Interessado em fazer da décima edição do festival um evento
sem precedentes, o jornalista Luiz Verçosa tomou para si a tarefa de convidar
pessoalmente todos os grupos folclóricos que já haviam se exibido no tablado do
Estádio General Osório.
A tarefa não foi bem sucedida porque muitos grupos
simplesmente haviam deixado de existir e muitos outros alegaram que não valia a
pena investir na brincadeira para receber um simples troféu pelo esforço
dispendido. A premiação em dinheiro, aparentemente, era a grande motivação de
muitas agremiações.
Para “forçar” os recalcitrantes a participarem da festa, o
matutino O Jornal começou a fazer essas cobranças indiretamente, como pode ser
visto na matéria intitulada “45 grupos típicos têm encontro marcado no tablado
do X Festival Folclórico”, publicada no dia 1º de junho:
Iniciamos,
hoje, o mês do X Festival Folclórico do Amazonas, realização que a Empresa
Archer Pinto, em combinação com o Governo do Estado, realiza anualmente para
alegria do povo amazonense. A concretização da realização do “Festão”, como foi
denominado o X Festival, foi a maior alegria do ano de 1966 para todos os
habitantes de Manaus. Retardando um pouco, na sua apresentação habitual, o
festival desse ano deixou uma grande expectativa em todos. Havia mesmo os que
diziam que não mais se realizaria o Festival. Porém, graças à colaboração do
governador Arthur Reis, o X Festival Folclórico do Amazonas aí está e é uma
realidade. Todo o povo amazonense espera, agora, a atenção dos dirigentes dos
grupos folclóricos, principalmente daqueles que há nove anos vêm participando
da maior e mais linda festa típica do Brasil.
AUXILIOS
– Deverá sair dentro de mais alguns dias os auxílios para os grupos folclóricos
inscritos no X Festival. Assim, todos aqueles que já estão devidamente inscritos
para a maior e mais linda festa típica do Brasil vão ter o auxílio prometido
pelo governador Arthur Reis, após o dia 4 de junho, quando as inscrições serão
encerradas.
SEC
DEVE COLABORAR – Há muitos anos, ou seja, nas primeiras fases do nosso festival
folclórico, os colégios, inclusive grupos escolares, vinham para o festival
trazendo conjuntos folclóricos bem ensaiados, que se transformaram em alegria
do povo. Entretanto, nos últimos três anos, foi completo o abandono, uma vez
que a Secretaria de Educação não proporcionou aquele incentivo, que sempre é
necessário nessas ocasiões. Vamos aguardar que nesse décimo festival, a SEC dê
o seu apoio ao Governo do Estado, que é um dos realizadores da grande festa
típica que todo o Brasil aplaude.
DATAS
ESCOLHIDAS – Com seu início marcado para o dia 19, este ano teremos onze dias
de competições, reunindo 45 grupos das mais variadas categorias. O desfile de
encerramento deverá ocorrer na tarde do dia 29 de junho, dia de São Pedro,
tradição em todos os festivais.
No dia seguinte, 2 de junho, o matutino O Jornal voltaria ao
mesmo assunto, com a matéria intitulada “Faltam 3 dias para o encerramento das
inscrições para o X Festival”:
O X
Festival Folclórico do Amazonas começa a preparar-se para receber as mais altas
autoridades do país. Na tarde de ontem, confirmaram suas presenças na maior e
mais linda festa típica do país, os senhores Pedro Aleixo e Adauto Lúcio
Cardoso, respectivamente Ministro da Educação e Presidente da Câmara Federal.
Por outro lado, deverá ser feito convite ao sr. Aldo Moura de Andrade,
presidente do Senado Federal, esperando que ambos compareçam à festa de
abertura do X Festival Folclórico do Amazonas.
