Ex- superintendente da Superintendência do Desenvolvimento
da Amazônia (Sudam) e ex-chefe da Comissão de Obras do Exército na Amazônia, o
alagoano João Walter de Andrade ostentava a patente de Coronel da reserva do
Exército quando foi escolhido governador do Amazonas pelo presidente Emílio
Garrastazu Médici, em setembro de 1970, dentre os quadros da Arena que
pleiteavam o cargo.
No final de março, o jornalista Edmilson Rosas procurou João
Walter não na condição de novo governador já empossado, mas na sua (dele,
governador) condição de ex-presidente da Comissão Julgadora do VIII Festival
Folclórico, e falou das dificuldades que estava tendo para realizar o Festão do
Povo.
O governador garantiu que iria lhe ajudar e, para sair da
intenção ao gesto, manteve como prefeito de Manaus o advogado Paulo Pinto Nery,
um dos grandes entusiastas do festival. O repasse da ajuda de custo para os
grupos folclóricos ficou a cargo da Emamtur, que tinha como novo presidente o
jornalista Sinval Gonçalves.
Nesse meio tempo, os problemas administrativos na Empresa
Archer Pinto apenas se agravavam. Em 1968, os jornalistas Phelippe Daou e
Milton Magalhães de Cordeiro deixaram a empresa e, em companhia de Joaquim
Margarido, fundaram a Amazonas Publicidade (hoje Amazonas Distribuidora), com o
objetivo de implantar um novo conglomerado de mídia no Amazonas.
No mesmo ano, os jornalistas recebem a notícia de que o
Ministério das Comunicações iria abrir uma concorrência pública para implantar
uma emissora de televisão na cidade de Manaus. Nesta época, existia a TV
Ajuricaba (hoje Boas Novas Manaus), e entrava em fase de implantação a TV Baré
(hoje TV A Crítica).
Em julho de 1969, após examinarem detalhadamente o edital de
concorrência, Phelippe, Milton e Joaquim decidiram concorrer à licitação do
canal 5. Em 1970, a Amazonas Publicidade venceu a licitação e ganhou a outorga
do canal 5, tendo um prazo de dois anos para iniciar as suas operações. Foi
dado ali o primeiro passo para a implantação da TV Amazonas.
Os primeiros estúdios da emissora funcionaram na Avenida
Carvalho Leal, 1270, no bairro da Cachoeirinha, que hoje abriga a Fundação Rede
Amazônica, desde. O parque de transmissão da emissora foi construído na Avenida
André Araújo, 1555, no bairro do Aleixo, onde hoje funciona a sede da emissora.
No dia 10 de agosto de 1972, foi levado ao ar pela primeira vez o sinal do
Canal 5, em fase experimental.
Nessa época, o jornalismo “chapa branca” da Editora Archer
Pinto já vinha perdendo a liderança do mercado editorial amazonense para o
jornalismo investigativo e de denúncias praticado pelo jornal A Crítica, do
jornalista Umberto Calderaro Filho, e para o jornalismo sensacionalista e
popularesco do recém-fundado jornal A Notícia, do jornalista Andrade Neto, que
tinha como editor-chefe o jornalista Bianor Garcia.
A migração da maior parte das verbas publicitárias para as
emissoras de televisão e o crescimento da venda em bancas de A Crítica e A
Notícia foram os responsáveis diretos pela bancarrota de O Jornal e Diário da
Tarde, que deixariam de circular alguns anos depois.
Em 1971, entretanto, esse
quadro desolador ainda não podia ser previsto com alto grau de acerto.
A Comissão Julgadora do 15º Festival era formada pelo
desembargador João Rebelo Correa (presidente), Gebes Medeiros, Dilson Costa,
João Barbosa, Garcitilzo do Lago e Silva, Guanabara Araújo, Moacyr Andrade e
José de Castro e Costa.
O número de grupos inscritos continuou a diminuir. Dessa
vez, somente 34 grupos resolveram participar da competição:
Bumbás: Ás de Espada, Diamante Negro, Amazonas, Tira Teima,
Mina de Ouro, Tira Prosa e Corre Campo.
