dos
anos 1970, quando psicoterapeutas começaram a tratar pacientes com ele para
convencê-los a falar mais de seus problemas.
A droga chegou às casas noturnas de Nova York no final dos
anos 80 e no começo dos 90 havia se tornado a droga preferida das raves.
Para alguns, a Molly continua a ser uma substância mais respeitável
que outras drogas.
“Creio que as pessoas hoje sejam mais conscientes de onde a
cocaína vem e do que ela causa naqueles países”, diz Sarah Nicole Prickett, 27,
que escreve para os sites Vice e New Inquiry.
Ela define a cocaína como “uma droga sangrenta” e
caracteriza a Molly como “pura, divertida e de agradável sensação”.
Prickett, que se mudou de Toronto para Nova York no ano
passado, diz que compreende por que a droga ganhou popularidade na cidade.
“Minha impressão de Nova York era a de que todo mundo usava
drogas no trabalho e todo mundo usava anfetaminas”, diz. “Já a Molly causa uma
sensação de espontaneidade, o que é um sentimento incomum em Nova York”.
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