Como
se vê, todo o Brasil, representado pelas suas mais altas autoridades, estará
presente à sua maior e mais linda festa típica, numa prova eloquente de que
realmente o Amazonas, no mês de junho, com o Festival Folclórico, transforma-se
na capital do país. Além destes, outros nomes estão na lista de convidados,
entre os quais se conta o sr. Ministro da Guerra, General Costa e Silva, que é
também candidato à Presidência da República, governadores de outros Estados,
embaixadores, etc. Todos aqueles, enfim, que se sentem atraídos pelo maior
espetáculo folclórico do Brasil, terão convites para estarem em Manaus, a
partir do dia 19 de junho, quando será realizada a abertura do “Festão”.
GOVERNADOR
PRESTIGIA A FESTA DO POVO – O governador Arthur Reis é um dos maiores
entusiastas do X Festival Folclórico do Amazonas, festival esse em que terá a
oportunidade de despedir-se de todo o povo amazonense, uma vez que para o ano
não estará mais no Governo do Estado. O governador Arthur Reis é o grande
incentivador que, temos certeza, estará diariamente aplaudindo os conjuntos que
subirem ao gigantesco tablado do X Festival para as competições que vão
escolher os melhores de 1966.
RELAÇÃO
DA COMISSÂO – Já estão escolhidos, devendo apenas serem convidados, os membros
da Comissão Julgadora, que serão em número de onze. A relação desses membros
deverá ser publicada no próximo sábado, dia 4 de junho, quando serão encerradas
definitivamente as inscrições.
FINAL
DAS INSCRIÇÕES – No próximo sábado, às 18 horas, serão encerradas,
definitivamente, as inscrições para os grupos folclóricos que desejarem
participar do X Festival Folclórico do Amazonas. Até o presente momento, 45
grupos já solicitaram inscrição e estão habilitados a receberem os auxílios a
serem dados pelo governador Arthur Reis dentro dos próximos dias.
LOCAL
DE ENSAIOS – Os dirigentes de grupos devem trazer á nossa redação, no horário
das 17 às 18 horas, o nome do local e o dia de seus ensaios, para que possamos
visita-los e, ao mesmo tempo, dar publicidade de seus treinamentos, que muito
interessam aos brincantes e aos aficionados dos conjuntos folclóricos.
CUXIMIARIBAS
– A Tribo dos Cuximiraibas deverá, este ano, ser uma das atrações do X Festival
Folclórico do Amazonas, contando com grande número de brincantes, fantasias
luxuosas e originais, dando um colorido bonito e alegre a quantos admiram e
aplaudem aquele grupo folclórico.
CORRE
CAMPO – Mais uma vez estamos apelando para que o bumbá Corre Campo venha para o
Festival Folclórico do Amazonas, neste que será o “Festão”. Os grandes grupos
não devem estar ausentes, principalmente os campeões. Todo o bairro da
Cachoeirinha espera pela presença do bumbá Corre Campo. Vamos trazer o bumbá. O
povo espera.
AVISO
URGENTE – Devem comparecer com urgência à nossa redação para tratar de assuntos
de seu interesse, os dirigentes dos seguintes grupos folclóricos: Pássaros
Bem-te-vi e Japiim, Tribos Iurupixunas e Manaú, Bumbás Pai do Campo e Corre
Campo, Garrote Teimosinho e Danças Regionais Tipiti, Caninha Verde, Imperiais,
Ciranda, Jacundá, Macaco Sauim e Camaleão.
Apesar dos reiterados apelos publicados nos dois jornais da
Empresa Archer Pinto, muitos grupos folclóricos preferiram brincar apenas nas
suas comunidades em vez de se apresentar no festival.
Com muito esforço, o jornalista Luiz Verçosa conseguiu a
inscrição de 41 grupos, que foram distribuídos em oito chaves, tal como no ano
anterior.
Bumbás: Caprichoso, Tira Prosa e Tira Teima.
Garrotes: Campineiro, Luz de Guerra, Pena de Ouro,
Dominante, Pingo de Ouro, Brinquedinho, Canarinho, Malhado, Veludinho, Dois de
Ouro e Treme Terra.
Pássaros: Corrupião e Japiim.
Tribos: Andirás, Iurupixunas e Caximiraiba.
Danças regionais: Gafanhoto, Peixe Vivo e Cacetinho
(Tarianos).
Danças Nordestinas: Primo do Cangaceiro, Mineiro Pau e
Cabras do Lampião.
