Ruy Castro
George Reeves, o
primeiro Super-Homem do cinema (1953-1957), não podia sair à rua.
As crianças o reconheciam, chutavam-lhe a canela para ver se
era mesmo de aço e ficavam desapontadas quando ele saía pulando num pé só.
Reeves morreu em 1959 com um tiro na cabeça, disparado por
uma namorada, um marido traído ou – versão oficial – ele próprio. Seja como
for, não foi uma morte apropriada para um super-herói.
Por causa disso, Hollywood levou 20 anos para voltar a
acreditar em Super-Homem.
Quando aconteceu, a escolha de Christopher Reeve (1978-1987)
para interpretá-lo parecia definitiva, não fosse o acidente que deixou Reeve
tetraplégico, em 1995.
Mas o homem se sobrepôs ao herói.
Nenhuma façanha de Super-Homem, nem a de girar a Terra ao
contrário para fazer voltar o tempo, se compara à atitude pessoal e pública de
Reeve diante da doença, lutando por si e por outros na sua condição, até o
desfecho, em 2004.
São só dois casos, mas tão contundentes que sugerem uma
mandinga sobre Super-Homem.
Outra personagem do cinema americano que também não parece
dar sorte é Vicky Lester, a protagonista de “Nasce uma Estrela” – foi o último
grande papel das três potências que a viveram: Janet Gaynor em 1937, Judy
Garland em 1954 e Barbra Streisand em 1976.
Reeves e Reeve eram Super-Homens à altura de seus melhores
desenhos nos gibis: maciços, de pescoço sólido e queixo quadrado.
Já Henry Cavill, o novo Super-Homem, é microcéfalo e tem
algum parentesco com Barbie.
Se passar à história, será só como o primeiro Super-Homem a
não usar a cueca por cima da calça.
Este é um mau momento para Super-Homem.
Ficou antipático saber que, com sua visão telescópica e de
raios X, ele pode não apenas ver a cor da calcinha de Lois Lane (tudo bem) como
ler os e-mails de Lex Luthor – e os nossos.
Ruy Castro é escritor,
jornalista e já trabalhou nos jornais e nas revistas mais importantes do Rio e
de São Paulo. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre
Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda.
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