Garrotes: Luz de Guerra, Canarinho, Pena de Ouro, Malhado,
Turunu Preto e Vencedor.
Quadrilhas adultas: Araruama na Roça, Coronel Jão, Soçaite
no Interior, Cunhantan, Brotinhos de São Lázaro e Flor Selvagem.
Quadrilhas mirins: Brotinhos de São Lázaro e Brotinhos de
São Francisco.
Tribos: Manaú, Maués e Andirás.
Pássaros: Corrupião.
Danças Regionais: Maracatu Rural, Caninha Verde, Cacetinho
(Tarianos) e Camaleão.
Danças Nordestinas: Nordeste Sangrento, Cangaceiros do
Nordeste, Filhos do Primo do Cangaceiro, Cabras do Lampião e Cabras de Antônio
Silvino.
A única novidade daquele ano era a presença de um Maracatu
Rural (maracatu do baque solto), com seus lanceiros coloridíssimos, que
conquistaram uma legião de admiradores.
No dia 20 de junho, domingo, o matutino O Jornal publicou
uma matéria intitulada “Esta festa é do povo”:
Hoje é
dia de festa. Dia de inauguração de mais um sensacional Festival Folclórico do
Amazonas. A grande promoção de O Jornal e Diário da Tarde começará logo mais às
16h30, no Estádio General Osório, com o desfile de todos os grupos. Bumbás,
quadrilhas, tribos, pássaros, garrotes, danças regionais e outros conjuntos se
farão presentes, para alegrar as festas juninas de Manaus. Comando Militar da
Amazônia, através do general Álvaro Cardoso, Governo do Estado, com o coronel
João Walter, Prefeitura Municipal de Manaus, com o dr. Paulo Pinto Nery e outras
autoridades estarão presentes ao GO para prestigiar a grande festa.
A
solenidade de abertura será iniciada pelo prefeito Paulo Nery, que passará a
palavra ao governador em exercício Carvalho Leal e assim se declarará
oficialmente aberta a maior e mais bela festa folclórica do norte e nordeste do
Brasil, seguindo-se então o desfile dos diversos grupos. Esse desfile, cuja
ordem já está sendo publicada nesta página, seguirá até por volta das 20 horas.
Durante
os dias de exibição, segundo decidiu a comissão organizadora, tendo à frente o
sr. Edmilson Rosas, bumbás e tribos, além de outros grupos, terão um tempo
máximo de 40 minutos para suas apresentações. Os portadores de permanentes, por
seu turno, encontrarão instruções sobre como se conduzir durante o festival. Os
permanentes não dão direito á entrada para as tribunas especiais hoje e nem no
domingo vindouro, datas da inauguração e encerramento do Festão do Povo. Nos
demais dias, eles darão direito ao ingresso normal.
Hoje é
dia de festa. Folclore da melhor qualidade estará sendo apresentado no Estádio
General Osório. Depois teremos uma semana de atrações espetaculares. Aproveite,
leitor, e faça do mês de junho um mês de muito divertimento para você e toda a
sua família. O Festão é vosso!
No dia 27 de junho, domingo, o matutino O Jornal publicou
uma matéria intitulada “O Festão chega ao fim”:
O XV
Festival Folclórico do Amazonas chega hoje ao fim. Por sete dias, foi o assunto
da cidade. Foi o divertimento da população. O Estádio General Osório, todas as
noites, esteve tomado por incalculável multidão. Gente de todos os pontos de
nossa capital, afirmando e confirmando, pela sua presença, que o Festival lhe
pertence, é patrimônio valioso, é certame que não pode acabar.
Todos
estão lembrados das dificuldades que marcaram este Festival, e que foram
galhardamente vencidas. Pois bem. Tudo isso só serviu para atestar, com
eloquência, sobretudo para nossas autoridades, que o Festão é realmente do
povo. E, em sendo do povo, tem que continuar pelos tempos afora, como parte da
vida de nossa terra, crescendo sempre para, de ano para ano, atrai or mais
turistas nacionais e estrangeiros, com resultados dos mais positivos para o
desenvolvimento do nosso Estado.