Quadrilhas adultas: Flor Selvagem, Soçaite no Interior, Matutos
do Arraial, Glorianos no Roçado, Araruama na Roça, Quadrilha Escocesa, Caipiras
da Ipixuna e Quadrilha Sertaneja.
Quadrilhas infantis: Gaveanos no Roçado, Caboclinhos do
Amazonas, Arsenalenses na Roça, Caboclinhos de Brasília, Filhos do Lampião, Caipirinhas
da Ipixuna, Cantigas de Roda da Tia Júlia e Brotinhos do Eldorado.
Entre as novidades daquele ano, a Dança Nordestina Mineiro
Pau, a Dança do Gafanhoto (uma versão “inseticida” dos Cordões de Pássaros) e a
Dança Regional Peixe Vivo.
Originária da cidade de Diamantina (MG), a Dança do Peixe
Vivo representa uma pescaria na lagoa. Os cavalheiros iniciam a dança, munidos
de vara de pescar, seguindo-se as damas, pescando com rapixé (uma rede com cabo
usada na captura de cardumes).
Depois de fazerem os gestos correspondentes, guardam o
material e dançam aos pares, sem se enlaçarem, com movimentos rítmicos e passos
que se relacionam com os versos de uma conhecida música de domínio popular:
“Como pode o peixe vivo / viver fora d’água fria / como poderei viver? / como
poderei viver? / sem a tua, sem a tua, / sem a tua companhia / os pastores
dessa aldeia / já me fazem zombaria / por me verem andar sozinho / por me verem
andar sozinho / sem a tua, sem a tua / sem a tua companhia”.
O secretário de Educação e Cultura, André Araújo, e o
secretário de Imprensa, José Cidade de Oliveira, foram encarregados pelo
governador Arthur Reis de concederem o auxílio financeiro para os grupos
folclóricos mediante a emissão de cheque ao portador a ser resgatado no Banco
do Estado do Amazonas.
O escalonamento dos valores obedecia à seguinte tabela:
Bumbá, Cr$ 400 mil (cerca de R$ 10 mil, em valores de hoje). Garrotes, Cr$ 300
mil. Pássaros, Tribos, Danças e Quadrilhas adultas, Cr$ 250 mil. Quadrilhas
infantis e outros grupos, Cr$ 200 mil.
A ordem de apresentação do X Festival, com 41 grupos
inscritos e cerca de 4 mil figurantes, ficou assim definida:
Dia 19 (domingo) – Desfile de todos os conjuntos, a partir
das 15 horas, da Praça São Sebastião ao General Osório, como parte da abertura
oficial do festival. Abertura do festival pelo prefeito Paulo Nery. Saudação do
governador Arthur Reis. Apresentação da Comissão Julgadora. Subida ao tablado
dos grupos campeões do ano passado.
Dia 20 (segunda) – À noite. Garrote Pingo de Ouro, Quadrilha
Brotinhos do Eldorado, Garrote Pena de Ouro e Quadrilha Sertaneja.
Dia 21 (terça) – À noite.
Quadrilha Escocesa, Garrote Campineiro, Quadrilha Caipiras da Ipixunas e
Tribo dos Cuxumiraibas.
Dia 22 (quarta) – À noite. Quadrilha Matutos do Arraial,
Dança Regional Gafanhoto, Quadrilha Glorianos no Roçado e Garrote Veludinho.
Dia 23 (quinta) – À noite. Garrote Canarinho, Dança
Nordestina Primo do Cangaceiro, Dança Regional Cacetinho (Tarianos) e Bumbá
Tira Teima.
Dia 24 (sexta) – À noite. Dança Nordestina Mineiro Pau,
Garrote Brinquedinho, Quadrilha Soçaite no Interior e Garrote Luz de Guerra.
Dia 25 (sábado) – À tarde. Quadrilha Mirim Filhos de
Lampião, Quadrilha Mirim Gaveanos no Roçado, Quadrilha Mirim Caboclinhos do
Amazonas e Quadrilha Mirim Caipirinhas da Ipixuna. À noite. Quadrilha Araruama
na Roça, Pássaro Corrupião, Dança Nordestina Cabras do Lampião e Bumbá Tira
Prosa.
