O Corre Campo
conquistou o bicampeonato na disputa entre bumbás
O sucesso de público e de crítica do 1º Concurso Junino
levou Bianor Garcia, no ano seguinte, a transformá-lo em Festival Folclórico do
Amazonas, com a escolha da Imperatriz do Folclore Amazonense. A vencedora da
disputa receberia uma passagem Manaus-Belém-Manaus, por meio de um navio da
SNAPP, ofertada pela Prefeitura.
Novos grupos foram convidados para participar da festa,
desde que obedecessem a um critério básico: possuir um mínimo de 40 brincantes,
incluindo o acompanhamento musical.
O prefeito Gilberto Mestrinho praticamente dobrou o valor em
dinheiro para a premiação dos vencedores, que passou de Cr$ 25 mil (R$ 40 mil)
para Cr$ 45 mil (R$ 72 mil).
Quando as inscrições foram encerradas, 22 quadrilhas, cinco
bumbás, três pássaros, duas tribos, duas danças regionais e o Brigue
Independência, de Educandos, estavam preparados para dar início à grande
competição.
Ficou estabelecido que, no dia da abertura do evento, todos
os grupos se concentrariam na Praça de São Sebastião e de lá sairiam em desfile
festivo pelas ruas da cidade até o Estádio General Osório.
Era uma rara oportunidade de a população ver todos os 35
grupos folclóricos reunidos pela primeira vez em uma gigantesca passeata, com
mais de dois mil figurantes.
A Comissão Julgadora contou com a participação de Mário
Ypiranga Monteiro (presidente) e dos professores Sebastião Norões, Alberto
Makarem, Marita Socorro e Francisco Batista, todos bastante familiarizados com
o folclore regional.
Um dos destaques da Tribo dos
Manauaras, que se apresentava pela primeira vez no festival
O jornalista Bianor Garcia também conseguiu, junto aos
comerciantes locais, o empréstimo de caminhões para o transporte de ida e volta
dos brincantes dos bairros mais afastados.
Os grupos inscritos ficaram assim distribuídos pelas
diversas categorias em disputa:
Bumbás: Corre Campo, Mina de Ouro, Flor do Campo (que
transferiu seu curral da Estrada do Aleixo para a Rua J. Carlos Antony, na
Cachoeirinha), Malhado (Praça 14) e Dominante (Santa Luzia).
Tribos: Manauaras (Praça 14) e Guaranis (Petrópolis).
Cordões de Pássaros: Gavião Real, Corrupião (São Jorge) e
Japiim (Aparecida).
Brigue: Independência.
Danças Regionais: Colégio Estadual do Amazonas e Paróquia de
São Raimundo.
Quadrilhas: Coronel Janjão, Caboclos do Andirobal, Primo do
Cangaceiro, Caipirada Normalista, Quadrilha Mirim da Escola Técnica de Manaus,
Quadrilha Adulta da Escola Técnica de Manaus, Cumpadi Justino (Educandos),
Carpinteiro Peres (Cachoeirinha), Sinhá Marquinha (Centro), Quadrilha do Céu
(Bairro do Céu), Coronel Zé Trindade (Matinha), Caboclinhos de Japuti
(Cachoeirinha), Labor (da Usina Labor, em Educandos), Santa Casa (Centro), Pai
João (Centro), Caipirada Sertaneja (Praça 14), Estrela do Sol (Boulevard
Amazonas), Nacional (Centro), Princesinha do Sertão (Centro), Lambretas
(Centro), Cunhantans Purangas (da Rua Ramos Ferreira, Centro) e Brotos de
Aparecida (do bairro de mesmo nome).
Das novas brincadeiras, a que mais despertava a curiosidade
da população era a Quadrilha do Cumpadi Justino, que era coordenada por dona
Isabel Rodrigues e tinha seu local de ensaio na Rua da Panair, no bairro da
Cidade Alta.
É que os nomes/apelidos dos casais de caipiras já tiravam
qualquer um do sério: Gabita e Nelsinho, Menequina e Jardilino, Zulmira e
Nicolau, Generosa e Benevenuto, Suzana e Mel com Terra, Veruca e Xuta, Baruca e
Bastião, Tutuquinha e Pasnaqueira, Justina e Jararaca, Gatinha e Cachorrão, Umbelina
e Fulgêncio, Rosinha Dores dos Prazeres (noiva) e Figustino Pechechéu de
Oliveira Pinto (noivo), Paçoquinha e Bonifácio, Caiçara e Jaboti, Febroinha e
Chiroba, Liberata e Orange, e assim por diante.