Completamos
15 anos de Festival. Quinze anos bem vividos e bem realizados. A história do
Festival e seus objetivos são tão belos, quanto o ritmo e as fantasias dos
brincantes. Nessa história inscreve-se, como nota marcante, a solidariedade de
nossa população em todos os instantes, tornando possível a realização do
Festão.
Ainda
agora, cativou-se o apoio e o aplauso da massa humana todo tempo presente no
General Osório, assistindo, vivando e batendo palmas para os grupos que se
exibiram, que ofereceram os seus números, que fizeram as suas soberbas
apresentações, mostrando ao Brasil as nossas lendas e tradições, em noites
memoráveis de alegria e divertimento.
Somos
agradecidos a toda essa gente que compareceu ao local do Festão, somos gratos
aos que contribuíram para sua efetivação, particularmente ao Governo do Estado,
Comando Militar da Amazônia, Prefeitura de Manaus, Companhia de Eletricidade de
Manaus, Celetramazon, Banco do Estado do Amazonas e aos grupos típicos, a
todos, enfim, inclusive trabalhadores que participaram da armação do tablado,
da rede elétrica, do letreiro luminoso, do serviço de alto-falante, pois sem
eles não teria sido possível a realização do XV Festival, que chega ao término,
coberto de êxito e absoluto sucesso.
A Comissão Julgadora anunciou como vencedores os seguintes
grupos:
Bumbás: Corre Campo.
Garrotes: Malhado.
Quadrilhas adultas: Araruama na Roça.
Quadrilhas mirins: Brotinhos de São Francisco.
Tribos: Andirás.
Dança Nordestina: Cabras de Antonio Silvino.
Pássaros: Corrupião.
Outros Grupos: Cacetinho (Tarianos).
Dança Nordestina Mirim: Filhos do Primo do Cangaceiro.
Danças regionais: Maracatu e Caninha Verde.
Melhor Amo de Boi: Dário da Silva Fontes (Tira Prosa).
Melhor Amo de Garrote: Raimundo Nonato da Silva (Malhado).
Rainha do Folclore: Almira Péres (Caninha Verde).
Rainha de Beleza: Sandra Ferreira Dantas (Flor Selvagem).
Originalidade Feminina Mirim: Solange Medeiros dos Santos
(Brotinhos de São Francisco).
Originalidade Masculina Mirim: Edmilson Rosas Junior (Filhos
do Primo do Cangaceiro) e Raimundo Nonato Ferreira (Luz de Guerra)
Tão logo o festival foi encerrado, o coronel Jorge Teixeira,
responsável pelo Comando Militar da Amazônia, comunicou a Edmilson Rosas que a
partir do próximo ano não poderia mais emprestar o Estádio General Osório para
a competição por que o mesmo seria adaptado para atender os exercícios físicos
dos alunos de um colégio militar, que ele iria implantar na antiga sede do 27º BC.
Criado no governo do presidente Emílio Garrastazu Médici,
pelo Decreto-Lei nº 68.996, de 2 de agosto de 1971, o Colégio Militar de Manaus
(CMM) inaugurou suas atividades em 7 de abril de 1972, tendo como idealizador e
primeiro comandante o coronel Jorge Teixeira de Oliveira, sendo o oitavo colégio militar fundado no Brasil.
As instalações ocupadas desde a sua criação, cuja construção
data de 1863, já foi sede das seguintes Organizações Militares: 1º Grupo de
Artilharia de Posição (1863 até 1915), 45º Batalhão de Caçadores (1915 até
1919), 27º Batalhão de Caçadores (1919 até 1961), Quartel-General do Grupamento
de Elementos de Fronteira (1961 até 1969), e o Comando Militar da Amazônia
(1969 até 1971).
A partir de 1972, começou o nomadismo do Festival Folclórico
do Amazonas: Estádio da Colina, Estádio do Parque Amazonense, Bola da Suframa, CSU
do Parque Dez, Ferradura do Sambódromo, Cidade do Samba e Centro Cultural dos
Povos da Amazônia, onde está até hoje. Mas isso são histórias para outra
minissérie...
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