Dia 26 (domingo) – À tarde. Festa dedicada aos meninos do
Educandário Gustavao Capanema, Quadrilha Mirim Arsenalienses na Roça, Quadrilha
Mirim Caboclinhos de Brasília e Escola de Acordeão Santa Terezinha. À noite.
Quadrila Infantil Cantigas de Roda da Tia Júlia, Garrote Malhado, Tribo dos
Iurupixunas e Bumbá Caprichoso.
Dia 27 (segunda) – À noite. Quadrilha Flor Selvagem, Garrote
Dois de Ouro, Dança Regional Peixe Vivo e Garrote Dominante.
Dia 28 (terça) – À noite. Pássaro Japiim, Garrote Treme
Terra e Tribo dos Andirás.
Dia 29 (quarta) – À noite. Desfile de encerramento com todos
os grupos típicos e entrega dos troféus aos melhores do festival.
A Comissão Julgadora ficou assim constituída: desembargador
Mário Verçosa (presidente), desembargador João Rebelo Corrêa, professor
Garcitilzo do Lago e Silva, Gebes de Melo Medeiros (teatrólogo), Antonieta
Coelho (professora), capitão Juarez (representante do GEF), Herculano de Castro
e Costa (jornalista) e Guanabara Araújo (teatrólogo).
Seriam levados em conta os seguintes critérios de
julgamento: autenticidade folclórica (rigorosa observância dos enredos, passos
e cânticos às suas raízes folclóricas), guarda roupa (levar em conta se a
confecção dos vestuários e cores utilizadas estava de acordo com a tradição da
brincadeira), coreografia (avaliar a movimentação dos personagens dentro do
enredo), música e canto (observar a motivação, originalidade e coesão das
letras e melodias dos cânticos).
Os campeões e vice-campeões daquele ano foram os seguintes:
Bumbás: Caprichoso e Tira Prosa.
Garrotes: Luz de Guerra e Malhado.
Tribos: Andirás e Iurupixunas.
Pássaros: Corrupião e Japiim.
Dança Nordestina: Primo do Cangaceiro e Cabras do Lampião.
Outros Grupos: Maneiro Pau e Peixe Vivo.
Dança Regional: Cacetinho (Tarianos) e Gafanhoto.
Quadrilha Adulta: Soçaite no Interior e Flor Selvagem.
Quadrilha Mirim: Caboclinhos de Brasília e Filhos de
Lampião.
Prêmio Especial: Danças e Cantigas da Tia Júlia.
Campeã das Campeãs: Tribo dos Andirás, que levou para o tablado mais de 300 brincantes.
Rainha do Festival: Esther Pinheiro (Tribo dos Andirás)
Rainha de Beleza: Maria Denise Lopes (Tribo dos Iurupixunas)
Rainha Mirim: Nazareth Ramos (Caipirinhas da Ipixuna)
A Comissão Julgadora, por iniciativa própria, também
resolveu instituir naquele ano o “Prêmio Sepetiba”. Em sua justificativa para a
criação da comenda, registrou o seguinte:
Cipriano
Vieira foi o mais discutido amo de boi do passado. Ganhou fama e suas toadas
até hoje são lembradas. Era o “Sepetiba”, paraense radicado no Amazonas,
morando lá no Seringal Mirim, bairro do Boulevard Amazonas, onde o Mina de Ouro
tinha curral armado. Nas grandes lutas de rua, na parte dos desafios,
“Sepetiba” era infernal. Este ano, no decurso do X Festival, quis a Comissão
Julgadora prestar homenagem ao grande brincante, desaparecido em 1962, aos 55
anos de idade, a maior parte deles dedicado ao bumbá. Por conta disso, foi
instituído o “Prêmio Sepetiba”, que anualmente será concedido ao “mais animado
brincante de boi” que comparecer ao Festival Folclórico. Este ano, o prêmio
coube ao brincante Carlito, o Pai Francisco do garrote Veludinho.
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