O famoso Brigue
Independência, do bairro de Educandos
A grande novidade deste 2º Festival foi a presença do Brigue
Independência, que a população manauara se acostumara a ver apenas durante o
período carnavalesco. A história do
brigue mais famoso de Manaus pode ser lida aqui.
No dia 22 de junho, domingo, na abertura do II Festival
Folclórico do Amazonas, as calçadas das ruas do centro da cidade, por onde o
gigantesco cortejo folclórico desfilou, ficaram apinhadas de gente, assim como
no entorno e nas arquibancadas do Estádio General Osório.
A Rádio Difusora do Amazonas e a Rádio Rio Mar transmitiram
o desfile ao vivo, de dentro do estádio, para todo o Brasil.
Após o desfile dos grupos pela pista de areia já dentro do
estádio, o prefeito Gilberto Mestrinho cortou a fita simbólica do tablado e
discursou rapidamente, dando início ao festival.
Em seguida, o jornalista Bianor Garcia chamou as candidatas
ao título de “Imperatriz do Folclore Amazonense” para desfilarem no tablado.
Após o desfile das oito candidatas, a Quadrilha Mirim da
Escola Técnica de Manaus, a Quadrilha Caipirada Normalista e a Quadrilha do Céu
se apresentaram para o público, dando início às disputas oficiais do festival.
Os demais grupos fariam suas apresentações nos dias
seguintes, de segunda a sábado, sempre a partir das 19 horas, em uma ordem
definida por sorteio.
No domingo, 29, todos deveriam fazer um novo desfile
coletivo da Praça São Sebastião até o Estádio General Osório, antes de o
resultado oficial da competição ser anunciado pelo presidente da Comissão
Julgadora.
O rei do coco da
embolada mostrou sua cantoria para os amazonenses
Por cortesia do empresário Mário de Oliveira, dono do Acapulco
Night Club, os cantores Jackson do Pandeiro e Ivon Cury se apresentaram para o
público manauara em dias alternados, durante o 2º Festival Folclórico.
Considerado um dos pioneiros do coco de embolada, Jackson do
Pandeiro, acompanhado da cantora Almira Castilho e de seu grupo musical, se
apresentou no tablado do estádio às 17 horas da segunda feira, dia, 22,
repetindo a dose na terça feira, dia 23, abrindo oficialmente as disputas de
cada noite.
O cantor Ivon Cury se apresentou na quarta feira, dia 24,
também no mesmo horário. Os dois cantores haviam sido contratados para fazerem
uma série de shows no Acapulco, a mais charmosa e frequentada casa noturna da
época.
O encerramento do 2º Festival Folclórico coincidiu de ser no
mesmo dia em que a seleção do Brasil disputava a final da Copa do Mundo, na
Suécia, contra os donos da casa.
Naquele dia 29 de junho, a manchete de O Jornal dizia o
seguinte: “Toda Manaus comparecerá à tarde de hoje ao General Osório para o
encerramento do Festival”:
Encerra-se
hoje, com chave de ouro, em Manaus, o II Festival Folclórico do Amazonas,
considerada a maior festa típica do país, organizada em conjunto com o dinâmico
prefeito Gilberto Mestrinho, Comando do 27º Batalhão de Caçadores, Indústrias
I. B. Sabbá, Companhia de Eletricidade de Manaus e tantos outros colaboradores.
As
últimas competições foram realizadas ontem à noite, apresentando-se à Comissão
Julgadora os grupos Quadrilha das Lambretas, Quadrilha Cunhantans Porangas,
Quadrilha Primo do Cangaceiro, Quadrilha do Cumpadi Justino e Quadrilha Brotos
de Aparecida.
Todos
os grupos folclóricos que se inscreveram em nosso II Festival desfilarão hoje,
novamente, a partir das 17 horas. Nessa ocasião, o prefeito Gilberto Mestrinho
fará a entrega de prêmios aos campeões de 1958, para o que ofertou 45 mil
cruzeiros.
Por
haver terminado tarde da noite as competições de ontem, somente hoje, por
ocasião do desfile no Estádio General Osório, a Comissão Julgadora (prof. Mário
Ipiranga Monteiro, profª Marita Socorro, prof. Sebastião Norões, prof.
Francisco Batista e prof. Alberto Makarem) fará a entrega do veredictum para se
conhecer os vencedores do II Festival.
Com a
graça de Deus, o Brasil sagrar-se-á hoje campeão do mundo, derrotando a Suécia
em seus próprios domínios. Acontecendo essa memorável glória para todos os
brasileiros, faremos um carnaval no próprio estádio, simultaneamente com o
encerramento do II Festival Folclórico.
O
governador Plinio Coelho já garantiu a presença da banda da Polícia Militar
tocando músicas carnavalescas e a Fábrica de Guaraná Andrade promete distribuir
refrigerantes.
Os
caminhões que levarão os grupos folclóricos para a concentração ao meio dia na
Praça São Sebastião ficaram assim distribuídos:
Bairro
de Petrópolis – Os grupos Gavião Real, Caboclos do Andirobal e Tribo dos
Guaranis usarão os caminhões do I. B. Sabbá.
Bairro
de Educandos – Brigue Independência e Quadrilha do Cumpadi Justino, os
caminhões da Usina Labor.
Bairro
da Cachoeirinha – Quadrilha Carpinteiro Peres, Corre Campo, Primo do
Cangaceiro, Flor do Campo e Caboclinhos do Jutapi, caminhões da Fábrica
Magistral e J. A. Leite.
Bairro
da Praça 14 – Tribo dos Manauaras, Coronel Janjão e Caipirada Sertaneja de
Pedro Mala Velha, caminhões da Eletro-ferro e Guaraná Tuchaua.
O dia em que o Brasil derrotou a Suécia por 5 a 2 e se
sagrou campeão mundial de futebol pela primeira vez ainda hoje deve fazer parte
das melhores lembranças de muita gente.
Não era pra menos. Depois do fiasco de 1950, quando perdeu a
Copa do Mundo para o Uruguai ao ser derrotado por 2 a 1, em pleno Maracanã,
jogando por um simples empate, a seleção brasileira estava mesmo precisando dar
a volta por cima e exorcizar aquele fatídico fracasso com juros e correção
monetária.
A opção pela Suécia para ser a anfitriã em 1958 foi tomada
com 10 anos de antecedência, no Congresso da Fifa realizado em Londres. A
confirmação oficial foi no Rio de Janeiro, em 1950. E acabou sendo a primeira
Copa do Mundo sem a presença de Jules Rimet: o presidente da Fifa morreu dois
anos antes, em 1956.
Dos 95 países filiados à Fifa, 53 se inscreveram. Depois,
cinco – Chipre, Egito, Formosa, Turquia e Venezuela – desistiram de lutar pelas
14 das 16 vagas para o Mundial (Alemanha, campeã, e Suécia, sede, já estavam
garantidas). As grandes surpresas ficaram por conta da não classificação do
bicampeão mundial, o Uruguai, e da campeã, Itália – Paraguai e Irlanda do Norte
ficaram com as vagas.
Pela primeira vez numa Copa do Mundo todos os países que
formam o Reino Unido estiveram presentes – Inglaterra, Escócia, País de Gales e
Irlanda do Norte. Depois, na Suécia, os 16 países classificados foram divididos
em quatro grupos de quatro seleções, e pela primeira vez houve sorteio dirigido
por regiões geográficas.
Cada grupo tinha um país sul-americano, um dos britânicos,
um do Leste Europeu e um da Europa Ocidental. Os dois primeiros de cada grupo
passavam de fase, e a partir daí o confronto seria mata-mata.
Foi a Copa em que o Brasil mostrou ao mundo o garoto de 17
anos que se tornou o maior jogador de todos os tempos. Foi a Copa em que o
Brasil mostrou ao mundo um gênio de pernas tortas cujos dribles eram
impossíveis de conter. Pelé e Garrincha eram reservas de Joel e Dida e se
tornaram titulares apenas no terceiro jogo do Brasil.
Dali em diante, mudaram o rumo da Copa e do futebol. Como
não lembrar os golaços do Rei do Futebol contra País de Gales e França? E o time ainda tinha outros craques que
entraram para a história, como Didi, Nilton Santos, Djalma Santos e Zito. E
jogadores com o carisma de Gilmar, Bellini, Vavá, Zagallo, Orlando.
Depois da estreia em que bateu a Áustria por 3 a 0 e do
empate por 0 a 0 com a Inglaterra, surgiram as vitórias consagradoras – 2 a 0
sobre a União Soviética, 1 a 0 sobre
País de Gales, 5 a 2 sobre a França, na
semi, e sobre a Suécia, na decisão.
Velocidade, dribles curtos, chutes precisos, cabeçadas
mortais... O que mais poderia caracterizar um bom atacante? Essas virtudes
faziam parte do repertório de Just Fontaine, centroavante francês, goleador da
competição com 13 gols em seis jogos. Essa marca do camisa 9 nascido no Marrocos
é um recorde em Mundiais que ainda não foi batido.
A Bola de Ouro, prêmio oficial da Fifa para o melhor jogador
do Mundial, só foi instituída em 1982. E a Copa de 1958 foi a que gerou mais
dúvidas sobre quem foi o grande destaque. O menino Pelé? Garrincha?
O consenso na época era de que o meia Didi, o Príncipe
Etíope, foi o grande condutor da Seleção que pôs fim ao complexo de vira-latas.
Com seus lançamentos, chutes de folha-seca e, principalmente, personalidade –
após o 1º gol da Suécia na final, botou a bola embaixo do braço e, confiante, a
levou até o círculo central –, acabou fundamental na conquista.
A Argentina fez na Suécia um de seus piores mundiais,
ficando em último lugar no Grupo 1 na fase de classificação. A seleção
sul-americana venceu apenas uma partida e sofreu duas derrotas. Uma delas ficou
na história: precisando vencer, o técnico Karel Kolski arriscou e escalou a
Tchecoslováquia com cinco atacantes. Resumo: goleada por 6 a 1, a maior sofrida
pela alviceleste em Copas do Mundo.
Pelé e Garrincha já haviam surpreendido o mundo quando
pisaram em campo para a final. O Brasil entrou favorito e vestindo azul e com
mudança na lateral direita: De Sordi, contundido, deu lugar a Djalma Santos,
que pela sua única atuação foi eleito o lateral da Copa. Mas antes de brilhar,
viu os suecos saírem na frente com Liedholm, aos quatro minutos.
Ainda na primeira etapa o Brasil virou: Mané na linha de
fundo, centro para Vavá. Duas vezes, aos 9 e 32. No segundo tempo, Pelé fez 3 a
1 com direto a chapéu no marcador, aos 10. Zagallo aumentou aos 23. A Suécia
diminuiu com Simonsson, aos 35.
Mas era dia do Brasil. O novo Rei do Futebol fechou o
Mundial com o quinto gol aos 45, e a Seleção finalmente conquistava o mundo
pela primeira vez.
É novamente o jornalista Bianor Garcia que conta:
O jogo
começou ao meio dia. Eu ouvia a irradiação na Rádio Baré, que estava em cadeia
com a Tupi, de São Paulo. A Suécia saiu na frente, marcando o primeiro gol.
Ficamos com o coração na mão. Não demorou o Brasil empatou. Josaphat Pires
abriu logo uma garrafa de cachaça. Bebeu todo mundo: eu, Rosa Maria, Jaime
Rebelo, Sebastião Lira, Amadeu, Maria do Céu. Quando o Brasil fez o segundo, eu
já estava completamente bêbado, pois até hoje não me acostumei a beber cachaça.
Bebo tudo, menos cachaça. Naquele momento, porém, a cachaça Cocal – a melhor da
época – desceu sem que eu sentisse.
Moral
da história: quando chegou a hora de reunir os grupos folclóricos para o
desfile de encerramento, às 4 da tarde, no General Osório, eu já estava
completamente desgovernado. Mesmo assim comandei o espetáculo. Naquela ocasião,
porém, era difícil saber quem não estava bêbado no estádio. Era o Brasil
campeão do mundo pela primeira vez.
No 2º Festival Folclórico do Amazonas, a Comissão Julgadora
escolheu os seguintes campeões:
Bumbá: Corre Campo.
Quadrilha: Primo do Cangaceiro.
Dança Regional: Colégio Estadual do Amazonas, que apresentou
pela primeira vez a Dança do Tipiti.
Cordão de Pássaros: Gavião Real.
Tribo: Manauaras.
Imperatriz do Folclore: Edenir Sanches Brito, da Tribo dos
Manauaras.
Destaque Especial: índio Ajuricaba, da Tribo dos Manauaras.
O Brigue Independência foi declarado campeão em sua
categoria porque não teve outro adversário.
Dessa vez, o público
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